Arquidiocese de Braga -

19 junho 2023

Arcebispo de Braga cumpre meia maratona de fé ao lado dos peregrinos da Lapinha

Fotografia DM

Rui de Lemos - DM

O Arcebispo de Braga realizou metade do percurso da secular Ronda da Lapinha, em Guimarães. D. José Cordeiro caminhou ao lado dos peregrinos que cumprem anualmente a designada “meia maratona da fé”, a mais extensa peregrinação concretizada numa só tard

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Na segunda vez que se deslocou ao Santuário da Senhora da Lapinha, na encosta da montanha da Penha, em Guimarães, o Arcebispo de Braga realizou meio caminho da “meia maratona da fé”. No domingo, 18 de junho, D. José Cordeiro experienciou, ao lado dos peregrinos, a singularidade da secular expressão religiosa entre a freguesia de Calvos e a igreja de Nossa Senhora da Oliveira, no centro histórico da cidade de Guimarães.  

«É uma jornada desafiante. É cansativa, mas é encantadora», qualificou, ao “DM”, o Arcebispo de Braga, depois de cumprida aquela metade da Ronda da Lapinha. D. José Cordeiro acrescentou que caminhar junto ao andor da santa padroeira e protetora das culturas, com uma multidão de peregrinos, muitos com flores nas mãos, atravessando mais de uma dezena de freguesias, ao som de cânticos e orações, muitas vezes num passo alucinante, vencendo mais de 10 quilómetros, «é uma experiência inesquecível». 

«Sentir o pulsar da alma do povo neste espírito de Ronda e não tanto naquela peregrinação mais clássica é especial e dá muito que pensar, porque aqui temos a interligação entre a religiosidade e a piedade popular a partir da liturgia», resumiu e suportou o Arcebispo de Braga, que já antes, na homilia da eucaristia solene a que presidiu, frente ao santuário da Lapinha, havia sublinhado que «piedade é compaixão, é estar com, caminhar com» e que este «também é o sentido da Ronda».  Além disso, aquela íntima ligação também tem sentido sinodal. Ou seja, «um espaço em que toda a gente tem oportunidade de se expressar, da maneira como pode, como sabe, como entende», valorizou. 

Regressando ao Santuário da Lapinha «com renovada alegria», pelo segundo ano, D. José Cordeiro revelou também que outro dos aspetos que mais o encantou e surpreendeu, logo pela manhã, na chegada, foi ver ao longo da subida até à encosta da montanha da Penha «tantas e tantas pessoas a peregrinar», verificando que a Ronda pode ser feita, individualmente ou em grupo, a qualquer hora do dia e em qualquer sentido. «É um caminho de livre iniciativa, além desta proposta para a grande multidão e esta é mesmo a metáfora da Igreja, sempre de portas abertas, onde todos têm lugar, onde todos podem expressar a sua fé, a partir do seu coração e da presença de Deus na sua própria história. Os que participam sentem esta presença afetiva e efetiva do povo santo de Deus», observou e engrandeceu o Arcebispo de Braga. 

Ontem, milhares de peregrinos voltaram a acorrer ao Santuário da Lapinha, em Calvos, no concelho de Guimarães, para pedir boas colheitas e agradecer graças concedidas. Cumprindo uma tradição que remonta aos finais do século XVII, os romeiros da Ronda da Lapinha voltaram a expressar o seu fervor e devoção mariana e a calcorrear mais de 20 quilómetros. Trata-se da mais extensa procissão conhecida e concretizada numa só tarde, batizada como a «meia maratona da fé». 

O importante, no entanto, é que «a cada peregrinação, apesar do esforço e exigência do caminho, temos que voltar melhores, dando o nosso contributo ao bem comum e à paz, querendo construir juntos a mesma e única Igreja, porque todos somos importantes e poucos para afirmar o sinal da presença de Deus no mundo», concluiu D. José Cordeiro.


Uma Ronda da Lapinha muito especial e que fica para a história 

A secular Ronda da Lapinha teve, ontem, pela primeira vez na sua longa história de mais de quatro séculos, um Arcebispo Primaz a presidir à peregrinação. Assim, a peregrinação de ontem fica para a história e «encheu de alegria e orgulho» a Irmandade da Lapinha. . 

«Esta Ronda da Lapinha é muito especial porque, de facto, esta é a primeira vez, conforme os registos históricos confirmam, que um Arcebispo Primaz presidiu à peregrinação, realizando este caminho connosco ao fim de mais de quatro séculos. Este dia é, assim, histórico, fica para a história e é mesmo muito emblemático para nós», resumiu, ao “DM”, Fátima Dias, juíza da Irmandade. Considerando a peregrinação de ontem uma «jornada fantástica e muito especial», Fátima Dias acrescentou que todos viveram «uma experiência única».

O facto de o Arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, ter realizado a Ronda da Lapinha, pela primeira vez, ao lado dos peregrinos constituiu para a Irmandade «uma grande honra e um estímulo», mas «também uma responsabilidade, porque acaba por nos incutir a responsabilidade de querermos sempre fazer mais e melhor. Ou seja, acabamos a tentar perceber, agora, o que é que para o ano podemos fazer mais, melhor ou diferente, carregando nos ombros uma responsabilidade acrescida, mas, sem dúvida, reconfortados e estimulados», considerou Fátima Dias. 

A Ronda da Lapinha voltou, ontem, a registar uma grande afluência de peregrinos e a traduzir a sua expressão dos tempos antes da pandemia. «Sentimos que recuperamos a nossa expressão e afluência do período pré-pandemia», notou Fátima Dias, assinalando que a grande afluência de devotos, ontem, ao Santuário começou a verificar-se «desde as primeiras horas da madrugada» e ao longo de praticamente todo o dia. A festividade religiosa acontece sempre no domingo imediato ao dia 13 de junho.

Desde o raiar do sol, os romeiros fazem-se à estrada, cruzam-se numa exigente caminhada em gestos generosos e altruístas, unidos numa simbologia da cultura popular que envolve o culto da Senhora da Lapinha. No interior do Santuário, aos pés do andor, entregam cravos, rosas, milho e outras oferendas à santa padroeira e protetora das culturas. Uma devoção que também se evidenciou ao longo dos anos através da colocação no seu andor das canas de milho e das «primeiras uvas pintadas», além de objetos de valor.

 

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