Arquidiocese de Braga -

14 dezembro 2020

É a hora de repartir esforços - Um novo mundo que vem?

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Foto: Daan Stevens

Nota da Comissão Justiça e Paz – Braga.

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O nosso país, como o mundo inteiro, vê-se hoje confrontado com uma crise económica e social de uma gravidade sem precedentes. Essa crise provocada pela pandemia traduz-se, para muitos, em desemprego, perda total ou muito substancial de rendimentos e privação da satisfação de necessidades básicas, como a alimentação.

As desigualdades que já anteriormente marcavam a nossa sociedade tendem a agravar-se, pois, como revelam vários estudos, são os mais pobres quem, de um modo geral, mais sofre com esta crise.

A crise não atinge todos por igual e há quem não sofra perdas substanciais de rendimentos. A estes é pedido um esforço de solidariedade, também ele sem precedentes, que permita minorar os seus efeitos, e ao mesmo tempo pensar novas políticas e práticas que dignifiquem a vida humana no seu todo, desde o trabalho, à educação, à cultura, em suma, à qualificação ecológica da existência humana.

O trabalho está ao serviço do bem comum social e da pessoa humana entendida na sua integridade. Criar novos postos de trabalho, manter os já existentes, e, sobretudo mudar para uma mentalidade que ponha sempre no centro a pessoa humana e não uma lógica meramente económica são um antídoto contra o individualismo. Impõem-se, as palavras de S. João Paulo II, fazer funcionar “a imaginação da caridade”.


Como afirmou o Papa Francisco, nesta crise «estamos todos no mesmo barco e ninguém se salva sozinho». A coesão social é necessária, hoje mais do que nunca. Só a partilha equitativa dos esforços que nos são exigidos garante essa coesão.

Se não nos unirmos, se não olharmos para os outros como o nosso próximo, como pessoas que têm em si mesmas um valor único, que merecem respeito, compreensão, proximidade, ainda que se supere a crise sanitária, permanecerão as feridas humanas de um “darwinismo social” subtil que tudo reduz à lei do mais forte, do mais saudável ou do mais habilitado. Na verdade, só uma aliança intergeracional, que assuma verdadeiramente a unidade na diferença humana, poderá suscitar o nascimento de um novo modo de ser, aprendendo quotidianamente o difícil dom de sermos uns para os outros.

No entanto, a dor e o sofrimento unem. Nota-se agora que, muitos vizinhos que antes não se conheciam estejam unidos por laços de amizade, uma vez que se ajudaram nos momentos de maior emergência.

O trabalho é uma dimensão essencial da vida social. A crise sanitária causou uma crise laboral de grandes proporções. Os desafios que se apresentam são muitos e urgentes. Nas circunstâncias atuais, ganham especial relevo algumas características do trabalho, que podem suavizar as consequências negativas da crise. Penso, em primeiro lugar, no espírito de serviço. O trabalho está ao serviço do bem comum social e da pessoa humana entendida na sua integridade. Criar novos postos de trabalho, manter os já existentes, e, sobretudo mudar para uma mentalidade que ponha sempre no centro a pessoa humana e não uma lógica meramente económica são um antídoto contra o individualismo. Impõem-se, as palavras de S. João Paulo II, fazer funcionar “a imaginação da caridade”.

A situação de muitas sociedades ficou alterada depois deste longo sofrimento da humanidade. Se justiça é “dar a cada um o que é seu”, é necessário que quem tem a responsabilidade de tomar decisões na vida social exercite essa “imaginação da caridade”. Caridade que implica realizar bem o trabalho de que estamos incumbidos, posto ao serviço das necessidades dos outros, que neste momento se tornaram mais prementes. Trabalhar bem é tirar todo o partido possível das nossas capacidades – na família, na empresa, na escola, em todos os âmbitos da atividade humana – para manifestar proximidade e superar com amor o “distanciamento social” físico que as circunstâncias impõem.

De salientar o drama incomensurável dos bárbaros ataques de Cabo Delgado, em que comunidades inteiras têm deixado tudo (o pouco que é seu!) para trás para fugir à morte, em que o número de vidas perdidas em cada ataque violento é abafado nas notícias que apenas exploram a pandemia que a todos condiciona a vida, dando-nos a falsa sensação de que tais atrocidades longe das câmaras se podem relativizar. Os cristãos não podem ficar indiferentes! Também aqueles irmãos em Moçambique ou tantos outros que sucumbem à fome são “o nosso próximo”.

Confiemos, por isso, na ação de todos e de cada um e, através de uma das muitas respostas solidárias que a Arquidiocese de Braga possui, sensibilizemos especialmente para a importância de contribuirmos para o Fundo Social Diocesano, com o nome “Partilhar com Esperança”.

 

Braga, 13 de Dezembro de 2020
Comissão Justiça e Paz – Braga