Arquidiocese de Braga -

17 julho 2004

PROGRAMA DIOCESANO DE PASTORAL - 2004/2005

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Arquidiocese de Braga

\nANO VOCACIONAL «LEVANTAI-VOS! VAMOS!» Mc 14, 42 «LEVANTAI-VOS! VAMOS!» Mc 14, 42 (Introdução ao Programa Diocesano de Pastoral) Há frases do Evangelho que ecoam nas nossas consciências em momentos particulares. Pensando numa ideia capaz de motivar a Arquidiocese para um ano verdadeiramente vocacional, encontrei-me com a autobiografia de Sua Santidade o Papa a partir da sua ordenação episcopal. O difícil da missão para a qual Deus o chamava, colocou-o no ambiente do Jardim das Oliveiras. Aí Jesus sentiu o apelo para responder à verdadeira razão da Sua existência humana e parecia-lhe discernir uma incapacidade perante a dor a experimentar. Mergulhado na intimidade com a vontade do Pai, parte e procura motivar o alheamento dos discípulos que escolhera para amigos. Não havia rodeios nem outras alternativas. Importava enveredar na alegria de entregar a vida para salvação do mundo. Aqui e agora, a nossa Arquidiocese encontra-se perante um contexto social e religioso diferente. Continuamos com uma caracterização religiosa e reconhecemos os imensos pedidos que nos são formulados. Parecemos poucos e cansados. O futuro inquieta e incomoda. Acontece, porém, que poderemos correr o risco de continuar embalados numa história do passado. Por um lado, lamentamos a diminuição das vocações e, por outro, deixamos de investir acreditando que o dono da messe não deixará o Seu povo sem a solicitude do Seu amor. Daí que as palavras do Evangelho para o momento histórico da nossa Arquidiocese são as de Jesus. «Levantai-vos! Vamos!» «Levantar-se» para a alegria do testemunho e do anúncio de um amor de Deus pela humanidade. «Ir» encontrando iniciativas de propostas e nunca em atitude de expectante. Urge sair e partir para criar uma cultura de chamamento que se ouça bem alto. O «vamos» pode ser sinónimo de um estilo a comprometer todos e cada um. Ninguém pode alhear-se ou situar-se em finalidades diferentes. Todos devem caminhar com gestos que chamem e interpelem as famílias e os jovens. Gostaria que não se tratasse de mais um Programa. É um ano diferente que está em questão. Também eu diria: Arquidiocese «levanta-te» no testemunho e suscita a alegria de Seguir Jesus para que muitos respondam: «Eu irei». 18 de Julho de 2004 + Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz TEXTO-BASE DO ANO VOCACIONAL 2004/2005 INRODUÇÃO 1. A Pastoral das Vocações, como parte integrante da vida da Igreja, é uma das suas preocupações fundamentais. A carta «Novo Millenio Ineunte» coloca o tema vocacional no seu contexto mais natural e expressivo: a vida da Igreja. «Um generoso empenho certamente há-de ser posto – sobretudo através de uma oração insistente ao Senhor da messe (cf. Mt 9,38) – na promoção das vocações ao sacerdócio e de especial consagração. Trata-se dum problema de grande importância para a vida da Igreja em todo o mundo» . Esta preocupação constante da Igreja pelas vocações está no coração do nosso Bispo. Com este Ano Vocacional queremos contribuir para a renovação e dinamização da Pastoral Vocacional da Arquidiocese de Braga de uma forma mais orgânica e empenhada de todos os agentes deste sector: pais, educadores, escolas, movimentos, institutos de vida consagrada, paróquias, dioceses. Sem esquecer outras formas de vocação na Igreja, que foram e poderão ser objecto de outros documentos orientadores, a nossa proposta incidirá particularmente nas vocações ao sacerdócio ministerial e à vida de especial consagração religiosa e secular. Apresentaremos alguns princípios, orientações extraídas das Bases para a Pastoral Vocacional, linhas de força e estruturas pastorais, a partir da realidade eclesial em que nos situamos. BREVE PANORAMA DA SITUAÇÃO CARACTERÍSTICAS DA CULTURA ACTUAL – «O HOMEM SEM VOCAÇÃO» 2. O mundo contemporâneo está cada vez mais sujeito a mudanças rápidas e profundas. As questões relativas à fé e à Igreja não se podem desligar da metamorfose cultural que acontece vertiginosamente no mundo que habitamos, no espaço europeu em que nos situamos e no país em que vivemos. O culto da liberdade fascina os jovens, mas estes são