Arquidiocese de Braga -

11 abril 2004

A Pastoral de Jovens na Missão da Igreja

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A Pastoral de Jovens na Missão da Igreja

Durante três anos a Arquidiocese empenhou-se num Programa Pastoral estruturado no sentido de conhecer o mundo juvenil para lhe oferecer um sentido. Tratou-se de criar consciência de viver com os jovens e para os jovens.

Passado este triénio, importa delinear uma estratégia pastoral que congregue as reflexões efectuadas e determine as opções pastorais a seguir. Já tive a oportunidade, em Nota Pastoral, de apontar a formação cristã como a linha de conduta no contexto tradicionalista em que estamos envolvidos e sem a consciência e maturidade da fé que as actuais circunstâncias exigem. Daí que a Pastoral de Jovens, como todos os outros sectores, se deva comprometer com a evangelização do mundo juvenil. Na verdade, há sempre o risco de se deixar envolver em actividades com o intuito de atrair e que podem distrair do essencial. É fácil correr o risco de propor acções de intervenção sem a consequente base de motivação doutrinal, espiritual e eclesial. Importa, por isso, fazer com que os jovens se comprometam com Cristo, para que, posteriormente, se comprometam na missão da Igreja dum modo consciente e corresponsável.

Louvo a iniciativa do Departamento Arquidiocesano de Pastoral de Jovens e espero que, até orientações diferentes, todas as paróquias e movimentos aceitem este caminho como programa diocesano para a pastoral juvenil. Os resultados acontecerão como consequência deste acolhimento. Estamos a percorrer o itinerário delineado. Importa dar-lhe continuidade e manifestar a paixão pelos jovens.

Com o Papa digo aos jovens, às paróquias e aos movimentos: “Fazei-vos ao largo” e percorrei caminhos de catequese e evangelização.

+ Jorge Ferreira da Costa Ortiga, Arc. Primaz


Leitura da Realidade

1. Principais resultados do Inquérito com maior relevância sócio-pastoral

Começamos estas linhas de orientação a partir de uma leitura da realidade, para isso lançamos mãos dos resultados do Inquérito[1] realizado na nossa Arquidiocese, que nos diz que os nossos jovens possuem uma forte associação entre naturalidade e residência. Fortíssima presença da família enquanto espaço em que praticamente todos os jovens vivem. Condições de provável boa integração na comunidade de residência. Sintomas de coesão social e cultural, possivelmente geradora de uma efectiva pressão social. Sub-cultura, identidade regional. Não obstante, há indicadores de mobilidade geográfica e de variedade de origens, com prováveis consequências no sentido de criarem já alguma significativa diversidade cultural, e respectivos efeitos, principalmente em alguns meios e ambientes.

Sinais claros de mobilidade social ascendente e mudança cultural inter-gerações em curso, actualmente, e a continuar no futuro próximo.

Relação globalmente positiva com os outros, designadamente com os pais. Preferência nítida de inter-acção com os coetâneos. Presenças muito pouco significativas dos professores e dos padres no universo das inter-acções dos jovens. Baixa participação em associações e pouca confiança nas instituições políticas. Sinais de alguma preocupação face ao futuro.

Matriz cultural católica bem acentuada. Sintomas de individualismo e subjectivismo no campo religioso. Reconfiguração de posições e pertenças religiosas. A maior frequência de pertença a associações verifica-se em grupos religiosos, e a Igreja Católica é a instituição em que mais inquiridos depositam muita confiança. Imagem globalmente positiva da Igreja, e, simultaneamente, expectativa de que a Igreja acompanhe a ‘evolução dos tempos’.

Diversidade de situações face à escola e ao trabalho. Quase metade dos inquiridos trabalhadores não têm contrato de trabalho definitivo (sem termo).

Limitação de formas e significados dos tempos livres, tendo a televisão a posição preponderante na ocupação dos tempos livres.

