Arquidiocese de Braga -
20 abril 2008
Braga perde um lutador

Fotografia
D. Jorge Ortiga
\nTodos reconhecem que o peso da emoção nem sempre permite uma expressão adequada dos nossos sentimentos. Na verdade, a dor abafa a razão e as palavras custam a pronunciar e são sempre incapazes de transmitir o que preenche o coração.
A inesperada morte do cónego Eduardo de Melo Peixoto, acontecida em plena actividade apostólica, limita o conteúdo da singela homenagem que gostaria de lhe prestar. Creio, porém, que a sua vida se tornou um legado dirigido a crentes e não crentes. Alguns poderão deter-se em aspectos negativos ou polémicos. Há uma verdade que ninguém consegue contornar: em tudo procurou viver o seu sacerdócio, ou seja, gastando-se pelas causas em que acreditava para além dos aplausos ou das censuras.
É este legado que gostaria de sublinhar. Num mundo pautado pelo individualismo e relativismo, onde vale tudo desde que corresponda aos meus apetites ou desejo, importa reconhecer que existem valores que merecem a entrega da vida em coerência e audácia. É mais fácil adaptar-se e pretender agradar a todos. Urge que acreditemos em valores e que não recusemos a entrega das energias para que continuem a vigorar através duma fidelidade, em muitos casos sofrida.
Estar nas causas é exigente. O Cónego Melo soube estar em muitas e de um modo característico, como sacerdote e membro da Igreja. Com isto indica-nos o caminho da coragem cristã que quer estar em todas as causas humanas. Tudo nos interessa e a tudo devemos levar a matriz cristã, não como intromissão, mas como dimensão que dá consistência às causas humanas. Muitos não querem esta influência. O sacerdote sente-se enviado em serviço ao mundo, não para se identificar com ele, mas para lhe apontar perspectivas de transcendência.
Estar em todas as causas é sinónimo dum querer estar com todos os seres humanos. Sem esquecer a necessidade e a importância de uma amizade com alguns mais próximos, o Cónego Melo soube ser próximo de quem a ele recorria numa solicitude e preocupação por resolver os problemas. Todos são destinatários duma vida. Os pobres tornaram-se os predilectos num amor generoso e desinteressado.
Daí que a sua morte se torna um legado a cumprir. Nunca esqueceu ou ocultou o seu “estatuto” de sacerdote, o que solicita que a Igreja de Braga queira prosseguir na entrega a todas as causas humanas e às solicitações de todos. A recompensa pelos actos realizados torna-se secundária; a vida vale pela paixão que colocamos na dedicação. Os frutos acontecem sempre para quem sabe semear.
A Arquidiocese e a Cidade de Braga perderam um lutador e um sonhador. Quer concordemos, quer não, permanecerá uma obra realizada com dedicação e amor às causas em que acreditou. A Igreja de Braga agradece a Deus o ter tido nas suas fileiras este sacerdote. Obrigado Cónego Eduardo de Melo Peixoto.
Braga, 19.04.2008
† D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga,
in "Diário do Minho", 20/04/2008
A inesperada morte do cónego Eduardo de Melo Peixoto, acontecida em plena actividade apostólica, limita o conteúdo da singela homenagem que gostaria de lhe prestar. Creio, porém, que a sua vida se tornou um legado dirigido a crentes e não crentes. Alguns poderão deter-se em aspectos negativos ou polémicos. Há uma verdade que ninguém consegue contornar: em tudo procurou viver o seu sacerdócio, ou seja, gastando-se pelas causas em que acreditava para além dos aplausos ou das censuras.
É este legado que gostaria de sublinhar. Num mundo pautado pelo individualismo e relativismo, onde vale tudo desde que corresponda aos meus apetites ou desejo, importa reconhecer que existem valores que merecem a entrega da vida em coerência e audácia. É mais fácil adaptar-se e pretender agradar a todos. Urge que acreditemos em valores e que não recusemos a entrega das energias para que continuem a vigorar através duma fidelidade, em muitos casos sofrida.
Estar nas causas é exigente. O Cónego Melo soube estar em muitas e de um modo característico, como sacerdote e membro da Igreja. Com isto indica-nos o caminho da coragem cristã que quer estar em todas as causas humanas. Tudo nos interessa e a tudo devemos levar a matriz cristã, não como intromissão, mas como dimensão que dá consistência às causas humanas. Muitos não querem esta influência. O sacerdote sente-se enviado em serviço ao mundo, não para se identificar com ele, mas para lhe apontar perspectivas de transcendência.
Estar em todas as causas é sinónimo dum querer estar com todos os seres humanos. Sem esquecer a necessidade e a importância de uma amizade com alguns mais próximos, o Cónego Melo soube ser próximo de quem a ele recorria numa solicitude e preocupação por resolver os problemas. Todos são destinatários duma vida. Os pobres tornaram-se os predilectos num amor generoso e desinteressado.
Daí que a sua morte se torna um legado a cumprir. Nunca esqueceu ou ocultou o seu “estatuto” de sacerdote, o que solicita que a Igreja de Braga queira prosseguir na entrega a todas as causas humanas e às solicitações de todos. A recompensa pelos actos realizados torna-se secundária; a vida vale pela paixão que colocamos na dedicação. Os frutos acontecem sempre para quem sabe semear.
A Arquidiocese e a Cidade de Braga perderam um lutador e um sonhador. Quer concordemos, quer não, permanecerá uma obra realizada com dedicação e amor às causas em que acreditou. A Igreja de Braga agradece a Deus o ter tido nas suas fileiras este sacerdote. Obrigado Cónego Eduardo de Melo Peixoto.
Braga, 19.04.2008
† D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga,
in "Diário do Minho", 20/04/2008
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