Arquidiocese de Braga -
25 setembro 2023
Arquidiocese de Braga prepara catequistas para prevenir abusos
DACS com Carla Esteves - Diário do Minho
Mais de mil catequistas participaram do Dia Arquidiocesano do Catequista no Santuário do Sameiro
A Arquidiocese de Braga está a formar os catequistas para prevenir e identificar eventuais casos de abusos de menores e de pessoas vulneráveis no seio da Igreja. Ontem, durante o Dia Arquidiocesano do Catequista, que reuniu no Santuário do Sameiro mais de mil de ministros da catequese, foram abordados os sinais, causas e contextos de risco e examinadas relações de poder e de vulnerabilidade, tendo sido revelado, em particular, o trabalho que está a ser desenvolvido pela Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis da Arquidiocese de Braga (CPMAVAB).
O objetivo da Arquidiocese de Braga é que situações como as que foram reveladas no relatório sobre os abusos sexuais na Igreja Católica não voltem a suceder e sejam atempadamente prevenidas, através da ação e de medidas efetivas.
Em paralelo à formação dada aos catequistas durante o encontro no Sameiro, a CPMAVAB também realizou um ação de formação no Centro Pastoral da Arquidiocese, tendo o encontro sido orientado pelos psiquiatras especialistas em Sexologia e Psiquiatria Forense Madalena Serra e Fernando Vieira.
Além da presidente da CPMAVAB, a advogada Carla Rodrigues, e demais membros da Comissão, marcaram presença no encontro o Arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, psicólogos, advogados, sacerdotes, professores e representantes da Comissão do Porto.
No decorrer da formação no Centro Pastoral foram abordados conceitos legais respeitantes aos crimes sexuais, patologias clínicas, aspetos médico-legais, tratamentos e perícias psiquiátricas/psicológicas, ao passo que no encontro com os catequistas, no Sameiro, o objetivo foi encontrar um plano de prevenção e de ação, incluindo medidas específicas para salvaguardar a segurança dos menores.
À margem destas duas ações que se complementaram, o Arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, defendeu que “cada vez mais nós precisamos de formação, de clarividência na proteção, no cuidado, no acompanhamento das crianças, dos adolescentes, dos jovens, dos adultos e dos mais velhos, de um modo especial dos mais vulneráveis”.
O Prelado insistiu no “cuidado da pessoa humana, olhando-a como ‘terra sagrada’, para que não aconteçam abusos, seja de que tipo for: de consciência, de poder, sexuais, espirituais”.
“Juntos devemos ser capazes de ultrapassar todas estas dificuldades e fazer com que estes abusos não voltem a acontecer no âmbito da Igreja», afirmou, defendendo um trabalho interdisciplinar e apontando como indispensáveis «a formação e a cultura do cuidado em todos os âmbitos da Pastoral, e de um modo especial onde estão as crianças e adultos vulneráveis”.
Durante o encontro no Sameiro, o padre jesuíta Bruno Nobre, membro da CPMAVAB desde 2019, defendeu que “é crucial que os catequistas tenham consciência dos riscos que pode implicar o contacto com crianças em contexto de catequese e é muito importante começarmos a criar uma cultura de cuidado, identificar possíveis riscos”.
“O catequista tem que saber como criar um espaço seguro e saudável, e também é importante saber identificar eventuais situações de abuso que podem ter acontecido na escola, no seio da família, na Igreja,», defendeu, realçando a importância de adquirir ferramentas de escuta e estar atento aos sinais e saber como encaminhar no caso de ser identificada uma potencial situação de abuso ou mau trato”.
Sobre a proteção e cuidado do menor, o professor da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Católica Portuguesa (UCP) apontou um conjunto de diretrizes contidas num documento da Conferência Episcopal Portuguesa que “todos os catequistas devem conhecer”.
Realçando que o relatório acerca dos abusos nos deu a conhecer «uma parte da realidade no contexto da Igreja Portuguesa, mas não a realidade total», o padre Bruno Nobre quis vincar que “não há mais abusos sexuais de menores no contexto da Igreja do que noutros contextos”.
“De facto, a maior parte dos abusos sexuais acontecem no seio da família, na escola, em contextos diversos. Não há maior probabilidade de um padre ser abusador do que qualquer outra pessoa abusar de um menor. Mas é verdade que aconteceram situações de abuso cometidas por clérigos. Um caso seria já inaceitável, mas sabemos que houve muitas situações de abuso e que há outras que ainda não são conhecidas”, afirmou.
O sacerdote deixou ainda o alerta para o facto dos abusadores serem “habitualmente pessoas com uma personalidade muito atrativa, muito carismáticas, mas que podem ter também características narcisistas e manipuladoras”.
A presidente da CPMAVAB, Carla Rodrigues, vincou que o grande objetivo deste dia foi “formar os catequistas para esta realidade dolorosa e trágica, que assalta a Igreja Católica e a sociedade civil na qual a Igreja está inserida”
“Nós já existimos desde 2019 e desde então damos passos no sentido de sensibilizar as comunidades para esta realidade porque só sensibilizando as pessoas estão alerta e denunciam”, afirmou.
Para Carla Rodrigues, sendo o catequista aquele que tem um contacto direto com a criança ou com o adolescente, tem que perceber, por um lado, qual o código de conduta a adoptar, evitando situações de risco, e por outro lado tem que saber acolher a vítima e encaminhá-la.
Compromisso da Arquidiocese
A advogada Sofia Marques, coordenadora do Serviço de Proteção e Cuidado da Companhia de Jesus, vincou que “o tema deste encontro é sinal do compromisso da Arquidiocese na implicação e responsabilização de todos os agentes que no dia-a-dia estão com as crianças e jovens em contexto de Igreja”.
“Temos que arregaçar as mangas, ser proativos. E os catequistas são aqui um potencial muito importante porque não só na Igreja como na sociedade e nas suas vidas, nas suas famílias e contextos profissionais podem ser agentes de cuidado”, disse.
Sofia Marques salienta que o objetivo é também que o catequista faça uma auto-análise e perceba quais as suas vulnerabilidades e a possibilidade de ser agente de maus tratos ou abusos no contexto de catequese, reconhecendo espaços, atividades e contextos de risco.
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