Principais conclusões sócio-pastorais

2. O catolicismo é elemento integrante do património e na identidade cultural. Deveria avaliar-se a força da pressão social nos modos de pensar e viver dos jovens, designadamente no que respeita à religião, e quais os seus efeitos. Neste contexto, merece atenção o que respeita à integração das pessoas que têm posições ou características diferentes da maioria.

Convém dar atenção aos efeitos da mobilidade social ascendente e da mudança cultural inter-gerações no processo da socialização religiosa, e na integração e participação dos jovens nas comunidades cristãs locais. Devem avaliar-se as potencialidades da forte presença da família na vida dos jovens, a par da provável limitação da capacidade educativa de os pais transmitirem os seus valores e concepções de vida aos filhos, sobretudo quando é maior a diferença de níveis de escolaridade entre uns e outros. Há condições que justificam a necessidade de uma formação cristã que dê sentido e critérios à participação política, e do cultivo da esperança que leve a combater os indícios observados de inquietação face ao futuro.

É aconselhável que se integre na formação cristã dos jovens e na prática dos grupos de jovens o exercício do discernimento evangélico contínuo sobre o catolicismo existente no meio em que se vive, e sobre o modo como cada um vive a sua condição, vocação e missão de cristão na Igreja e no mundo. Há necessidade de assegurar uma maior integração e participação responsável dos jovens na vida e na missão da Igreja; neste sentido, merecem uma análise cuidada as razões e as consequências do facto de, segundo os resultados deste inquérito, as tarefas ou actividades a que mais jovens se dedicam nas Paróquias serem de natureza litúrgica. Dado que os grupos juvenis paroquiais são os que congregam o maior número de jovens na Igreja, devem merecer um especial cuidado e apoio pastoral. É conveniente avaliar continuamente até que ponto estão adequados aos seus destinatários, nos conteúdos e nas formas, os processos de catequese e formação cristã dos jovens, assim como a coordenação dos vários actores que intervêm nesse processo. Há uma clara necessidade de propostas, agentes, espaços, actividades e métodos de pastoral de jovens diversificados, com criatividade e qualidade, exigindo-se educadores com formação actualizada. Deveria ser reforçada a formação humana, doutrinal e espiritual dos jovens para a missão.

Deveria dar-se atenção ao modo como estão a fazer-se a formação cristã e o acompanhamento pastoral aos jovens na passagem para o estado de casados (namoro, preparação para o matrimónio, e acompanhamento e integração dos casais novos), na entrada no mundo do trabalho, e no início do pleno exercício dos direitos e obrigações da cidadania.

Objectivos da Pastoral de jovens

3. Depois de termos analisado a nossa realidade, vamos debruçar-nos sobre aquilo que a pastoral de jovens é chamada a realizar, sobre os seus objectivos, que podemos já antever como a opção por Cristo, numa relação coerente entre a fé professada e a vida, no seio da Igreja, testemunhando Deus no mundo.

Os objectivos da Pastoral de jovens

4. Os nossos Bispos deixaram-nos, nas Bases para a Pastoral Juvenil, uma definição daquilo que é a pastoral de jovens, dizendo que esta é “a acção da Igreja com os jovens, na evangelização e na educação cristã, em ordem à opção por Jesus Cristo, à maturidade humana e cristã da fé e ao compromisso eclesial, apostólico e social. Este laboratório de fé, na expressão de João Paulo II, quando desenvolvido nas suas máximas possibilidades, é uma escola de vida. Ajudará os jovens a descobrirem respostas de fé para as suas interrogações mais profundas e a assumirem-se como protagonistas da sua própria história e da nova evangelização, exercendo o apostolado, de modo particular, entre os outros jovens”[2].

5. A missão dos agentes de pastoral de jovens deverá ser a de animar e propiciar a cada jovem um encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo. A pastoral de jovens tem, pois, uma clara dimensão educativa que pede uma atenção especial ao crescimento pessoal harmónico de todas as potencialidades que o jovem possui.

Na pastoral de jovens procura-se a educação orgânica e integral da pessoa. Por isso, a educação há-de atender às faculdades da inteligência e da vontade, por meio das quais se procura conhecer Deus, o Seu projecto salvífico e a Sua Igreja, ao mesmo tempo que se auxilia cada jovem a cultivar o domínio de si mesmo, para que possa agir com liberdade e responsabilidade.

Este processo educativo há-de desenvolver-se nas seguintes dimensões: individual, social ou de grupo e transcendental, na sua relação com Deus. Para conseguir tudo isto, a Pastoral de Jovens deve[3]:

- Favorecer a maturidade pessoal do jovem, que lhe permita vencer o subjectivismo e descobrir uma esperança nova na fortaleza e sabedoria de Deus;

- Promover a relação entre os diversos membros da comunidade cristã, de modo a que os valores humanos e cristãos nela presentes sejam conhecidos, estimados e vividos;

- Cuidar a formação do pensamento religioso do jovem, para que ele seja capaz de mostrar a conexão dos mistérios da fé entre si e destes com o fim último do homem;

- Favorecer uma a experiência de fé e ensiná-lo a assumir as responsabilidades que dela derivam;

- Conhecer os problemas imediatos da vida quotidiana e auxiliar os jovens na passagem para o mundo do trabalho e da participação social;

- Permitir que os jovens assumam as responsabilidades de viver a fé segundo a sua situação actual, que por vezes é muito difícil.

O jovem encontra Cristo, e por Ele a Santíssima Trindade.

6. A juventude é a fase da existência humana em que o projecto de vida aparece como algo necessário. Quando isso não acontece, ou seja, a ausência de um projecto de vida leva à frustração total, ao sem sentido da vida.

Para que o projecto de vida seja alcançado pelo jovem cristão é preciso propor a beleza d’Aquele que é a Vida e fonte de vida, capaz de, em Si, renovar todas as coisas[4].

Esta proposta, a ser feita em estilo catecumenal[5] e com as respectivas etapas, deve entender-se, primeiramente, como a inserção progressiva do jovem no mistério de Cristo e na comunidade da Igreja, sacramento universal de salvação, por meio da fé, celebrada ou a celebrar nos três Sacramentos de Iniciação. Este caminho realiza-se através da proposta de Cristo, da adesão a Ele e da aprendizagem de toda a vida cristã, mediante a escuta da Palavra e a celebração sacramental.

Assim, o jovem, profundamente transformado é introduzido numa nova condição de vida, e, morto para o pecado, começa uma vida nova em ordem a uma realização plena do seu existir; incorporado em Cristo, experimenta uma mudança radical, pois agora participa da vida trinitária e está inserido na Igreja. Esta mudança substancial implica o assumir existencialmente a condição de filho de Deus em Jesus Cristo[6]. Nesta caminhada, é o próprio Espírito Santo que auxilia e permite que cada crente clame “Abba, Pai”[7].

O Jovem encontra a Igreja, comunidade de fé

7. Este caminho realiza-se por meio da fé e no seio da comunidade eclesial, onde o jovem responde progressivamente ao Deus que Se revela, por meio da “obediência da fé”[8], pela qual se entrega livremente a Deus, dando a resposta positiva à verdade revelada. “Para que se preste essa fé, exigem-se a graça prévia e adjuvante de Deus e os auxílios internos do Espírito Santo, que move o coração e converte-o a Deus, abre os olhos da mente e dá ‘a todos suavidade no consentir e crer na verdade’. A fim de tornar sempre mais profunda a compreensão da Revelação, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa continuamente a fé por meio de seus dons”[9].

Embora Deus peça a cada um uma resposta individual, é na comunidade que se realiza o seguimento de Jesus Cristo. A pastoral de jovens deve, pois, suscitar nos jovens aquela adesão eclesial capaz de os tornar membros activos na missão da Igreja. Uma adesão lúcida e serena que saiba ver, com objectividade e equilíbrio, as luzes e as sombras da Igreja que formamos. A Igreja, sujeito do Credo, é também aquela que nos permite, com propriedade, professar a fé e descobrir a sua dimensão comunitária.

O Jovem descobre a sua vocação

8. A partir do reconhecimento da Igreja como espaço de salvação e de vivência da vocação pessoal à santidade, o jovem descobre o seu chamamento específico no conjunto e diversidade das vocações eclesiais; “tanto as que entraram a fazer parte da Igreja, quanto aos novos dons do Espírito: a consagração religiosa na vida monástica e na vida apostólica, a vocação laical, o carisma dos institutos seculares, as sociedades da vida apostólica, as vocações ao matrimónio, as várias formas laicais de agregação-associação coligadas aos institutos religiosos, as vocações missionárias, as novas formas de vida consagrada”[10].

O jovem olha a santidade como caminho possível, que se realiza numa vocação concreta que urge descobrir através da oração e do discernimento. Assim, a pastoral de jovens deve ser sinónimo de abertura a novas possibilidades e atitudes de resposta ao chamamento e de escolha discernida do caminho concreto de santificação. O chamamento é único, as respostas são variadas. Estas concretizam-se na vivência das diferentes vocações que devem, inequivocamente, ser propostas em diversos momentos da pastoral de jovens, pois assim esta pastoral conseguirá ajudar cada jovem a identificar a vocação pessoal a que Deus o chama.

Também deve ser tida em conta a participação dos jovens, como dos cristãos em geral, no mundo e nas suas organizações. Que o jovem saiba discernir, à luz do Evangelho, qual o teor e a validade dos projectos humanos, em ordem a um compromisso efectivo e construtivo da causa comum, através do seu compromisso na vida associativa, partidária e profissional.

Os agentes

9. A Pastoral de jovens ocupa a atenção de toda a Igreja, onde se destacam os pastores, os pais e educadores, e demais membros da comunidade eclesial. Dentro desta comunidade, percebemos que os agentes e responsáveis da pastoral de jovens devem ser testemunhas de fé, pois na sua acção pastoral o testemunho é essencial e permite, em virtude da sua própria natureza, mostrar mais palpavelmente a realidade da fé, a vitalidade da verdade da fé, a proximidade de Jesus Cristo. Graças ao testemunho, a Igreja, que envia cada agente, poderá afirmar diante da pessoa de hoje a força e a beleza da fé.

Por isso, o agente de pastoral de jovens deve ter sentido comunitário, que provém de uma clara adesão e seguimento de Jesus Cristo. A identidade do agente vem, pois, definida não só pela sua personalidade de cristão, igual a todos os baptizados, mas também, e sobretudo, pela sua missão específica na Igreja.

O agente pastoral deve possuir uma clara identidade eclesial, porque não se situa perante a Igreja como algo que está fora ou diante dela, ou como uma instituição que aponta apenas direitos e deveres. Mais, pelo Baptismo, cada cristão, e o animador com mais consciência, é constituído membro do Corpo de Cristo, da Sua Igreja. Ou seja, sente-se implicado, participa da sua vida como algo próprio, identifica-se com ela como um membro que a integra, que a constitui. Experimenta o seu ser Igreja como algo que faz parte da sua fé.

Isto é de extrema importância, porque há uma relação muito estreita entre a concepção de Igreja e a pastoral de jovens. Com agentes que não se sentem Igreja, que têm ou vivem uma deficiente concepção da mesma, a pastoral de jovens está condenada ao fracasso.

10. Deve ter capacidade de diálogo, pois cada vez mais são precisos agentes com convicções profundas que, em diálogo com o mundo e em linguagem percebida pelo mundo, anunciem com alegria a graça que receberam e querem também, por sua vez, transmitir: a fé em Jesus Cristo.