confrontados e embrenhados num mundo onde impera: . O individualismo; . O comodismo; . O desencanto; . A apatia; . A ausência de certezas absolutas; . A ausência de ideais, de utopias e de compromissos a favor do bem comum; . A infidelidade (dificuldade em assumir compromissos para sempre). Esta é uma lógica que reduz o futuro à escolha de uma profissão, à garantia económica ou à satisfação sentimental-emotiva, dentro de horizontes que, de facto, reduzem o desejo de liberdade e a possibilidade do sujeito a projectos limitados, na ilusão de ser livre. São escolhas sem nenhuma abertura ao mistério e ao transcendente e, talvez, também com escassa sensibilidade em relação à vida, própria e dos outros, da vida recebida como dom e a ser gerada nos outros. Por outras palavras, é uma sensibilidade e mentalidade que corre o risco de projectar um tipo de cultura anti-vocacional. Equivale a dizer que, na Europa culturalmente complexa e sem pontos de referência bem precisos, o modelo antropológico que prevalece parece ser o do «homem sem vocação». Não há vocação para coisa alguma, não se decide a vida o sentido vocacional. Esta seria uma descrição possível: uma cultura pluralista e complexa tende a produzir jovens com uma identidade incompleta e fraca, com a consequente indecisão crónica diante da escolha vocacional. Muitos jovens não dominam nem mesmo a «gramática elementar» da existência; são nómadas: circulam, sem se fixar ao nível geográfico, afectivo, cultural, religioso, eles «vão tentando»! No meio da grande quantidade e diversidade das informações, mas com pobreza de formação, mostram-se dispersos, com poucas referências e poucos referenciais, o que atrasa e muitas das vezes impede um saudável processo de crescimento e de identificação pessoal. Esta falta de identidade explica, em grande parte a obsessão juvenil pela própria imagem, camuflando desse modo, a debilidade da sua estrutura. «Por isso têm medo do futuro, sentem-se ansiosos diante de compromissos definitivos, e questionam-se a respeito do seu ser. Se, por um lado, a qualquer custo buscam autonomia e independência, por outro, como refúgio, tendem a ser muito dependentes do ambiente sócio-cultural e a procurar a satisfação imediata dos sentidos: daquilo que ‘me agrada’, daquilo que ‘faz com que eu me sinta bem’, num mundo afectivo feito sob medida» . De um modo geral, os jovens actuais movem-se dentro de uma concepção de vida focalizada no «aqui e agora»: o futuro deixou de ser espaço de desejo e de promessa para ser dúvida, insegurança ou ameaça; em consequência, radicam os seus objectivos na satisfação do presente: o desejo de viver e aproveitar cada dia suplanta os projectos pessoais a longo prazo. Também ao nível da transcendência, no âmbito da fé e do religioso se denotam características próprias: grande número de jovens é sensível a Deus a quem reza privadamente em momentos significativos enquanto tende a alhear-se da prática religiosa institucionalizada; trata-se de uma geração que, apesar de sensível ao religioso, muitas vezes apresenta uma religiosidade difusa, sem implicações éticas, facilmente embrulhada em linguagem de New Age e descomprometida. Por outro lado, reconhece-se nos últimos anos, uma crescente sensibilidade de muitos jovens às causas de solidariedade e algum compromisso social, exemplificado pelo entusiasmo pelo voluntariado diverso, o que não deixa de ser significativo e desafiador de reflexão: este tipo de participação não implica um compromisso regular. ELEMENTOS PARA REFLEXÃO EXTRAÍDOS DAS BASES DA PASTORAL VOCACIONAL A vida como vocação, no seu apelo fundamental à santidade 3. A Igreja é comunidade de crentes chamados à «juventude da santidade», à vocação universal à santidade, sublinhada com força pelo Concílio (LG 32) e repetida em várias circunstâncias pelo Magistério. Agora é tempo de que este apelo retome força e atinja cada crente, para que cada qual tenha «condição de compreender com todos os santos, qual seja a largura, o comprimento, a altura e a profundidade» (Ef 3,18) do mistério de graça confiado à própria vida. A nossa terra é ávida não só de pessoas santas, mas de comunidades santas, tão enamoradas da Igreja e do mundo, que saibam apresentar ao próprio mundo uma Igreja