Arquidiocese de Braga -

15 março 2004

Educação e Educação Sexual

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Silva Araújo

\nEstudantes do Ensino Secundário têm vindo a público reivindicar uma aula de educação sexual. Permito-me lembrar ser a educação sexual um capítulo do que poderíamos designar de educação geral. Sendo assim, atendendo a tantas manifestações de falta de educação protagonizadas por adolescentes e jovens, antes de se exigir a educação sexual parece-me mais necessário desejar que as escolas – as que ainda o não fazem, é evidente – eduquem e se não limitem a ensinar. Que ajudem as pessoas a tomarem consciência da própria dignidade e da dignidade dos outros. De que têm direitos mas também têm deveres. De que se devem respeitar e respeitar os demais. Que as escolas que ainda o não fazem ministrem educação cívica. Para que os alunos, onde quer que estejam, usem uma linguagem sem ordinarices. Tenham boas maneiras. Saibam falar sem gritar. Saibam discordar sem insultar. Não cuspam para o chão. Respeitem o sossego e a tranquilidade dos outros. Não danifiquem o património comum. Não andem aos pontapés aos caixotes do lixo nem estraguem o mobiliário da escola. Saibam sair de uma sala sem se acotovelarem. Saibam aguardar pela sua vez ao entrarem para um autocarro. Não escrevam nas paredes. Tenham cuidado com a higiene pessoal Poderia continuar o elenco de um conjunto de faltas de educação de que, quotidianamente, dão provas muitos estudantes. E uma vez que se fala de educação, em meu entender é por aí que se deveria começar. Que haja uma aula de educação cívica de frequência obrigatória para todos. Dir-me-ão que não é apenas a Escola que tem o dever de educar. Inteiramente de acordo. A educação principia em casa. Os pais são os primeiros e principais educadores. Por isso tenho defendido que Família e Escola actuem em sintonia. E também a sociedade tem deveres neste sector. E também a Comunicação Social, sobretudo a televisão, precisa de tomar consciência das suas responsabilidades educativas e de agir em conformidade. Mas vamos ao que motivou o meu artigo de hoje: a educação sexual. O que deve ser e o que se pretende com ela? A Associação de Estudantes da Escola Secundária D. Maria II, de Braga, afirmou, em 19 deste mês de Fevereiro, que gostaria de ver criado naquele estabelecimento de ensino um gabinete de apoio à sexualidade. Seria, acrescentou, o local ideal para os alunos esclarecerem as dúvidas relacionadas com a sexualidade. Um dos elementos dessa Associação disse que gostaria de ver instaladas na Escola máquinas de preservativos e distribuição de pílulas. E sublinhando a urgência desta matéria, aquela Associação asseverou que «sem a educação sexual vão continuar a existir grávidas adolescentes e as doenças sexualmente transmissíveis». Se bem interpreto tudo isto, parece-me que praticamente se identifica educação sexual com a arte de ensinar a fazer o chamado sexo seguro, a manter relações sexuais sem as consequências que daí possam surgir. Penso que a educação sexual é, antes de mais, a educação para o amor. Para um amor onde cada um se respeita e respeita o outro e se sente responsável pelo bem do outro. Para um amor cada vez mais adulto. Também é a educação para o autodomínio. Também é a educação para a castidade. Também é a educação para o fortalecimento da vontade. Também é a educação para um comportamento responsável. Não aceito que a Escola seja o local mais indicado para a educação sexual. Tal educação – personalizada, gradual, prudente – é, sobretudo, tarefa dos pais. É num diálogo amigo e franco com os seus progenitores que as crianças, os adolescentes e os jovens devem esclarecer as dúvidas relacionadas com a sexualidade. A educação sexual a adolescentes e jovens não deve ter como objectivo imediato ensiná-los a fazer o tal sexo seguro e proporcionar-lhes meios para isso, mas ajudá -los a concluírem que, na situação em que se encontram, não devem ter relações sexuais. A pretendida instalação de máquinas de preservativos e distribuição de pílulas é, em minha opinião, inteiramente descabida. E quanto à existência de adolescentes grávidas e de doenças sexualmente transmissíveis, não lhes parece que a melhor forma de evitar tudo isso é a prática da castidade pelos solteiros e a da fidelidade conjugal pelos casados? Silva Araújo