Precisa de ter as competências necessárias, que lhe vêm da formação que, “partindo da profissão de fé baptismal, deve oferecer uma exposição orgânica e sistemática dos conteúdos fundamentais da fé e da vida cristã. Deve colocar ao seu alcance uma formação teológica que ajude a consolidar a fé recebida, proporcione certezas básicas dessa fé e o prepare para ser testemunha e transmissor da mesma. A tarefa de comunicar a fé recebida é realizada nas comunidades concretas de cada agente de pastoral, onde, preferencialmente, se deve realizar também a sua formação. Ao fim e ao cabo a formação visa uma síntese de fé, não no papel ou simplesmente na cabeça, mas no coração. Trata-se de todos nos deixarmos ser encontrados por Cristo, para sermos verdadeiros discípulos”[11].

Para que o animador, apóstolo, exerça bem a sua missão precisa ainda de conhecer bem as opções pastorais da Arquidiocese e sintonizar com elas. Deve estar dotado das competências mínimas em ciências sociais para ser capaz de fazer uma análise das características do mundo juvenil. Possuir conhecimentos básicos de psicologia e de pedagogia da idade juvenil. Deve também conhecer as técnicas de animação e dinâmicas de grupo, bem como o uso indispensável dos meios de comunicação utilizáveis na sua missão.

Por último, deve ter vontade de caminhar com os jovens, conversando com eles sobre as suas vivências pessoais, os seus sentimentos, tudo o que envolve a sua existência, a fim de poder iluminá-la com a luz que vem do Evangelho e ajudar o jovem a encontrar-se com Cristo, a partir da sua própria vida.

Um Caminho partilhado…

11. Depois de fazermos uma leitura da realidade e de vermos aquilo que a pastoral de jovens é chamada a realizar, debruçamo-nos sobre o caminho que, em Igreja, queremos realizar para conseguirmos realizar a nossa missão junto e com os jovens.

O projecto de Pastoral de jovens deve ter as seguintes linhas transversais, que acompanham todas as actividades:

– Acompanhamento pessoal: posicionar-se na situação específica de cada jovem;

– Acompanhamento de grupo: ver a realidade concreta em que vivem;

– Presença na comunidade paroquial: a Paróquia como comunidade de referência deve ser viva, missionária e evangelizadora para e com os jovens;

– Coordenação diocesana: os grupos devem integrar-se numa pastoral de conjunto, respeitando a especificidade de cada um e do Movimento ao qual porventura pertença, mas que os faça sentir e ser Igreja.

12. Bases de trabalho em que deve assentar a Pastoral de jovens:

- Convívio: o ponto de partida é o jovem na sua situação concreta;

- Formação: que o jovem seja capaz de dar razões da sua esperança[12];

- Celebração e Oração: A Boa Nova descoberta e celebrada na Comunidade interpela e transforma;

- Compromisso e acção: que cada jovem vá assumindo responsabilidades concretas, em Igreja, aceitando as suas consequências.

13. Como vimos, as mudanças operadas em torno dos jovens são significativas, obrigando-nos a criar propostas que vão de acordo com as suas aspirações, sendo sempre sérias e responsabilizadoras.

Assim, não podemos começar um projecto de pastoral, sério e responsável, sem bases de trabalho, porque seria algo desenquadrado, mas trabalhar com os jovens, dando-lhes protagonismo e responsabilidade. Entre a realidade que temos e a meta há um vasto caminho a percorrer que terá de ser cumprido para levar o jovem a um encontro pessoal com Cristo e a uma integração numa vida cristã adulta, na comunidade.

As Etapas

Etapa Um: Convocatória

14. Convocar é ir ao encontro, chamar, oferecer, propor e não esperar, de forma passiva, que venham ter connosco.

Esta etapa destina-se a:

- Jovens em atitude de busca

- Jovens que terminaram o percurso catequético paroquial

- Jovens que foram cristãos e que, após um tempo de abandono, querem voltar à Comunidade

Objectivos:

- Suscitar atitudes de conversão, de espanto perante a beleza de Deus.

- Levar a que cada jovem queira conhecer Jesus Cristo e o Seu projecto de Salvação.