livre, aberta, dinâmica, presente na história hodierna, próxima dos sofrimentos do povo, acolhedora para com todos, promotora da justiça, atenta aos pobres, não preocupada com sua minoria numérica nem em colocar marcos divisórios à própria acção, não apavorada pelo clima de descristianização social (real, mas talvez não tão radical e geral), nem pela escassez (muitas vezes só aparente) dos resultados. LINHAS DE FORÇA DA PASTORAL VOCACIONAL Uma cultura do chamamento 4. Comunidade de chamados, a Igreja chama. «As novas condições históricas e culturais exigem que a pastoral das vocações seja vista como um dos objectivos primários de toda a comunidade cristã ». Isto supõe e exige dar início a uma cultura do chamamento, ou seja, passar de uma atitude da espera e do acolhimento dos que se sentem chamados e se oferecem para as diversas vocações, especialmente para o sacerdócio ministerial e para a vida de especial consagração religiosa e secular, a uma pastoral da proposta directa, do convite e do chamamento pessoal. Conscientes de que as Vocações são um dom de Deus, condicionado pelo nosso esforço de as suscitar, descobrir e acompanhar, torna-se urgente o anúncio explícito da excelência e da riqueza das vocações de especial consagração às crianças, aos adolescentes e aos jovens. Consequentemente, a pastoral deve ser mais corajosa e franca em relação à proposta vocacional, mais concreta e incisiva na apresentação da mensagem-proposta, mais dirigida à pessoa e não apenas ao grupo, mais feita de envolvimento concreto e não de apelos vagos a uma fé abstracta e distante da vida, mais provocadora do que consoladora. A responsabilidade é de toda a Igreja 5. Todos e cada um dos membros da Igreja devem ser mediadores da proposta vocacional. Os Bispos e os Sacerdotes têm um lugar especial nesta mediação que, de modo algum, se esgota neles. Por força da sua fé, o discípulo de Jesus deve tomar sobre si a vocação do outro. O ministério do apelo vocacional diz respeito a todo o cristão: aos pais, aos catequistas, aos educadores, aos professores, em especial os professores de Educação Moral e Religiosa Católica, e não apenas aos bispos, presbíteros e diáconos ou aos consagrados da vida religiosa e secular. Do mesmo modo, o apelo vocacional, deve ser uma acção que envolve toda a comunidade nas suas diversas expressões: famílias cristãs, grupos, movimentos, paróquias, dioceses, institutos religiosos e seculares. A acção vocacional é a categoria unificadora da pastoral em geral 6. Acolhendo os sinais da presença do Espírito na Igreja, «trata-se antes de mais nada de introduzir o anúncio vocacional nos sulcos da pastoral ordinária ». O objectivo da pastoral e o critério de avaliação está nessa relação intrínseca com a dimensão vocacional. A pastoral vocacional entende-se em íntima relação com as outras dimensões da pastoral (familiar e cultural, litúrgica e sacramental), com a catequese e as formas de catecumenato, com os vários grupos de animação e formação cristã, com os movimentos e, especialmente, com a pastoral juvenil. Em todo este processo terá um papel importante a solicitude dos pais cristãos. A Pastoral Juvenil é inseparável da Pastoral Vocacional 7. Como já afirmámos no Documento Bases para a Pastoral Juvenil, «a pastoral juvenil é inseparável da pastoral vocacional, dado que são especialmente os jovens que se encontram perante os desafios do compromisso, que resulta de uma livre e esclarecida opção de vida, em ordem ao futuro. A educação da fé deve, portanto, de modo sistemático, abrir os jovens para a descoberta e compromisso, por força da fé e da graça baptismal, para a vida matrimonial, para o ministério ordenado, para a consagração religiosa ou laical, para as novas formas estáveis de empenhamento apostólico na Igreja e na sociedade (…) Os Serviços da pastoral juvenil e da pastoral vocacional devem, por tudo isto, trabalhar em estreita colaboração» . Trata-se, sobretudo, de vocacionalizar a pastoral juvenil de modo a encaminhar e possibilitar a procura do Senhor e o modo pessoal de O seguir. «Não se pode esquecer que a idade evolutiva é fortemente projectual; e uma autêntica pastoral juvenil não pode deixar de lado a dimensão vocacional; pelo contrário, deve assumi-la, porque