Arquidiocese de Braga -

19 abril 2004

Alexandrina de Balasar - Santa para Portugual

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Jorge Ortiga

\nAlexandrina de Balasar - Santa para Portugal . Ninguém ignora a vocação universal à santidade como caminho para a Igreja. Por outro lado, todos reconhecem que os Santos não se limitam aos proclamados, solenemente, como tais. Acontece, porém, que a canonização ou beatificação dum membro da Igreja não é um mero elencar de mais um nome no catálogo. Com elas são anunciados diversos valores e dimensões que a Igreja Universal deve acolher. Que terá Alexandrina Maria da Costa a dizer à Igreja em Portugal? Sem pretender ser completo, sublinho três aspectos de grande utilidade. 1. Ela foi uma cristã simples e humilde. Na verdade, não chegou a concluir os estudos primários e “obrigatórios” naquela época. Esta “limitação” de conhecimentos, humanos e cristãos, não a impedirem de ser uma verdadeira evangelizadora. Fê-lo através dos seus escritos, que necessitam dum estudo teológico mais consistente e que nos obrigam a pensar em congressos, e, particularmente, da palavra oportuna e serena que oferecia a quem a procurava. Não pretendo desconsiderar a importância da reflexão teológica e da formação permanente dos nossos cristãos. Creio que esta necessita duma “alma” como experiência mística e de união com Deus. Trata-se de sublinhar a prioridade da dimensão contemplativa para que a palavra e o anúncio adquiram consistência. Será ousadia reconhecer que a Igreja em Portugal, para além dum empenho mais sólido no aprofundamento da mensagem cristã tem necessidade de “ver”, também, as doutrinas a partir do “mistério” o que só se consegue através duma consideração, teórica e prática, do valor da intimidade com Deus? Só a contemplação alicerça o anúncio da Palavra. 2. Nesta prioridade pela Evange-lização, a Eucaristia, alimento consistente da vida humana e cristã da Venerável Alexandrina, tornou-se o “segredo” e a coragem para a fidelidade em todos os momentos e horas. Ela conseguiu “eucaristizar” a sua vida. No meio de tantas iniciativas e actividades que a pastoral hodierna reclama, teremos de redescobrir a centralidade da Eucaristia. Trata-se de ultrapassar a norma da obrigatoriedade dum preceito e fazer com que tudo nasça desta ânsia interior de encontro com o divino. Ela, na celebração e na comunhão, terá de dizer mais Deus. E sabemos, por experiência, que não é suficiente o rubricismo escrupuloso. Urge maior preparação e vivência a envolver toda a comunidade para que a presença de Cristo não se reduza à Eucarística mas aconteça no encontro de “dois ou mais”. A Eucaristia terá de dar um sentido mais profundo e um valor mais consistente a Jesus no meio de “dois ou mais” que se amam. Só assim a Eucaristia se torna alimento para a Igreja e para o mundo moderno repleto de dores e sofrimentos. Ele pretende serenidade e calma e só a presença de Cristo na comunidade é uma resposta permanente. Depois, a presença eucarística provocará outra incidência na vida real das pessoas. 3. Se uma vida eucaristizada, tornada experiência no encontro verdadeiro da comunidade, foi a coragem para os sofrimentos e as dores que a Venerável Alexandrina experimentou, num cuidado e acompanhamento mais técnico e competente aos doentes, a Igreja em Portugal terá de redescobrir modos e meios de se fazer presente no concreto da dor e do sofrimento. São muitos aqueles que lutam sozinhos e não bastam as estruturas e instituições que cuidam dos doentes. Eles necessitam da presença e do carinho que só uma doação e entrega a esta causa pode oferecer. Há momentos históricos que exigem respostas novas. A evolução técnica ainda não eliminou nem iluminará, o rosto da dor. Se a medicina oferece muito, a presença, como sinal dum amor cristão, é a mais valia que se pode oferecer. A Beatificação de Alexandrina Maria da Costa deve questionar a Igreja em Portugal tornando-a mais evangelizadora através do testemunho, da eucaristia como fonte de vida nova e da atenção concreta ao mundo que sofre. + Jorge Ortiga, A. P.