Arquidiocese de Braga -

3 maio 2025

Cruzes na Cruz de Esperança

Barcelos, 3 de maio de 2025

Fotografia DM

1. A Cruz vai à frente

Em Ano Santo somos peregrinos de Esperança, e a cruz de Cristo vai à nossa frente a apontar o caminho. 

Jesus Cristo morre na cruz, mas a cruz não foi desejada por Ele; ela é, porém, a consequência do amor infinito e incondicional que Deus tem pela humanidade, pelo qual Deus respeita as decisões por nós tomadas. Assim, o Senhor respeitou as decisões tomadas pelas pessoas do tempo de Jesus, que ao rejeitarem o evangelho pregado por Cristo, O condenam à morte. 

Um Messias crucificado era um escândalo para os judeus, porque a sua concessão messiânica dizia que o Messias viria para estabelecer o domínio de Israel sobre as outras nações. Esse modo de pensar é percetível na reação de Pedro quando Jesus anuncia que será morto. Enquanto Deus, enquanto Messias, Cristo podia ter optado pelo caminho da exaltação. Poderia ter-se apresentado todo-poderoso, vergando todas as pessoas à Sua vontade. 

Todavia, Jesus Cristo «não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz» (Flp 2, 7-8). Jesus escolheu o caminho da humildade; esvaziando-se de qualquer pretensão de poder, colocou-se ao nosso nível, partilhando a nossa vida em tudo o que ela é. Por isso, a Igreja professa que Cristo é «verdadeiro Deus e verdadeiro homem»; é o ser humano por excelência. Num tempo em que se quer exaltar muitas figuras humanas como heróis a quem devemos imitar, a Igreja diz-nos que o único modelo que vale a pena imitarmos é Jesus Cristo. 

2. Tomar a Cruz e seguir Jesus

Jesus toma a sua cruz, aceitou-a, abraçou-a, ou seja, assumiu fazer a vontade do Pai com todas as consequências que essa decisão acarretou. E é este caminho que Jesus nos convida a fazer: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me». Assumir a sua cruz é assumir a vida com tudo o que ela contém: alegrias e tristezas, sonhos e desilusões, saúde e doença, tudo! Assumir a cruz não é masoquismo da nossa parte. Não desejamos o sofrimento pelo sofrimento. Aceitamos a vida em tudo o que ela tem, porque a cruz de Cristo é sinal de esperança para nós. 

A cruz de Cristo diz-nos que não estamos sós; diz-nos que o nosso Deus vive connosco todos os momentos, mesmo os mais dolorosos; a cruz de Cristo encerra em si a promessa de vida, a ressurreição que está prometida a todos os que acreditam em Cristo. «Mas isso é já o princípio de uma nova história, a história da renovação gradual de um homem, a história da sua transformação passo a passo, da passagem de um mundo para outro mundo, da confrontação com uma realidade nova, de todo desconhecida» (F. Dostoievski, Crime e castigo).

3. Levar esperança na Cruz florida

A cruz que hoje celebramos, e que logo levaremos em procissão pelas ruas desta cidade, é sinal de que a morte e o mal não têm a última palavra na vida do mundo. A Cruz é «fiel e redentora, árvore nobre, gloriosa» porque nela contemplamos o autor da vida, que morrendo ressuscita, e nos quer atrair a todos para o seu amor infinito. 

No mundo de hoje ainda há muitos crucificados: doentes, pobres, refugiados, marginalizados, pessoas exploradas e escravizadas por outros sem escrúpulos. Cristo está onde estão essas pessoas, e se queremos mesmo seguir a Cristo, se queremos mesmo honrar a cruz de Cristo e a sua entrega, então a nossa missão só pode ser uma: caminhar pela via da humildade, a via de Cristo, rejeitando todo o egoísmo e toda a pretensão de poder e domínio sobre os outros. Seguir a via de Jesus significa descentrar-se de si mesmo, colocando Deus e os outros no centro; significa ajoelhar-se para lavar os pés feridos pela vida, significa baixar-se para levantar os caídos, dizendo-lhes que a Esperança não engana, porque em Cristo há um amor que tudo cura e tudo supera. 

Que celebrarmos a Festa das Cruzes nos torne peregrinos do mundo levando a esperança aos que mais dela precisam. 

 

+ José Manuel Cordeiro

Arcebispo Metropolita de Braga