propor Jesus Cristo significa propor um específico projecto de vida. Daqui uma fecunda colaboração pastoral, embora na distinção dos dois âmbitos: seja porque a pastoral juvenil abraça outras problemáticas além da vocacional, seja porque a pastoral vocacional não diz respeito apenas ao mundo juvenil, mas tem um horizonte mais amplo e com problemáticas específicas ». Neste sentido, todos os intervenientes na educação dos jovens são também corresponsáveis na pastoral vocacional, e terão de ter em conta os desafios que daqui nascem. A oração pelas vocações 8. «A oração é a única que pode accionar aquelas atitudes de confiança e de abandono, indispensáveis para pronunciar o próprio «sim» e superar medos e incertezas. Toda a vocação nasce da in-vocação. Nas comunidades diocesanas e paroquiais, a oração que se tornou «incessante», dia e noite, é uma das estradas mais percorridas para criar nova sensibilidade e nova cultura vocacional favorável ao sacerdócio e à vida consagrada ». Dom do Pai e situadas no plano do mistério que só Deus conhece e pode revelar, as vocações nascem e desenvolvem-se graças à mediação da Igreja orante. Na verdade, Deus ao prometer à sua Igreja pastores segundo o Seu coração, também diz: “Rogai ao Senhor da messe que envie trabalhadores para a Sua messe” (Mt 9,38). Por isso, a oração, que empenha não apenas os indivíduos mas também todas as comunidades eclesiais, é a base de toda a pastoral vocacional e é caminho para o discernimento vocacional. A oração, em particular a eucaristia e a adoração eucarística, possibilita o encontro profundo do orante com a pessoa de Jesus Cristo em toda a sua plenitude e a resposta ao seu chamamento, deixando tudo para o seguir. Adquire aqui particular importância a oração da “lectio divina” em perspectiva vocacional. A leitura frequente da Palavra de Deus, feita na oração, leva o orante a dispor a mente e o coração para reconhecer a Palavra que chama sem cessar. As “casas de oração” ou “casas da Palavra” são fundamentais para as vocações. A dimensão interpelativa da liturgia 9. «Ponto culminante e fonte de toda a vida da Igreja, e em particular da oração cristã, a liturgia desempenha também um papel indispensável e uma incidência privilegiada na pastoral das vocações. Aquela, de facto, constitui uma experiência viva do dom de Deus e uma grande escola para a resposta ao seu chamamento. Como tal, cada celebração litúrgica, e em primeiro lugar a Eucaristia, revela-nos o rosto de Deus, faz-nos comungar do mistério da Páscoa, ou seja, da ‘hora’ para a qual Jesus veio ao mundo e livre e voluntariamente se encaminhou em obediência ao chamamento do Pai (cf. Jo 13, 1), nos manifesta a fisionomia da Igreja como povo de sacerdotes e comunidade bem organizada na variedade e complementaridade dos carismas e das vocações ». Torna-se necessário redescobrir a liturgia como lugar de encontro vocacional: - Na celebração eucarística, exaltando o sentido da oferta espontânea, consciente, generosa e total de si mesmo, e a oblação da própria vida no desempenho dos diversos ministérios necessários para o serviço do Povo de Deus e da causa de Jesus. Neste aspecto há que prestar atenção aos acólitos. Eles «constituem um viveiro de vocações sacerdotais... » se bem acompanhados. - Na celebração dos vários sacramentos, especialmente do Crisma, aprofundando a dimensão vocacional da vida cristã e abrindo para a compreensão dos diversos ministérios indispensáveis à vida e à missão da comunidade cristã, bem como à participação voluntária e gratuita na comunidade humana ; - Na celebração do Matrimónio fazendo descobrir o matrimónio como vocação e a família como Igreja doméstica, mãe e geradora de vocações. A redescoberta do acompanhamento espiritual pessoal 10. Para cumprir a sua missão de guia de cada pessoa na descoberta da própria vocação, a acção vocacional deve empenhar-se na redescoberta da tradição do acompanhamento espiritual pessoal mediante o qual se visibiliza o acompanhamento do Mestre interior que é o Espírito, o grande animador de toda a vocação, Aquele que acompanha o caminho para que chegue à meta. Este acompanhamento, não sendo exclusivo dos sacerdotes, exige do acompanhante dedicação de tempo e energias, mesmo que se tenham que relegar