Arquidiocese de Braga -

8 maio 2005

Um Curso Para um Mundo Novo

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D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga

\nA Bênção dos Finalistas coincide com a festa litúrgica da Ascensão do Senhor e esta expressa os sentimentos dos discípulos de Cristo na hora da despedida. Sublinhavam uma certa desilusão e manifestavam uma convicção. Para eles seria Cristo a restaurar o Reino de Israel o que lhes proporcionaria um estatuto de felicidade facilmente adquirida. Só que a resposta de Cristo é verdadeiramente provocante ao afirmar que toca a cada um comprometer-se para que a vida readquira sentido e plenitude. “Vós recebeis a força do Espírito Santo” e é com esta força que transformareis as realidades adversas. Sei que concluir um curso é mistura dum sentimento de alegria e de perplexidade. Algo foi concluído, com maior ou menor custo, e agora? O que acontecerá? Nas últimas semanas ouvimos os governantes manifestarem a intenção de revitalizar a economia para combater o desemprego desafiando o povo português a uma reestruturação do tecido industrial através duma adaptação às novas exigências da competitividade internacional com uma verdadeira aposta na qualidade. Só que, por outro lado, fomos alertados para os números preocupantes do mesmo desemprego assim como para a situação melindrosa dos empregos precários e transitórios. Na verdade, sabemos que a percentagem dos desempregados é preocupante com o número a crescer duma maneira alarmante. Teremos de tomar consciência desta realidade e acreditar que não bastam as intenções e propostas governamentais. Toca-nos reagir e reconhecer que se impõe uma criatividade grande, um investimento de todas as energias para criar condições de trabalho para todos. Sem consciencializar-se da gravidade da situação não iremos a lado nenhum. Os discursos podem ser mera demagogia se não pautarmos a vida pelo risco de oferecer o contributo imprescindível das nossas qualidades e habilitações académicas. Não é fácil viver. Parece-me que, muitas vezes, nos deixamos embalar transferindo as responsabilidades quando, conscientes dos nossos direitos e reivindicando das estâncias governamentais condições para uma vida humana, teremos de nos motivar para a competitividade inovadora que irá proporcionar felicidade a muitos. Poderão esta minhas palavras parecer desapropriadas e estranhas. Para mim significam a fé e a esperança em vós pela força que o Espírito vos concede para ultrapassar os primeiros momentos duma experiência profissional. Um curso é uma mais valia para o vosso bem pessoal e para o de muitas pessoas. Acreditai nas vossas possibilidades e colaborai para uma sociedade com futuro. Não tenhais medo do imprevisto. Só com a ousadia se alcançam resultados positivos. Quero deixar-vos outra observação. Celebramos, neste dia, o Dia Mundial das Comunicações Sociais. O saudoso Papa João Paulo II elaborou uma mensagem onde se sublinha a importância destes meios para uma compreensão entre os povos. Num determinado momento refere que eles “têm um potencial enorme para promover a paz e construir pontes entre os povos, rompendo o círculo fatal da violência, vingança e as agressões sem fim, tão difundidas em nosso tempo”. Aproveito para saudar, duma maneira particular, os finalistas em Comunicações Sociais. Quero, também, pedir a todos quantos trabalham nesta área que se coloquem ao serviço da unidade da Família humana. A todos os trabalhadores nas Comunicações Sociais testemunho o meu apreço e simpatia. Vivo o vosso quotidiano e a Igreja e a Sociedade depositam muita esperança no vosso trabalho. Regressando a esta celebração, caríssimos finalistas, permita que me sirva desta ideia da promoção da unidade. Como é importante unir pessoas e instituições, envolvendo, no respeito pela diversidade, na procura de soluções justas para a problemática hodierna. Se antes vos falei da competitividade justa para um bem estar comum, queria ser mais ousado afirmando que importa empenhar-se na convergência de objectivos. Se somos indivíduos com direitos, somos, também, pessoas em relação para intuir caminhos que proporcionem bem público. Quando nos resignamos a ser uma “soma” onde cada um procura o seu interesse e não conseguimos entrelaçar opiniões na procura do melhor para todos, continuamos a ser egoístas colocando em primeiro lugar as nossas vantagens ou as do nosso grupo ou partido. Falta esta consciência de interesse nacional ou mundial onde todos e cada são verdadeiramente iguais e onde aqueles que tiverem mais oportunidades as valorizem em favor de todos e, concretamente, dos mais pobres. Aqui está um dos males da Sociedade Moderna: a competitividade egoísta das pessoas, dos grupos e dos partidos. Todos sonham com uma sociedade mais justa. Não experimentando esta consciência de família, vivendo para unir numa corresponsabilidade verdadeiramente social, nunca encontraremos a realização que procuramos. Portugal necessita desta viragem para comportamentos colectivos onde o bem comum converge e congrega como motivo apaixonante para a vida. Também neste contexto atrevo-me a deixar-vos outra ideia. Parte da mesma consciência mas tem raízes mais profundas. Sendo seres humanos, entendemos os nossos sentimentos e emoções através das ciências. Como crentes entramos noutro âmbito e reconhecemos outras interferências. Estivestes em Braga durante uns anos. Este ano para os cristãos de Braga é um ano vocacional, ou seja, um espaço de tempo para nos consciencializarmos que Deus nos chama para a aventura da entrega da vida a causas que não perecem. Todos temos uma vocação mas, a partir desta, existem vocações de especial consagração. Atrevo-me a dizer a cada um: não será que Deus tem traçado para ti, rapaz ou rapariga, um caminho de doação e entrega para, numa liberdade interior, lutar por esses “novos céus e novas terras” que todos procuram mas poucos se comprometem para que eles aconteçam. Caríssimo amigo e amiga: ouve esta voz. Se te inquietar, interiormente, tem a coragem de responder e perdoa-me se fui impertinente. Caríssimos finalistas, que Deus vos acompanhe nos caminhos da vida que serão uma verdadeira aventura. Quisestes estar aqui em ambiente de Igreja. Podeis contar com ela e a Igreja conta convosco. Vamos juntos, com a força do Espírito, dar origem a um mundo novo não o esperando, de olhos no céu, mas comprometendo. Estou convosco. Deus quer que sejais felizes. Eu também. Sameiro 08/05/2005 + Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz