Arquidiocese de Braga -

2 abril 2004

Mensagem de Páscoa

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D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga

\nOnde está Deus? Nunca na morte, sempre no amor A nossa sociedade, numa caracterização importante da era da informação, permite-nos assistir, quotidianamente, a catástrofes naturais ou guerras planeadas, a massacres hediondos ou genocídios impensados, ao absurdo do tráfego de órgãos humanos ou à exploração sexual infantil, ao hediondo crime do terrorismo ou formas de intolerância na convivência com o diferente, a preocupação por legitimar o aborto ou as ideias da eutanásia… Conhecemos e vemos populações inteiras a morrer de fome e aceitamos que metade da população da humanidade tem de sobreviver com dois euros ou menos por dia, ao lado duma ostentação escandalosa de alguns poderosos. Neste cenário inquietante dum mundo global, não esquecendo os dramas da sociedade portuguesa em ritmo crescente e a gerar muita perplexidade perante o amanhã, apetece-me perguntar: Deus, onde estás? Só que, interiorizando e nunca numa atitude de refúgio no religioso, devo reconhecer que o mal acontece por causa da ausência de Deus. Com efeito, os grandes filósofos da história, intuindo os seus ditames, já nos alertaram – e nem todos querem ouvir – que este nosso séc. XXI ou será místico ou não terá amanhã. Será pessimismo? É uma interpelação. A Páscoa, particularmente para os crentes, deve significar este assumir a missão de colocar Deus na história dos homens. A manhã da Ressurreição foi o início duma presença até ao pleno desenvolvimento da humanidade. Não foi um momento ou um facto registado num tempo e num local determinado. Ela é, ou deve ser, dinamismo, esperança, empenho num reconhecer e potencializar esta presença oculta de Deus. Ele vive; Ele está na história. Teremos de retirar quanto impede a Sua manifestação. Que Deus regresse ao mundo. É esta a mensagem que dirijo aos cristãos da Arquidiocese, confiando-lhes a alegre responsabilidade dum compromisso novo para que aconteça em todas as áreas e sectores. Urge a vitória do bem sobre o mal, da fraternidade sobre a exploração, do amor sobre o ódio, do pão para todos sobre a fome, do respeito mútuo sobre a intolerância violenta, da tolerância sobre o fanatismo, da aceitação mútua sobre o terrorismo fundamentalista. Haverá um itinerário que apresse este regresso de Deus ao mundo e às suas estruturas? Acolher as crianças como quem reconhece o ressuscitado e ousar aprender com elas. A criança, vítima de tantas explorações, deve ser o livro que manifesta à sociedade a beleza da ternura oferecida, da espontaneidade confiante, do amor feito gestos que surpreende nas suas manifestações. Onde está Deus? No coração do mundo e do Homem. Acreditemos que é possível resgatá-lo. A Páscoa será um tempo perene e esperança dum mundo alicerçado em valores universais que todos acolhem para bem pessoal e da humanidade. Que Deus volte ao mundo numa Páscoa de esperança e alegria para todos. Páscoa 2004 +Jorge Ortiga, A. P.