para segundo plano outras coisas consideradas boas e úteis, competência e entusiasmo para ajudar as pessoas a seguir Cristo. A alegria da fidelidade à vocação 11. A acção vocacional deve ajudar a viver fielmente aqueles que foram chamados a uma determinada vocação. Insere-se no dinamismo de uma autêntica pastoral de fidelidade à própria vocação, que tem por base a dimensão testemunhal da vocação como caminho de felicidade no serviço da Igreja. A qualidade da nossa vida pode oferecer uma imagem humana do chamamento de Deus. Os jovens não se deixam enganar: quando vêm ter convosco, querem ver aquilo que não vêem em mais parte nenhuma. Tendes uma responsabilidade imensa no que diz respeito ao amanhã: especialmente os jovens consagrados, testemunhando a sua consagração, podem induzir os da sua idade à renovação da própria vida. O amor apaixonado por Jesus Cristo é uma atracção poderosa sobre os outros jovens, que Ele, na sua bondade, chama a segui-Lo de perto e para sempre. Os nossos contemporâneos querem ver, nas pessoas consagradas, a alegria que brota do facto de estar com o Senhor ». Também no Documento Final do Congresso sobre Vocações para o Sacerdócio e a Vida Consagrada se pode ler: «Gostaríamos também de lembrar que não existe nada mais estimulante do que um testemunho tão apaixonado da própria vocação, capaz de tornar-se contagioso. Nada é mais lógico e coerente do que uma vocação que gera outras vocações e, com todo o direito, vos torna ‘pais’ e ‘mães’. Gostaríamos de lembrar que somente um testemunho coral torna eficaz a animação vocacional, e que, antes de tudo, a assim chamada crise vocacional depende do ‘escondimento’ de algumas testemunhas, o que enfraquece a mensagem ». As experiências do voluntariado 12. A acção vocacional deverá fomentar e apoiar as experiências do voluntariado como “pastoral do serviço” gratuito, especialmente aos mais pobres e necessitados, educando para o valor do sacrifício, da doação incondicional e gratuita, para o empenhamento desinteressado, para aceitar o convite a perder a vida. Deste modo, o voluntariado converter-se-á em caminho de compromissos progressivos que podem levar, de chamamento em chamamento, a decisões definitivas, até numa vocação de especial consagração. DESAFIOS À PASTORAL VOCACIONAL Necessidade e urgência de uma estrutura global 13. Falando especificamente das vocações ao sacerdócio e de especial consagração, João Paulo II propõe esta orientação fundamental para o novo milénio: «é necessário e urgente estruturar uma vasta e capilar pastoral das vocações, que envolva as paróquias, os centros educativos, as famílias, suscitando uma reflexão mais atenta sobre os valores essenciais da vida, cuja síntese decisiva está na resposta que cada um é convidado a dar ao chamamento de Deus, especialmente quando este pede a total doação de si mesmo e das próprias forças à causa do Reino ». A recente Exortação Apostólica Ecclesia in Europa fala da vocação como missão de toda a Igreja ao serviço do Evangelho da esperança: «Servir o Evangelho da esperança com uma caridade que evangeliza é obrigação e responsabilidade de todos. De facto, seja qual for o carisma e o ministério de cada um, a caridade é a estrada mestra apontada a todos e que todos podem percorrer: é a estrada que toda a comunidade eclesial é chamada a percorrer seguindo as pegadas do seu Mestre ». Nova cultura vocacional 14. Promover uma cultura da vocação implica fomentar a cultura da vida e da abertura à vida, discernir o significado do viver e do morrer, incentivar a busca de sentido e o desejo da verdade, colocar as grandes perguntas que dão sentido pleno às pequenas respostas que provocam grandes decisões, como a opção pela fé. A penúria das “vocações específicas” tem a ver com a ausência de cultura da vocação, apoiada num modelo de homem sem vocação. Esta nova cultura vocacional, inerente a todo o crente e à comunidade cristã, abrange todo um conjunto de valores não muito emergentes na cultura actual: a gratidão, o acolhimento do mistério, a compreensão do homem como ser na sua finitude, a abertura ao transcendente, a disponibilidade em se deixar chamar pelos outros ou pelo Outro, a confiança em si próprio e no próximo, a liberdade de acolher responsavelmente