Arquidiocese de Braga -

\n(Alocução do Senhor Arcebispo Primaz na tomada de posse do Senhor Dom António Marto, Bispo de Viseu) “Levantai-vos e vamos” “Quando chegou a “Sua hora” Jesus disse àqueles que estavam com Ele no horto do Getsemani, Pedro, Tiago e João, os discípulos particularmente amados por Ele: “Levantai-vos, vamos”. Não era só Ele que deveria “ir”, caminhando para o cumprimento da vontade do Pai, também eles deveriam partir”. Com estas palavras – e particularmente o “Levantai-vos! Vamos.” (Mc. 14, 42) – o Santo Padre quis sintetizar a sua auto-biografia a partir do dia da sua ordenação episcopal. Os apóstolos, depois da intimidade da última ceia, tinham-se resignado à inércia e permitiram que o sono os possuísse quando deveriam ser capazes de “vigiar” com o Mestre para encetar o derradeiro momento e ápice da aventura salvadora de Cristo feito homem. A “agonia” tornou-se mais dramática na solidão e já se tinham desvanecidos os Hossanas da entrada em Jerusalém. A presença de Cristo na história humana, através do Sacramento da Igreja, parece identificar-se com este momento da Sua paixão. A indiferença religiosa tenta impor os seus critérios e mesmo os mais íntimos e fervorosos correm o risco de acomodar-se no sono duma mera conservação da memória. O passado marcou e isto pode tranquilizar muita gente. O Bispo, vigilante atento, é, particularmente, enviado para lançar o alerta e a urgência interpelativa dum “Levantai-vos” comunitário que envolve todo o povo de Deus e acolhe a ordem do “Vamos” num itinerário de anúncio testemunhante, vivência celebrativa da fé e compromisso transformador do mundo. Encontro-me aqui na dupla qualidade de Arcebispo duma Arquidiocese que o D. António Marto serviu e de Metropolita desta Diocese de Viseu. Como Arcebispo de Braga expresso a gratidão sincera pelo ministério episcopal, exercido em sincera colegialidade e corresponsabilidade, percorrendo os caminhos verdejantes e insinuosos das comunidades do interior, onde, convicta e dum modo profundo, na dimensão teológica e pastoral, deixou idêntico convite do “Levantai-vos! Vamos”, que os cristãos e comunidades foram acolhendo. Que Deus o recompense. Como Metropolita quero recordar palavras do Santo Padre na Exortação Apostólica Pós-sinodal Pastores Gregis sobre o Bispo, Servidor do Evangelho de Jesus Cristo para a esperança do Mundo. “O compromisso do Bispo, no início dum novo milénio, está claramente delineado. É o seu compromisso de sempre: anunciar o Evangelho de Cristo, salvação do mundo. Mas tal compromisso aparece marcado por novas urgências, que exigem a dedicação concorde de todas as componentes do Povo de Deus. O Bispo há-de poder contar com os membros do presbitério diocesano e com os diáconos, ministros do sangue de Cristo e da caridade; com as irmãs e irmãos consagrados, chamados a ser na Igreja e no mundo testemunhas eloquentes do primado de Deus na vida cristã e da força do seu amor na fragilidade da condição humana; e com os fiéis leigos, dotados de maiores possibilidades de apostolado na Igreja, que constituem para a Pastores uma fonte de particular apoio e um motivo de especial conforto” (P.G. 74). Um novo Bispo é sempre motivo de renovada esperança. Mas, simultaneamente, é graça a acolher dum modo geral para que Cristo e a Igreja resplandeçam no contexto da modernidade. Importa, para isso, recentralizar-se na Sua pessoa, para partir daí na certeza de que nos acompanhará no caminho rumo a metas que só Ele conhece. Por ser esperança do mundo teremos de reconhecer que só Ele é a esperança que não engana e, em contemporaneidade, caminhar juntos e unidos pelos caminhos deste novo milénio. Por tudo isto, neste momento de entrega simbólica do Báculo e da Cátedra, como saudação, agradecimento e apresentação quis, talvez como apelo a toda a Diocese de Viseu, que saúdo no seu presbitério, comunidades religiosas e cristãos leigos, recordar a urgência dum “levantar-se” para caminhar em sintonia com o itinerário papal do “Duc in altum” e sugerir o estilo que credibilizará toda a acção pastoral. É um “vamos” que desconsidera aventureirismos pessoais ou de grupos para regressar à pessoa de Cristo num testemunho concreto e real de unidade e comunhão com o Bispo. “Levantai-vos! Vamos”! Viseu, tem uma história longa de fé. Toca-lhe uma missão apaixonante para que continue a ser motivo de esperança para todos e, particularmente, para quem sofre ou ainda não encontrou o sentido da vida. Sé Catedral, Viseu, 08.06.2004 + Jorge Ortiga, A. P.