Arquidiocese de Braga -

28 novembro 2005

Pastoral Presbiteral na Arquidiocese

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D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga

\n[D. Jorge Ortiga, na abertura dos trabalhos do Conselho Presbiteral, Centro Apostólico do Sameiro, 28-11-05] Há causas que se identificam connosco por inclinação natural ou opção ministerial. Desde os primeiros anos do meu sacerdócio senti um impulso para dedicar-me, espontaneamente, aos sacerdotes. O ministério episcopal confiou-me esta paixão como tarefa prioritária. Assim a interpreto e gostaria de a vivenciar dum modo muito concreto. Tenho de reconhecer que, não esquecendo esta intenção, a escolha de aproveitamento de espaços com a vontade de dotar a Arquidiocese de estruturas adaptados às exigências actuais e o esforço por rentabilizar os mesmos para permitir, no presente e no futuro, uma pastoral consentânea com as exigências actuais, talvez me tenha afastado deste trabalho que assumo como o primeiro e condicionante de toda a vida Arquidiocesana. Sinto chegada a hora de me concentrar nesta tarefa procurando promover e delinear aquilo que poderia denominar “Pastoral Presbiteral”. Que pretendo dizer com esta “Pastoral Presbiteral”? S. Paulo despediu-se dos anciãos de Mileto com as seguintes palavras: “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho, pois o Espírito Santo vos constituiu guardiães, para apascentardes a Igreja de Deus, que Ele adquiriu para Si com o sangue do Seu próprio Filho” (At. 20,28). Para cuidar do rebanho, necessitamos de cuidar de nós. Com muita generosidade e sacrifício, e tantas vezes incompreensão e desencanto, elaboramos projectos e revemos actividades nas diversas áreas, mas sempre a pensar nos outros. É o zelo pela “Casa de Deus” que nos conduz. Mas, por onde anda a nossa vida como crentes na vivência da fé? Como homens que qualidade de vida possuímos? Não basta querer servir, importa servir bem e para isto não é suficiente fazer o bem mas necessitamos de estar bem, o que exige vontade de manter e desenvolver a nossa saúde integral de modo a que o ministério atinja os objectivos delineados. Sei que o primeiro agente desta pastoral é o sacerdote. É ele quem tem o dever de procurar os meios, sempre com o apoio dos outros membros do presbitério. Se a Pastoral Presbiteral está em função do povo, terá de crescer como uma exigência da vocação pessoal. Mas, por outro lado, o Bispo é, e quero ser, o principal motivador e o verdadeiro impulsionador desta pastoral. No meio de todas as solicitações desejo, como compromisso a renovar perante o Conselho Presbiteral, concentrar o melhor de mim nesta tarefa. Gostaria, porém, que da riqueza do nosso presbitério surgissem sacerdotes apaixonados por esta causa, vivendo uma presença fraterna, uma ajuda solidária, um estímulo reconfortante, como “companheiros de jornada” para um ministério feliz. Nesta comunhão e fraternidade deveríamos ser capazes de: - Delinear um projecto de vida pessoal como discípulos de Cristo. - Apostar num estilo de vida comunitário com encontros frequentes para a comunhão de vida e de animação pastoral. - Suscitar a solidariedade presbiteral a partir duma renovada consciência de pertença ao presbitério, numa comunhão mais evidente no material e no espiritual. - Incentivar o sentido de diocesaneidade na alegria duma história que nos dignifica e dum futuro que nos responsabiliza. - Incrementar a auto-estima para uma saúde integral no cuidado por nós próprios na prevenção e em respostas adequadas para as fragilidades pessoais. - Integrar-se num sistema que responda a todas as solicitações mas com a tranquilidade necessária, no tempo de trabalho e na situação de doença permanente ou temporária. - Lutar pela concretização dum Estatuto Económico do Clero para, numa igualdade diferenciada, garantir uma vida digna até à morte. - Numa atenção à dimensão espiritual, cuidar da vivência litúrgica, duma espiritualidade alicerçada na oração, na Palavra (Lectio Divina), nos retiros espirituais, numa direcção espiritual séria, na realização de grupos de vivência e de partilha (em contexto arciprestal ou doutras motivações), um sentido permanente de revisão de vida. - Dar vida a um presbitério preocupado com a cultura e numa atitude de formação permanente aberta a todas as problemáticas, mas sempre na atenção aos novos desafios e às interrogações do nosso povo. - Dar continuidade a tantos que se notabilizaram no domínio das Artes, da Filosofia, do Direito, da Moral, da Sagrada Escritura, ultrapassando um certo empobrecimento intelectual de quem se contentou com um curriculum académico e se esquece das interpelações da modernidade. - Criar a consciência de quem deve saber planear, em conjunto, a pastoral, revendo-a com serenidade e apostando na criatividade, sempre num conhecimento e realização das orientações da Igreja e da nossa Diocese. - Sensibilizar-se pelos novos modelos de sociedade e pelas novas problemáticas sociais numa formação persistente da Doutrina Social da Igreja. - Entrar na dialéctica das Comunicações Sociais como conhecimento e exercício das novas técnicas para um anúncio mais convincente. Não quis efectuar um elenco exaustivo. É complexa a temática da nossa vida e do ministério. Teremos de orientar as nossas energias para este sector. Repito, quero colocar-me na primeira fila mas contando com o empenho de todo o presbitério. Se não tenho conseguido ser o elo de unidade e o motivador de entusiasmo sacerdotal peço perdão a Deus e conto com a benevolência de todos. Procurarei dedicar mais tempo para ouvir. Espero que o diálogo frontal e sereno apareça. Estamos todos em questão e se o ministério nos exige imenso, sejamos exigentes uns com os outros, colocando a caridade “ante omnia” mas a verdade na transparência para, em comum, cuidarmos de nós e responder melhor ao Povo que amamos. Acreditemos que só o amor entre nós dará qualidade a nossa vida. Sintamos a alegria de dar para receber e vivamos em acção de graças a Deus que nos chamou e prometeu “cem por um”. No seu amor seremos felizes. Para terminar, permiti uma confidência. No meu quarto tenho, em frente da cama, um pequeno quadro com o meu lema episcopal: “Ut unum sint”. Ao lado coloquei um crucifixo. Quero continuar a viver para a unidade. Sei que o caminho será sempre a cruz. Acredito que um presbitério unido é o maior conforto e sei que este se realiza através de sacerdotes que partilham e assumem as dores dos sacerdotes. Rezo para que esta simbiose se intensifique e visibilize. Pensando em nós, seremos um presbitério com permanentes dificuldades mas experimentando a alegria Pascal. + Jorge Ferreira da Costa Ortiga, Arcebispo Primaz