o dom recebido. «Salto de qualidade » na pastoral vocacional 15. Este «salto de qualidade» significa a exigência de uma mudança radical, que tenta compreender a direcção que Deus está a imprimir à nossa história: - A pastoral das vocações como expressão da maternidade da Igreja, aberta ao plano de Deus que nela gera vida; a promoção de todas as vocações; - A coragem de apresentar a todos o anúncio e a proposta vocacional; - A actividade vocacional marcada pela esperança cristã, que nasce da fé e se projecta na novidade e no futuro de Deus; - A certeza de que em toda a pessoa há um dom de Deus à espera de ser descoberto; - O objectivo da promoção vocacional como serviço à pessoa para que saiba discernir o projecto de Deus na sua vida para a edificação da comunidade; - A certeza de que Deus continua a chamar em toda a Igreja e em todo o lugar; - A educação vocacional inspirada no método do acompanhamento; - O animador vocacional como educador para a fé e formador de vocações, numa acção mais conjunta; - A coragem do inconformismo e do questionamento, na busca de um novo impulso criativo e testemunhal; - A vocação como realização profunda da pessoa, na resposta ao chamamento especial de Deus. ESTRUTURAS PASTORAIS 16. A Igreja como comunidade de convocados deve manifestar em toda a sua acção vocacional a comunhão das diferentes vocações entre si e a preocupação por todas as vocações. Por isso, na direcção, na orientação e nas actividades de todos os organismos e estruturas, a nível paroquial, diocesano e nacional, deverão estar representadas, na sua pluralidade, as vocações e ministérios eclesiais. Esta exigência não corresponde apenas a uma questão meramente organizativa, mas é manifestação e fruto do espírito novo que deve estar presente na pastoral vocacional da Igreja, que é o espírito de comunhão. «A crise vocacional é também crise de comunhão em promover e fazer crescer as vocações» . As vocações desenvolvem-se onde se vive um espírito autenticamente eclesial, numa Igreja como comunhão. 17. Dissemos que toda a acção pastoral tem uma dimensão vocacional. Nesse sentido, temos a tarefa de promover formas para que esse dinamismo vocacional se concretize nas nossas Igrejas particulares: «o Bispo há-de procurar que a pastoral juvenil e vocacional seja confiada a sacerdotes e outras pessoas capazes de transmitirem, com o entusiasmo e o exemplo da sua vida, o amor a Jesus. A sua missão será acompanhar os jovens, por meio duma relação pessoal de amizade e, se possível, de direcção espiritual, para ajudá-los a identificarem os sinais de vocação de Deus e a buscarem a força para lhe corresponder na graça dos sacramentos e na vida de oração, que é primariamente uma escuta de Deus que fala» . Nas dioceses e paróquias, famílias e centros educativos, movimentos e institutos de vida consagrada, é urgente e necessário que todos se envolvam nas estruturas da pastoral das vocações de uma maneira empenhada e interpeladora. 18. A acção vocacional não se pode realizar de um modo ocasional, esporádico e fragmentado, mas de forma permanente, sistemática e programada. Para isto tem necessidade de estruturas e organismos que animem, coordenem e unifiquem as forças ao serviço de todas as vocações. Isto exige, nos diferentes níveis, uma equipa suficiente de pessoas plenamente disponíveis e dedicadas à realização destes programas. Nesta perspectiva de pastoral vocacional aberta a toda a vocação, apontamos estruturas cuja acção vocacional procurará dar uma atenção particular às vocações sacerdotais e de especial consagração. Além de procurarem gerar dinamismos de comunhão e de inserção da perspectiva vocacional em toda a pastoral da Igreja, os vários organismos e estruturas pastorais, já existentes ou a serem criados, deverão assumir com todo o coração: «a promoção de uma autêntica cultura vocacional na sociedade civil e eclesial, e a formação dos educadores-formadores vocacionais, verdadeiro elemento central e estratégico da actual pastoral vocacional» . A nível paroquial 19. Reconhecendo que toda a acção vocacional é a «categoria unificadora da pastoral em geral», o Conselho Pastoral Paroquial deve ser o lugar privilegiado do interesse pela Pastoral das Vocações nas paróquias. Sinal de