Arquidiocese de Braga -
3 janeiro 2022
Santa Maria Mãe de Deus
Homilia de D. Nuno Almeida, Bispo Auxiliar de Braga, na Sé, a 1 de Janeiro de 2022.
Introdução
Iniciamos, no regaço de Santa Maria Mãe de Deus e nossa Mãe, O novo ano de 2022, e no Dia Mundial da Paz.
Com muita alegria a todos saúdo com as belas palavras evangélicas: A Paz esteja convosco!
Que haja paz no coração de cada um e de todos nós, que recebemos, em Cristo, a gloriosa liberdade dos filhos muito amados de Deus!
Que haja paz em cada família, através do diálogo entre as diferentes gerações, que a família assuma a missão de educar e haja trabalho digno para todos. Que as nossas famílias se mantenham unidas por um laço indissolúvel de amor místico, realista, oblativo e belo!
Que haja paz nas nossas paróquias, movimentos, arquidiocese, no nosso país, no nosso mundo, o planeta onde Deus nos pôs a morar e que devemos cuidar com solicitude!
Homilia
A Liturgia da Palavra desta solenidade e a Mensagem do Papa Francisco para este Dia Mundial da Paz sugerem-nos três atitudes para começarmos bem e com alegria um novo ano: contemplar, ousar recomeçar, construir a paz.
1. Contemplar! «Todos os que ouviam, admiravam-se do que os pastores diziam» (Lc 2, 18). Não nos habituemos ao Natal. Deixemo-nos surpreender pelo mistério do Deus Menino, que nasceu para nós, pobre de tudo e rico de amor. Este é o dia para nos maravilharmos, permanecermos em contemplação diante da Mãe de Deus. Tal é o mistério que celebramos hoje e como ele suscita uma maravilha infinita: Deus, através da maternidade divina de Maria, ligou-Se à nossa humanidade para sempre. Deus e o homem unidos para sempre, no mesmo caminho: eis a mais bela notícia no início de mais um ano.
2. Ousar recomeçar: «Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido» (Lc 2,20). Os pastores regressam cheios de Deus, cheios de alegria, por um caminho novo, porque quem se encontra ou se deixa encontrar pelo Senhor não pode senão recomeçar, renascer.Recomeçar é renascer partir do Alto, a partir de dentro, do coração, e a partir de um olhar fraterno e reconciliado para com os que estão à nossa volta. A vida melhor que sonhas para a tua vida, para a tua família, para a tua Igreja, começa em ti, começa por mim, se ousarmos recomeçar!
3. Construir a paz. Celebramos o 55.º Dia Mundial da Paz, instituído por Paulo VI em 8 de dezembro de 1967. Na mensagem que escreveu para este dia, o Papa Francisco convida-nos a percorrer “três caminhos para a construção duma paz duradoura. Primeiro, o diálogo entre as gerações, como base para a realização de projetos compartilhados. Depois, a educação, como fator de liberdade, responsabilidade e desenvolvimento. E, por fim, o trabalho, para uma plena realização da dignidade humana. São três elementos imprescindíveis para tornar ‘possível a criação dum pacto social’, sem o qual se revela inconsistente todo o projeto de paz”.
3.1. Primeiro, o diálogo entre as gerações. “Dialogar significa ouvir-se um ao outro, confrontar posições, pôr-se de acordo e caminhar juntos” (MDMP 2021). Os mais velhos aprendem com a ciência e a técnica dos mais novos; os mais novos crescem com a paciência e a sabedoria dos mais velhos. Caminhemos sempre juntos, numa verdadeira aliança de gerações.
3.2. Depois, a educação. “Educar os filhos não é nada fácil. Mas não esqueçamos que também eles nos educam. O primeiro ambiente educativo continua sempre a ser a família, nos pequenos gestos que são mais eloquentes do que as palavras. Educar é, antes de tudo, acompanhar os processos de crescimento, estar presente de várias formas para que os filhos possam contar com os pais em cada momento. Eles precisam de uma segurança que os ajude a sentir confiança nos pais, na beleza das suas vidas, na certeza de nunca estarem sozinhos, aconteça o que acontecer” (Papa Francisco, Carta aos esposos, 26.12.2021). Queridos pais: apostai tudo na educação, mas não deixeis que ninguém vos substitua como primeiros e principais educadores.
