Arquidiocese de Braga -

5 dezembro 2005

S. Geraldo – Padroeiro da Cidade de Braga

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D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga

\nS. Geraldo, como padroeiro da cidade de Braga, tem sido pretexto para uma iniciativa que tudo farei para conservar. Trata-se dum encontro corresponsável da Igreja com o poder autárquico. Sei que este também estima este modo de recordar o trabalho dos Arcebispos na construção de Braga. O encontrar-se é testemunho duma louvável colaboração na promoção duma vida digna para todos os cidadãos. Na recente Assembleia Geral da Conferência Episcopal Portuguesa já tive oportunidade para sublinhar a importância do poder autárquico e de manifestar a minha gratidão a todos quantos exercem este poder em atitude de serviço. Inclusivé, na linha da redescoberta da vocação dos leigos na animação das realidades terrestres, estimulei os cristãos para que assumissem estes encargos como um modo de edificar o Reino de Deus. A política, alicerçada em valores e como instância para um desenvolvimento harmónico da humanidade, é um campo de intervenção dos cristãos. Penso que, para muitos, não deveria ser algo facultativo mas dever de consciência. Os talentos concedidos por Deus são para colocar ao serviço do Reino e este não passa só pelos espaços sagrados. Sempre na mesma intervenção, ousei recordar que este poder, exercido e caracterizado pela proximidade do povo, deve constituir um verdadeiro serviço à comunidade local. O trabalho é dirigido a esta e os destinatários são os cidadãos e nunca os interesses pessoais. É um lugar comum afirmar que importa servir e não servir-se. Este serviço deve considerar todos e duma maneira igual. Merecem uma simpatia especial os mais carenciados que, regra geral, não são capazes de propor e manifestar as suas carências e, por isso, com relativa facilidade são esquecidos na satisfação de exigências humanas elementares e no discernir as causas do seu estado para individualizar e acompanhar num processo de dignificação da vida. Esta atitude de serviço a todos deveria ser sempre normativa. Acontece que os períodos denominados de crise exigem uma atenção particular. Ela afecta a todos, mas nem todos sofrem as suas consequências duma maneira idêntica. O poder autárquico deveria ser sentinela da realidade social para, em colaboração com todas as instituições entre as quais a Igreja quer estar presente, encontrar soluções que testemunhem um verdadeiro progresso da humanidade. O contributo que os Arcebispos deram na promoção dos homens continuará a pertencer às nossas intenções e desejos. Não nos intrometemos e não temos capacidade de resposta a tantos problemas sociais que nos afligem quotidianamente. Tenho diante dos olhos o Diagnóstico Social efectuado nos espaços da Arquidiocese e não ignoro os seus conteúdos. Torna-se urgente articular e fazer convergir sinergias num espírito de sinceridade e verdade. Como Igreja, caminhamos com o homem e queremos estar onde acontece o seu futuro que sabemos caracterizado de dramas e perplexidade. Não estamos no social como algo acidental. Pertence à essência da Igreja e, por isso, congratulo-me pelo facto dum mundo significativo de instituições de solidariedade dependerem, directa ou indirectamente, da Igreja. Sei das dificuldades que começam a sentir para corresponder aos seus objectivos. Tentaremos não trair a nossa identidade e esperamos a colaboração das instâncias estatais para tornar a vida dos mais pobres verdadeiramente humana. Ao reconhecer a importância dos Arcebispos na edificação da cidade, estou a solicitar, para mim e para a Arquidiocese, uma maior visibilidade da fé através das obras que realizamos. Da parte das comunidades paroquiais terá de haver um maior empenho neste construir acções de solidariedade cristã. Os monumentos da caridade sempre existiram e continuam a existir. O amor move e, sendo por vezes silencioso, tem de ser conhecido como amor cristão. Por outro lado, mesmo não pretendendo recompensas, a sociedade deveria aperceber-se de quanto a Igreja realiza neste âmbito do social. Sempre estivemos e queremos continuar a estar no mundo da construção da fraternidade. O bem que realizamos nem sempre passa pelas crónicas dos meios de comunicação social. Talvez seja chegada a hora de mostrar o positivo e maravilhoso que é realizado na fé e por causa da fé. O bem que realizamos não é do passado. Ele acontece todos os dias e seria bom que todos o quisessem conhecer percorrendo a história presente das nossas instituições. Não exagero afirmando que não são conhecidas e deveriam ser para que todos possam reconhecer a perenidade do cristianismo e o que ele continua a realizar em favor dos homens do nosso tempo. Para muitos são uma história silenciosa. Mas que o bem continua a ser paixão de muitos cristãos é uma verdade que ajuda a compreender que o cristianismo não é algo de privado e intimismo. A fé é uma força que transforma. Recordando S. Geraldo louvo o esforço do poder autárquico no serviço às comunidades, interpelo as nossas comunidades e instituições a um maior protagonismo de acção social cristã e convida a sociedade a conhecer o quotidiano do bem que a Igreja, por causa e em nome de Cristo, continua a oferecer à sociedade. + Jorge Ferreira da Costa Ortiga, Arcebispo Primaz