Arquidiocese de Braga -

V Domingo do Tempo. Dia Nacional da UCP e início da Visita Pastoral ao Arciprestado de Braga. Homilia de D. José Cordeiro.

1. A dimensão contemplativa da vida

Da contemplação à ação e da ação à contemplação é o testemunho de Jesus. Como escutámos no Evangelho, Jesus está sempre a caminho, não para. Ora está na sinagoga, ora está na casa, ora está na rua. Jesus vai a casa de Pedro e André e cura a sogra de Pedro, aproximando-se, tomando-a pela mão e “levantou-a”, o mesmo verbo da ressurreição. O milagre é sinal esperançado de Páscoa.

No dia típico de Jesus e dos seus discípulos, “de manhã, muito cedo”, Jesus retira-se para um lugar ermo para rezar o próprio silêncio. Aqui se realça o valor da harmonia entre a ação e a contemplação. É no silêncio que Deus fala ao coração. Em boa hora, somos convocados a um “Ano da oração” em vista do Jubileu 2025. Com efeito sem oração não há missão.

Como Jesus expressa a necessidade de ir para outros lugares para, curar, pregar e rezar, pois foi para isso que Ele veio, também nós queremos ir atrás de Jesus nesta terceira etapa da peregrinação “visita pastoral” à nossa querida Arquidiocese de Braga (Amares, Barcelos, Braga).
Igualmente, como nos interpelou a segunda leitura, pedimos ao Espírito Santo que faça reviver em nós o entusiasmo ardente de Paulo que o levava a exclamar: «ai de mim se não anunciar o Evangelho! Fiz-me tudo para todos, a fim de ganhar alguns a todo o custo. E tudo faço por causa do Evangelho», na gratuidade, na liberdade e na proximidade fraterna.

2. Visita Pastoral – Eucaristia e comunidade

A Visita Pastoral é experiência de Graça. É verdadeiro “Caminho de Páscoa”, caminho sinodal, samaritano e missionário! Desejamos fazer com todos, em todas as comunidades paroquiais, com simplicidade e com alegria, esta peregrinação de esperança.

Juntos, queremos “partilhar o Pão para alimentar a esperança”, reconhecer Jesus ao partir do pão e reconhecermo-nos como irmãos e discípulos missionário de Jesus, conforme o lema do 5º Congresso Eucarístico Nacional, que terá lugar cá em Braga de 31 de maio a 2 de junho, acreditando que esta experiência da Visita Pastoral será verdadeiramente uma manifestação de fraternidade e esta é segredo para curar o mundo.

O partir do pão é o próprio Cristo que é partido no pão da Eucaristia, da caridade, no encontro com os pobres, os mais vulneráveis, mais frágeis, com todas as necessidades do mundo em que vivemos para que tenhamos este sentido de plenitude e sejamos capazes de, à luz das Escrituras, reconhecê-los em todas as pessoas e situações da comunidade neste tempo tão delicado.

Neste itinerário da “Eucaristia e Comunidade” sabemos que é a “Eucaristia que faz a Comunidade (a Igreja) e a Comunidade (a Igreja) que faz a Eucaristia”. Por isso, iniciamos a visita a cada comunidade com a celebração da Eucaristia, a oração das orações e sacramento da Páscoa, onde todos rezamos por todos.

Queremos dar graças, porque neste “caminho de Páscoa”, peregrinaremos juntos na Igreja sinodal em missão para testemunhar a esperança que nos abre os horizontes dos novos céus e da nova terra.

Para cada comunidade, na sua realidade humana e pastoral, queremos pedir que o Espírito de Jesus Cristo a todos (adultos, jovens, adolescentes e crianças) faça ver o caminho para o qual a sabedoria do Evangelho aponta no tempo concreto em que vivemos.

De Domingo em Domingo, de Páscoa em Páscoa, a Igreja caminha na história na fidelidade ao Evangelho. A Eucaristia é Vida essencial: nela e a partir dela podemos efetivamente levar Jesus a todos e todos a Jesus.

Que enorme sonho que faz sonhar em grande! O Bispo Hélder da Câmara, de feliz memória, acreditando na utopia de quem se envolve, escreveu: «Nunca se deve temer a utopia. Agrada-me dizer e repetir: quando se sonha só, é um simples sonho, quando muitos sonham o mesmo sonho, é já a realidade. A utopia partilhada é a mola da história».

3. Uma nova coreografia do saber

Hoje é o dia da Universidade Católica Portuguesa (UCP), nascida aqui em Braga há 57 anos, a partir da Faculdade de Filosofia da Companhia de Jesus, tem hoje 17 Faculdades e 4 campi distribuídos no território nacional (Lisboa, Porto, Braga e Viseu), com cerca de 20.000 alunos e mais de 2.000 professores e colaboradores.

As palavras do Papa Francisco proferidas no dia 3 de agosto na UCP, no feliz contexto da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, são fortemente interpeladoras: «Amigos, permiti que vos diga: procurai e arriscai. Neste momento histórico, os desafios são enormes, os gemidos dolorosos: estamos a viver uma terceira guerra mundial feita aos pedaços. Mas abracemos o risco de pensar que não estamos numa agonia, mas num parto; não no fim, mas no início dum grande espetáculo. E é precisa coragem para pensar assim. Por isso sede protagonistas duma “nova coreografia” que coloque no centro a pessoa humana, sede coreógrafos da dança da vida.

As palavras da senhora Reitora serviram-me de inspiração sobretudo quando afirmou que “a universidade não existe para se preservar como instituição, mas para responder com coragem aos desafios do presente e do futuro”. A auto-preservação é uma tentação, é um reflexo condicionado pelo medo, que nos faz olhar para a existência de forma distorcida. Se as sementes se preservassem a si mesmas, desperdiçariam completamente a sua força geradora e condenar-nos-iam à fome; se os invernos se preservassem a si mesmos, não existiria a maravilha da primavera. Por isso, tende a coragem de substituir os medos pelos sonhos: substituí os medos pelos sonhos, não sejais administradores de medos, mas empreendedores de sonhos!»

Na boa companhia de Santa Maria de Braga, dos santos Arcebispos, dos padroeiros e padroeiras das comunidades cristãs, prossigamos juntos e todos, peregrinos de esperança, para levar Jesus a todos e todos a Jesus.

+ José Manuel Cordeiro