Arquidiocese de Braga -

15 novembro 2023

Todos encaminho

Fotografia DR

Mensagem dos bispos para o ciclo litúrgico Advento-Natal

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O Ano Litúrgico abre com o tempo do Advento e traz-nos a alegre notícia de um acontecimento que marca a história. O mundo não seria o mesmo sem este evento divino e humano: o nascimento de Cristo. Desde aí tudo está em movimento: a criação, a humanidade... Nada ficou ou fica ainda indiferente ao Natal de Jesus. 

Há uma luz que permanece neste nascimento que continua a alimentar a alma e a esperança de tantos homens e mulheres. Desde o início, tudo e todos se encaminharam para o lugar da natividade. Desde os sinais do cosmos aos mais humildes da humanidade, todos se encaminharam para aquele lugar de luz. Primeiro as estrelas, depois os anjos, seguindo-se os pastores e por fim os magos. Todos eles admirados e espantados com tal evento. Certos da novidade de tal anúncio puseram-se a caminho, com o coração aos saltos, livre, expectante... e lá, nesse lugar de luz, onde tudo vive e respira, o seu coração se inclinou de alegria e felicidade. Havia naquele lugar fraternidade. Todos, independente da sua condição humana, sabiam-se irmãos. Não havia dúvidas. Apenas uma alegria interior que os envolvia num abraço de fraternidade impensado, inesperado.

Contudo, nem todos se puseram a caminho! Como o medo pode toldar o coração, paralisar o entendimento, limitar a esperança? Herodes e toda a sua coorte estremeceu de medo. Estava em causa o nascimento de um novo rei (cf. Mt 2, 2)! Isto era impensável para Herodes. Mas, apesar da dúvida, o grande erro de Herodes foi permanecer sentado, não se dispor a caminhar, como todos os outros e com todos eles.

Perante estes dois comportamentos, deixamos algumas interpelações para uma maior vivência e celebração do Advento e Natal. Para onde nos encaminhamos nós!? Para onde vamos? Ou, para quem somos, existimos?

«Amigo, neste Natal do Senhor quero vê-lo!», assim disse São Francisco de Assis, há 800 anos, voltando-se para o amigo Giovanni Velita, um proprietário rico de Greccio. Francisco explicou ao seu amigo o que queria dizer “ver” o Natal. A fé “vê” o que crê, mas ele sentia uma lacuna na representação do nascimento do Filho de Deus. 

Por isso, criou uma imagem viva do Menino de Belém, feito de carne, de um olhar, de um gemido, de um sorriso, de uma esperança e, ao mesmo tempo, pediu um sacerdote para celebrar naquela noite a Eucaristia, ligando o Natal à Páscoa. Com efeito, a Eucaristia, sacramento do mistério pascal, é, já, semeada em Belém, casa do pão e do silêncio (ad)orante. Daquela compreensão nasceu o presépio como é conhecido na cultura cristã, na piedade e na arte.

Ainda que sejam de uma grande riqueza cultural e espiritual, não basta continuar a cumprir todas as tradições do Natal! Podemos correr o risco de estarmos sentados, à espera de que nos façam perguntas, às quais nos esquivamos ou não sabemos responder por medo de errar ou de quem pergunta.

Então o que podemos fazer? A atitude só pode ser a do peregrino: caminhar, em direção aos presépios de hoje. Não caminhar sozinho, mas na companhia dos irmãos. Só assim podemos fazer caminho e ao mesmo tempo crescer uns com os outros. Caminhar juntos permite-nos fazer uma verdadeira experiência de fraternidade, daquela fraternidade que nos faz ir ao encontro de todos, nomeadamente dos sós, dos doentes, dos pobres, dos desprotegidos, dos inseguros, dos perdidos...

Com efeito, precisamos desafiar o nossos medos e as nossas certezas. Espera e esperança andam ligadas neste tempo de Advento e Natal. Mas a espera não se traduz numa atitude passiva, apática, indiferente ou defensiva. Não podemos agir ao jeito de Herodes, indisponível para o caminho, isolado no seu medo de perder o lugar. Assim como no estábulo todos cabiam, assim também nos presépios dos nossos dias todos cabem e são bem-vindos, mesmo que cheios de perplexidades, indecisões ou hesitações... 

Ao longo da história da humanidade não faltaram homens e mulheres que nos surpreendem: são figuras inspiradoras ainda hoje. A caminhada de Advento e Natal que vos propomos traz-nos estas pessoas concretas que no seu tempo e contexto histórico e social nos ajudam a perceber a sua humanidade e os passos concretos que deram para a construção da fraternidade. Deixemo-nos inspirar por elas. Conhecê-las ajuda-nos a perceber que não é impossível, neste nosso tempo de fragmentação da fraternidade, trabalhar por uma humanidade mais fraterna.

Todos e em qualquer circunstância estamos no caminho de Páscoa, onde o Advento e Natal têm sentido pleno. Demos as mãos, unamos nossos corações e sigamos juntos por um caminho novo para levar Jesus a todos e todos a Jesus.

Votos de santo e fecundo Advento/Natal!

 D. José Cordeiro

D. Delfim Gomes