Etapa Dois: Proposta Cristã

15. Esta etapa tem como destinatários aqueles jovens interessados na Mensagem de Jesus Cristo e que necessitem de orientação para passar à fase de formação cristã.

Objectivos:

- Experimentar Jesus Cristo como alguém próximo e amigo;

- Suscitar uma sincera conversão a Cristo;

- Suscitar uma opção inicial pelo Evangelho;

- Optar pelos valores do Reino.

Aqui o grupo tem uma função imprescindível, por ser um veículo de maturidade, no qual o jovem procura, analisa e ensaia as novas atitudes de mudança pessoal e social que interagem no seu contexto, o qual deverá ser aberto, responsável, plural e encarnado na realidade.

Partindo da proposta de Jesus Cristo – o Reino de Deus –, suscitar no jovem razões de busca de sentido da própria vida, para aderir à causa do Reino.

Etapa Três: Formação Cristã de Estilo Catecumenal (Iniciação Cristã)

16. Esta é a etapa mais demorada e destina-se a todos os jovens que, tendo percorrido as etapas anteriores, queiram chegar à maturidade na fé.

Objectivos: - Conhecer Jesus Cristo;

- Iniciar-se na celebração e na oração;

- Comprometer-se;

- Inserir-se na Igreja, através da Comunidade paroquial.

Não nos tornamos crentes se não descobrimos em Cristo o sentido da nossa vida, o centro da existência humana. Por isso, educar na fé, significa capacitar as pessoas para entrar em projectos com conteúdos precisos e objectivos.

Através de acções diversificadas – como sejam catequeses, celebrações, momentos de encontro, de estudo e de oração – é necessário motivar o grupo para ser uma pequena comunidade, laboratório da fé, onde as atitudes adoptadas por cada um demonstrem um crescimento humano – sustentado pela gratuidade, pelo diálogo e pela partilha – e cristão com a abertura ao Espírito, à fé, à oração, ao serviço, à fraternidade e ao compromisso.

Ao longo deste crescimento é necessário que o jovem também reconheça que a Igreja é “sacramento de salvação”[13] e amadureça o seu desenvolvimento até criar a consciência de que ser Igreja é uma tarefa comum de todos os baptizados.

Etapa Quatro: Fim do Caminho

17. Esta etapa destina-se a jovens adultos na fé e integrados na Comunidade eclesial, que tenham percorrido um caminho de crescimento na fé, no seio de um grupo cristão.

Objectivos:

- Acompanhar o jovem na inserção na Comunidade, descobrindo a concretização da sua vocação

- Dotar o jovem de elementos que o capacitem para continuar a formação na fé

- Capacitar para uma leitura crente da realidade

- Acompanhar cada jovem nas opções sociais ou políticas.

Como caminhar?

18. Perante esta proposta de caminhada temos de apostar na animação dos grupos para que as exigências deste projecto sejam concretizadas. O bom êxito da mesma passa pelo fazer um acompanhamento pessoal e qualificado aos jovens, possibilitando-lhes animadores preparados e bem formados, capazes de os contagiarem pela fé e de os acompanhar e amparar. Também aqui a missão dos párocos é imprescindível.

Sabendo que a animação é o instrumento privilegiado para resolver a função educativa que incluiu o crescimento na fé, tem de se alargar a outras tarefas como seja o caso do acompanhamento, da instrução, em suma, à iniciação da vida cristã.

Pelo que acabamos de ver, sentimos a necessidade de formar urgentemente os agentes de pastoral de jovens, através de acções específicas, integradas, tanto quanto possível, na Escola de Agentes de Pastoral.

Formação pretendida

19. É preciso que esta formação ajude a alcançar os seguintes objectivos:

- Discernimento de carismas, ajudando o agente na descoberta pessoal da capacidade para animação e orientação juvenil;

- Obtenção das qualificações e competências especificas para a Pastoral de jovens.

