Arquidiocese de Braga -

4 abril 2004

Homilia de Domingo de Ramos

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D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga

\nAcolher os jovens para lhes oferecer Cristo No dia Mundial da Juventude, quero parafrasear o pensamento de Jesus Cristo que o Santo Padre escolheu como referência para a caminhada quaresmal. «Quem acolher um jovem, acolhe-me a mim». Creio não estar a instrumentalizar. Dou ao Evangelho o sentido de universalidade que sempre deve ter. Na vida e pastoral da Igreja, e das comunidades que a constituem e perante a problemática e desafios do fenómeno juvenil, a dimensão de acolher os jovens deve tornar-se programa motivador de aberturas comportamentais e de gestos pastorais. O Santo Padre, na mensagem para este dia, sublinha que o cristianismo se exprime em Cristo e que, por isso, é necessário e imperioso progredir na vontade de «querer ver Jesus». Este encontrar Cristo por parte da juventude deve acontecer na Igreja mas, para isso, tem de aproximar-se dela, situar-se do seu lado e ser capaz de experimentar as suas inquietações e perplexidades. Trata-se dum permanente programa, motivador de renovação de estratégias pastorais, que se concretiza na capacidade concreta de acolher os jovens. Se a Igreja for capaz de os acolher, eles ficarão mais perto de Cristo. Quero enunciar algumas sugestões para os agentes pastorais e movimentos juvenis. Creio que as podemos colocar nas linhas de força a extrair do Programa Pastoral que estamos a viver. 1 – Para acolher é necessário escutar. Trata-se duma escuta serena e tranquila, sempre isenta de agressividade e hábitos condenatórios. Poderá não parecer fácil mas impõe-se a capacidade de prestar atenção com a máxima disponibilidade e respeito devido a um verdadeiro irmão, colocando de lado expectativas, preconceitos, juízos. Para todos é difícil falar pouco e escutar silenciosamente sem interrupções permanentes. Quase sempre nos colocamos à defensiva como que desvalorizando a mensagem do outro para, talvez inconscientemente, impor a nossa. Quero comprometer-me nesta atitude de escuta não como disposição casual e momentânea mas como verdadeira escolha e decisão. Talvez seja necessário para todos os agentes pastorais este exercício a amadurecer e chegar a atitudes permanentes e habituais de reservar mais tempo para estar com eles, escutar os seus pensamentos, abrir-se ao diálogo. Pessoalmente, reconheço-me como alguém que necessita desta experiência. Não será interpelação para toda a Igreja Diocesana este escutar para que os jovens falem? 2 – Escutar para efectuar uma participação activa nos dramas existenciais. Não basta ouvir é necessário mergulhar dentro, identificar-se sem condenações apriorísticas. Diz um pensador chinês: «O homem moderno usa a sua mente como um espelho: não fica com nada, não recusa nada, recebe mas não conserva». Trabalhar com jovens, para um encontro com Cristo, deve conduzir a um verdadeiro acolhimento dos seus problemas. Nem sempre coincidem com as realizações que formulamos. Só fazendo-nos um, com eles, conseguiremos individualizar as soluções autênticas. Esvaziar-se para ouvir, permitindo que comuniquem todos os sentimentos e mostrar que estamos no mesmo mundo e disponíveis para encetar uma caminhada conjunta de verdadeira libertação. Cristo fez-se homem com todos os seus dramas; estaremos com a Juventude se os seus sofrimentos e alegrias forem os nossos. 3 – Coragem para discernir as potencialidades verdadeiras. Este itinerário deverá, necessariamente, ser positivo. No coração de cada um existe uma semente de mundo novo que teremos de incentivar. Poderá parecer pequena. Mas existe. Trata-se de oferecer uma boa dose de coragem num compromisso realizador que, à partida, sabemo-lo, deverá ser interpretado em comum. Não basta apontar caminhos. É necessário iniciar uma acção conjunta. Há sempre bom e mau. Apostemos no bom e reforcemo-lo, potenciemo-lo, concedamos-lhes um suporte. Com a juventude, dando-lhe confiança, amizade, abertura, disponibilidade, solidariedade, compreensão, acolhimento, seremos intérpretes dum cristianismo que eles compreenderão. Esta estratégia pastoral, cristianismo com Cristo, nunca nos pode afastar do essencial, sem Cristo não há cristianismo e os jovens necessitam dum encontro com Ele. Para isso aceitamos os «meios» sugeridos pelo Papa. 1 – «Antes de tudo, fazei silêncio no vosso interior. Deixai que surja no vosso coração o ardente desejo de ver a Deus, desejo muitas vezes sufocado pelos ruídos do mundo e pelas seduções dos prazeres». Deixai que surja esse desejo; então tereis a maravilhosa experiência do encontro com Jesus. O cristianismo não é simplesmente uma doutrina; é um encontro na fé com Deus, presente na nossa história e só o silêncio o permite. 2 – Depois deste silêncio o jovem deve encontrar-se com Deus nos acontecimentos da Vida, no rosto do próximo, na oração e na meditação da palavra. Cada um destes elementos consigna opções que nunca podem ser opcionais. Sem oração e meditação da palavra não é possível encontro com os irmãos do grupo, nem capacidade serena para ouvir a presença de Deus nos acontecimentos. Tudo está ligado. Cada um é imprescindível. Valem como um todo. Campo de acção privilegiado e concretizador desta envolvência de todos os meios é a Eucaristia e o seu prolongamento no serviço aos mais pobres e necessitados. Esta proposta, com iniciativas objectivas e conscienciosas, suscita o campo onde a Pastoral Juvenil se deve desenvolver. Contemporaneamente e com coragem, o mundo moderno exige que se penetre nos espaços e nos tempos pessoais que fazem parte da quotidianidade da Vida dos jovens. Ao ouvir os jovens, conhecendo o seu «território», os seus problemas e as suas capacidades a Igreja vai ou deve suscitar uma atenção preventiva sabendo estar nos âmbitos variados, percorrendo as estradas que Cristo percorreria se vivesse hoje. Pretender que a juventude se apaixone por Cristo sem deixar que Este, nos seus discípulos, chegue aos ambientes juvenis pode significar tempo perdido. Que adianta uma pastoral juvenil bem pensada e bem celebrada sem o contacto com o real juvenil. Aqui está o problema crucial da nossa vida eclesial. Ainda não interpretamos suficientemente a dinâmica da inculturação e partimos dum pressuposto de gente que nos escuta. Cristo quer aproximar-se mais e o nosso cristianismo, centrado na Sua pessoa, deve bater à porta e ao coração da juventude com a eloquência de alguém que, sem se identificar com a complexidade e ambiguidades de determinadas experiências, sabe extrair delas aquilo que espera uma marca evangélica. Cristo hoje para os jovens passa por aí. Sigamos estas estradas da juventude hodierna para lhe indicar Cristo como caminho único. Acolhamos, em Igreja, os jovens e proporcionemos-lhes um verdadeiro encontro com Cristo. Domingo de Ramos, 2004 + Jorge Ortiga, A. P.