unidade e de comunhão e lugar onde brotam as preocupações, necessidades e esperanças da comunidade cristã, o Conselho Pastoral Paroquial deverá, na sua programação anual, prever e promover que toda a pastoral seja vocacional e, nomeadamente: - Sensibilizar para uma visão da comunidade paroquial como uma comunidade de ministérios; - Sensibilizar para a realidade das vocações, nomeadamente para as vocações de especial consagração; - Sensibilizar as famílias, os catequistas, os educadores, os movimentos, os agentes pastorais para a urgência da Pastoral Vocacional. A nível diocesano 20. A presença activa de um Centro (Serviço, Secretariado, Obra, Departamento) Diocesano das Vocações tem como finalidade envolver toda a diocese no despertar das vocações e no seu acompanhamento, promovendo uma acção vocacional unificada, ao serviço da comunhão. Sem absorver as funções dos outros organismos diocesanos, o Centro Diocesano das Vocações, deve a todos animar para que, no terreno que lhes é próprio, tomem em consideração a responsabilidade no campo das vocações. Sob a orientação do Bispo Diocesano e com a presença dos representantes de todas as Vocações existentes na Diocese, este Centro (Serviço, Secretariado, Obra, Departamento) tem como funções: - Ajudar a que a Pastoral Vocacional se insira nos vários itinerários da pastoral diocesana; - Ser lugar de encontro de pessoas, instituições e associações, para que todos se comprometam na acção vocacional, respeitando os carismas e tarefas de cada um, nomeadamente as famílias, os movimentos, os institutos de vida consagrada, os institutos seculares, os educadores, os professores, etc. - Preparar e oferecer subsídios pastorais de utilidade comum; - Promover a formação de educadores e animadores vocacionais. - Integrar todos os promotores vocacionais da vida consagrada masculina e feminina, para consolidar esta parte importantíssima da estrutura da Pastoral Vocacional Arquidiocesana. PROGRAMAÇÃO PASTORAL 2004/2005 INTRODUÇÃO O Ano Vocacional tem como grande objectivo ajudar a Igreja a perceber-se como “assembleia dos vocacionados e vocacionadas”. Sabemos que “a vocação define, em certo sentido, o ser profundo da Igreja ainda antes do seu operar. No próprio nome da Igreja, Ecclesia, está indicada a sua íntima fisionomia vocacional, porque ela é verdadeiramente ‘convocação, assembleia dos chamados” (PDV, 34). Com a realização do Ano Vocacional em 2004/05 a Igreja em Braga pretende motivar todos os baptizados para que se reconheçam como pessoas que foram chamadas pelo Pai (Jo 6,44.65), escolhidas pelo Filho (Jo 15,16) e enviadas em missão pelo Espírito (Act 13,1-3). Esta consciência vocacional criará a convicção de que todos, sem excepção, somos chamados a sermos santos no amor (Ef 1,4); levará também a uma animação vocacional que inclua todas as vocações, de que a comunidade tem necessidade para cumprir a sua missão. A meta deste Ano Vocacional é tornar realidade a proposta de João Paulo II (PDV, 34), ajudando a nossa Igreja a ter, de facto, uma fisionomia vocacional; um povo convocado pela Trindade para o serviço em favor da vida, da humanidade, de modo particular dos que são excluídos, com os quais Cristo se quis identificar (cf. Mt 25,31-46). Se houver esta consciência profunda de que somos pessoas chamadas para a missão, o nosso agir será mais concreto, corajoso, animado e constante. Outro elemento a ser dinamizado, fundamental para a vitalidade da Igreja, é a convicção de que todos os baptizados, sem excepção, são responsáveis pelo cuidado das vocações; a consciência de que o protagonista, o sujeito activo da animação vocacional é a comunidade eclesial enquanto tal e não apenas algumas pessoas. Junto com o protagonismo vocacional surge a paixão pelo anúncio da Palavra, suscitando na Igreja “uma nova missionariedade, que não poderá ser delegada a um grupo de ‘especialistas, mas deverá corresponsabilizar todos os membros do povo de Deus” (NMI, 40). O resultado desse processo – a ser finalmente atingido em toda a Diocese – é que as paróquias e comunidades deixem de considerar a dimensão vocacional como um elemento secundário, um acessório, uma pastoral a mais, um momento isolado, uma “simples parte” da pastoral global. Espera-se, a partir deste Ano Vocacional, com a graça de chegarmos à convicção, traduzida numa prática concreta, de que a dimensão vocacional, mais do que uma pastoral entre outras, é uma dimensão conatural e essencial para a vida da Igreja e para a sua acção evangelizadora (PDV, 34). 1. OBJECTIVO GERAL Promover uma cultura vocacional capaz de suscitar uma experiência religiosa que leve à relação pessoal com Cristo em cujo o encontro se descobrem as vocações específicas. 2. Objectivos específicos 1. Incentivar a dimensão interpelativa da liturgia; 2. Redescobrir o acompanhamento espiritual pessoal; 3. Viver a alegria da fidelidade à vocação; 4. Fomentar as experiências do voluntariado; 5. Sensibilizar para uma visão da comunidade paroquial como uma comunidade de ministérios, carismas e vocações; 6. Sensibilizar para a realidade das vocações, nomeadamente para as vocações de especial consagração; 7. Sensibilizar as famílias, os catequistas, os educadores, os movimentos, os agentes pastorais para a urgência da Pastoral Vocacional; 8. Criar equipas de animação vocacional; 9. Dinamizar, entre outras, a Semana Diocesana dos Seminários e a Semana de Oração pelas Vocações. 10. Ajudar a que a Pastoral Vocacional se insira nos vários itinerários da pastoral ordinária (diocesana); 11. Promover a formação de educadores e animadores vocacionais. 4. LINHAS DE ACÇÃO A nível paroquial 1. Rezar pelas vocações: - Que em cada paróquia se estabeleça a Hora Santa Vocacional. - Promover grupos de oração pelas vocações. - Ter presente a dimensão vocacional em cada Eucaristia (homilias, oração dos fiéis). - Promover e divulgar as semanas de Oração pelas vocações e pelos seminários. - Convidar as famílias a fazer oração permanente pelas vocações, para que desde o seu seio e com o seu apoio, surjam muitas vocações sacerdotais e consagradas para o serviço da Igreja. - Motivar os agentes da pastoral da saúde para a promoção da oração pelas vocações nas visitas aos doentes. - Outras iniciativas de oração pelas vocações (Rosário Vocacional, Via Sacra Vocacional) que podem realizarem-se e diversos momentos e estâncias, a nível paroquial ou de grupos - Organizar retiros vocacionais por ocasião do Crisma. 2. Destinar em algum ou alguns dias da semana, tempo concreto, dado a conhecer, para acolhimento e atendimento individual de crianças, adolescentes e jovens (direcção espiritual). 3. Criar ou consolidar a formação de equipas vocacionais paroquiais, com a finalidade de animar a oração pelas vocações e ajudar a inserir a dimensão vocacional no interior dos distintos sectores pastorais da paróquia. A criação destas equipas (onde não existam) pode ser feita em coordenação com o Departamento Diocesano das Vocações. 4. Começar reuniões e encontros pastorais com Lectio Divina sobre temas vocacionais. 5. As reuniões das equipas de acólitos, além da preparação litúrgica podem abordar temas vocacionais. 6. Promover visitas aos seminários e casas religiosas, com momentos de partilha da própria caminhada vocacional. 7. Afixação de cartazes com mensagens vocacionais. 8. Apresentação da vida e da vocação de grandes figuras da Igreja: São Paulo, Francisco de Assis, Teresa de Calcutá… A nível arciprestal 1. Dedicar um espaço das reuniões do clero para a oração centrada na consagração e missão pastoral. 2. Dedicar um espaço das reuniões do clero para a apresentação da programação pastoral 2004/05: Ano Vocacional – «Levantai-vos! Vamos!», e para o estudo de documentos de carácter vocacional como sejam: Documento final do Congresso sobre Vocações para o Sacerdócio e Vida Consagrada. Novas Vocações para uma Nova Europa; Bases para a Pastoral Vocacional. 3. Constituição das Equipas Arciprestais Vocacionais. 4. Que as peregrinações arciprestais sejam de índole vocacional. A nível diocesano - Promover uma assembleia sacerdotal sobre «A fidelidade alegre como testemunho vocacional». - Fim-de-semana de oração e reflexão para seminaristas, noviços e noviças. - Assembleia com os movimentos sobre a corresponsabilidade vocacional. (Vigília do Cristo Rei). - Os dias diocesanos (Juventude, Família, Catequese, etc.) devem ser de cariz e dinâmica vocacional. - Valorização do dia das ordenações. - Aprofundar a questão vocacional nas aulas de EMRC.