Metodologia:

- Fundamentação Teórica: Aprofundamento das bases da Fé, conhecimentos do projecto de Pastoral de jovens e do seu lugar dentro da missão da Igreja e da formação de agentes de pastoral de jovens e animadores. Dotar dos conhecimentos indispensáveis, na área teológica, espiritual e das ciências humanas, que permitam ao agente de pastoral de jovens realizar o melhor possível a sua missão.

- Realização prática: Comunicação de experiências e reflexão sobre eles, trabalho de dinâmicas, elaboração e aplicação de projectos.

A pastoral de jovens é uma missão da Igreja

20. Para que o trabalho Pastoral tenha sucesso é necessário que seja bem estruturado. Para além dos jovens e dos animadores é preciosa a colaboração dos Arcipreste e Párocos. A presença permanente do arcipreste e dos párocos nas acções da pastoral de jovens, como animadores dos animadores e dos jovens, é incontornável para que se alcance o pleno desenvolvimento desta missão. Para isso deve ser conhecido e trabalhado o Programa Pastoral diocesano a nível arciprestal e paroquial.

É também uma urgência o dotar a Equipa Arciprestal de Jovens com elementos preparados pastoralmente para este trabalho, procurando estar atentos às suas solicitações.

Os Movimentos

21. Os movimentos juvenis fomentam uma indiscutível riqueza no seguimento de Jesus, na vida da Igreja e na busca de respostas aos desafios que os tempos actuais apresentam. Para que continuem esta difícil tarefa é necessário que considerem a realidade pastoral nos seus planos de trabalho, estando integrados e empenhados na vida pastoral diocesana numa atitude de partilha recíproca de carismas.

Conclusão

22. Este documento que temos entre mãos foi elaborado com o objectivo de ajudar todos os agentes de pastoral de jovens a realizar a sua missão. Faz uma clara opção pela formação dos jovens e dos animadores, pelo que seria muito útil ter presente os documentos diocesanos Formação Permanente de Sacerdotes e Leigos e Formação Cristã na Arquidiocese, onde se podem encontrar mais indicações e sugestões sobre o modo como essa formação, nomeadamente a dos animadores, pode e deve ser realizada.

Mais do que modos concretos de agir, o objectivo que presidiu a este documento foi o de criar uma base comum, onde todos nos possamos encontrar e, respeitando a especificidade de cada um, intensificar o ser Igreja, tendo como meta Aquele que é tudo em todos (Cf 1Cr 15,28).



[1] Elaborado pelo sociólogo Manuel Luís Marinho Antunes, Universidade Católica Portuguesa.

[2] Bases para Pastoral Juvenil, http://ecclesia.pt/pjuvenil, 7.

[3] Cf CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Directório Geral da Catequese, ed SNEC, Lisboa 1998, 184-185.

[4] Cf Ap. 21,5.

[5] Cf. RITUAL DE INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS, in Enquirídio dos documentos da reforma litúrgica, ed. Secretariado Nacional de Liturgia, Fátima 1998.

[6] Cf Concilio Ecuménico Vaticano II, Constituição Gaudium et Spes, AAS 58 (1966) 1025-1120, 15-17.

[7] Gl 4,6.

[8] cf Rom 16, 26.

[9] Concilio Ecuménico Vaticano II, Constituição dogmática Dei Verbum, AAS 58 (1966) 817-836, 5.

[10] OBRA PONTIFÍCIA PARA AS VOCAÇÕES ECLESIÁSTICAS.Novas vocações para uma nova Europa, ED. Paulinas, Lisboa 1998, 22b.

[11] D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga, A Formação Cristã na Arquidiocese, http://www.diocese-braga.pt, 1.4.

[12] Cf 1Pd 2,15.

[13] Concilio Ecuménico Vaticano II, Constituição dogmática Lumen gentium, AAS 57 (1965) 5-71, 1 e 48; IDEM, Constituição Gaudium et Spes, AAS 58 (1966) 1025-1120, 45