3.3. E, por fim, a promoção de um trabalho digno. Jesus nasceu próximo dos pastores, que estavam a trabalhar durante a noite. Jesus vem encher de dignidade a dureza do trabalho. É tão importante dar dignidade à pessoa com o trabalho, como dar dignidade ao trabalho da pessoa, porque o Homem é senhor e não escravo do trabalho. E hoje há tantas formas de escravização por meio do trabalho ilegal, mal pago, explorado. É preciso também que o trabalho seja digno, adequado à formação e à capacidade de quem o realiza, pago com salários justos, que se diferenciem claramente das prestações sociais.
“Aos governantes e a quantos têm responsabilidades políticas e sociais, aos pastores e aos animadores das comunidades eclesiais, bem como a todos os homens e mulheres de boa vontade, faço apelo para caminharmos, juntos, por estas três estradas: o diálogo entre as gerações, a educação e o trabalho. Com coragem e criatividade. Oxalá sejam cada vez mais numerosas as pessoas que, sem fazer barulho, com humildade e tenacidade, se tornam dia a dia artesãs de paz. E que sempre as preceda e acompanhe a bênção do Deus da paz!” – Papa Francisco, Mensagem Dia Mundial da Paz 2022
4.Os textos bíblicos apresentam-nos Maria que escuta, decide e atua. Maria faz o que tem de ser feito, é concreta! Em Maria há harmonia e perfeita congruência: entre o olhar, o ouvir, o falar, o sentir e o agir; entre a promessa e o cumprimento; entre o real e o ideal; entre a fé e a vida!
Maria é proclamada bem-aventurada, feliz, porque acreditou! A sua fé é forjada na mais alta e perfeita contemplação e no serviço mais concreto, atento e humilde. Maria oferece-nos a chave da santidade, o seu segredo: vivermos centrados na Vontade de Deus e no amor ao próximo, nunca em nós mesmos! Descentrados de nós mesmos, centrados na Vontade de Deus e concentrados no serviço aos irmãos! É esta a chave para sinodalidade missionária. Então, podemos e devemos aprender com Maria como realizar o sínodo convocado pelo Papa Francisco, sobre a sinodalidade.
Aprendamos de Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, a fé segura (“Eis a serva do Senhor”); a esperança e confiante em Deus (“nada é impossível a Deus”); a caridade concreta e missionária (Maria pôs-se a caminho apressadamente”).
Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, carrega os sofrimentos e as dificuldades dos seus filhos. Connosco – e ainda mais do que nós – ela deseja alegria e salvação para todos. Neste tempo incerto de pandemia, apoiemo-nos nela, que é a mãe de todas as mães e torna forte a nossa esperança!
Ao longo deste novo ano, recitemos com todo o coração e muitas vezes o Magnificat, este cântico de paciência e de vitória, de luta e de alegria, que une a Igreja triunfante com a Igreja que peregrina, ou seja, nós; que une a terra com o Céu, que une a nossa história com a eternidade, para a qual caminhamos.
Santa Maria, Mãe de Deus, nossa Mãe, Nossa Rainha,
neste tempo de pandemia, fortalece a nossa esperança.
Nós te confiamos todos os que são mais afetados, direta ou indiretamente.
Confiamos-te todos aqueles que, de muitos modos,
cuidam dos doentes e da sociedade em geral.
Santa Maria, Mãe de Deus,
fortalece a esperança de todos os que,
neste tempo marcado por tantos conflitos e violência,
vivem esmagados pela opressão, pelo terrorismo e pela injustiça.
A ti, que também foste forçada a deixar a tua terra, confiamos todos os refugiados.
Santa Maria, Mãe de Deus,
fortalece a nossa esperança.
Concede à Igreja o dom da unidade e da paz.
Alcança-nos a graça de sermos “Igreja em saída” para levarmos a todos a esperança, a luz e a salvação de Jesus, teu filho, nosso irmão e Salvador.
Santa Maria, Mãe de Deus,
Tu que cumpres sempre e só a vontade do Pai
e estavas sempre atenta às necessidades dos outros,
intercede por nós, quando nossa fé vacila
e quando nos cansamos de fazer o bem,
fortalece a nossa esperança,
e ajuda-nos a renovar o nosso Sim a Jesus, nossa esperança.
Amém.
+Nuno Almeida, bispo auxiliar de Braga
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