Arquidiocese de Braga -
28 janeiro 2006
Para uma Catequese Renovada
D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga
\nA Jornada Arquidiocesana da Catequese é, para mim, oportunidade singular para expressar a mais sentida gratidão a quantos se apaixonaram pela causa da educação da fé. É difícil imaginar a dedicação e carinho que os nossos catequistas oferecem a esta missão. Muito daquilo que são as nossas comunidades deve-se a eles. Que ecoe bem alto e chegue a todos os agentes na pastoral catequética este meu obrigado.
A gratidão completa-se com um pedido. Estamos empenhados na renovação da catequese e dos catecismos. Atingiremos esta meta com a renovação dos catequistas. Quando pensamos, dissociamos as ideias para um entendimento mais fácil. Só que, no concreto, há elementos que teremos de conjugar em simultâneo. Se é importante a renovação do material, é imprescindível a renovação dos catequistas. Sem esta, aquela permanece letra morta que distrai do essencial.
Daí que necessitamos, neste tempo diferente com desafios novos, de catequistas dominados pela vivência do Evangelho e verdadeiramente comprometidos em Igreja através dum trabalho sério na revitalização das comunidades a que pertencem.
No documento da Conferência Episcopal “Para que acreditem e tenham Vida” – a conhecer e a divulgar – os Bispos portugueses procuram incutir nos cristãos a realidade dum tempo novo que supõe, da parte da igreja, uma acção pastoral renovada. Enumeramos diversas atitudes. Quero referir-me a duas: comunidade e família.
1 – O catequista como gerador de comunidade:
A catequese actual deve, necessariamente, enfrentar-se com a aposta numa comunidade cristã que, por si mesma, é luz que irradia e é constituída por pessoas que testemunham inequivocamente o que anunciam. Neste contexto, o catequista nunca pode resignar-se à tarefa, talvez bem preparada e em termos modernos, de proferir uma lição ou de fazer uma sessão de catequese. Ele ou ela necessita do conhecer o “dom de Deus” e ter sede deste Deus que se senta na borda do “poço” da sua vida e pede a “água” do testemunho da verdade.
Não sei se exagero. Penso, porém, que o caminho percorrido nas “técnicas” do anúncio nem sempre é acompanhado pela coerência que edifica comunidades evangelizadas. Parece-me chegada a hora de apostar no essencial e não se contentar com o número dos catequistas e com as salas de catequese. Faltando a “água” do testemunho dos catequistas que expressam na vida a alegria de ser cristão e se disponibilizam para criar comunidade, a catequese nunca atingirá o que lhe é próprio: gerar a fé em Jesus Cristo que, posteriormente, se vê nas opções de vida. O catequista é sempre um ponto de referência e um sinal vivo, nas limitações humanas, do discípulo e apóstolo de Cristo.
Auguro aos nossos catequistas que sejam, como recordam os Bispos, intérpretes da grande prioridade pastoral sintetizada da seguinte maneira: “A comunidade cristã é o sujeito, o ambiente e a meta da catequese”. É o sujeito por aquilo que realiza na mente e no coração, talvez dum modo imperceptível, das crianças e dos adolescentes; é o ambiente que facilitará ou dificultará uma cabal experiência da fé e uma integração alegre na mesma comunidade; é a meta como horizonte de quem sabe e quer pertencer à comunidade através dum comportamento corresponsável. Também aqui coloco, de novo, a simbologia do texto evangélico que nos foi anunciado: a comunidade é o único “poço” capaz de oferecer a “água” que não só mata a sede nas celebrações, mas equilibra a vida na sua globalidade.
Não valerá a pena recordar o Papa João Paulo II que nos apresentou a paróquia como o “Fontanário da aldeia”, ou seja, um espaço que, através do amor fraterno, sacia e retempera para recomeçar sempre a caminhada duma vida de fé exigente?
2 – Pelos catequistas chegar às famílias:
“Ao longo de séculos tem sido sobretudo as famílias a assegurar a transmissão da fé aos filhos, bem como a sua integração social e a educação para os valores. De facto, algumas décadas atrás, muitos pais deixaram-se cair no descuido ou nalguma confusão quanto ao seu papel de educadores. Ora a família que dá origem à vida tem também a responsabilidade de dar sentido e contribuir para o pleno desenvolvimento dessa existência, enriquecendo-a com o património moral e espiritual que vem do cristianismo” (“Para que acreditem e tenham vida, n. 5, b).
Se a renovação dos catequistas conduz à renovação da comunidade, esta acontecerá a partir da família. Também aqui me sirvo de palavras dos Bispos Portugueses. “Actualmente, torna-se necessário sensibilizar e formar os pais para que retomem a sua responsabilidade de primeiros e principais educadores”.
Se a Arquidiocese se concentra na Família, também a catequese terá de chegar à família. Pode parecer chover no molhado, tantas vezes temos repetido esta doutrina. Só que o catequista terá de ir ao encontro dos pais e estabelecer um diálogo de corresponsabilidade para uma compreensão da catequese. Reconheço que não é fácil. A criatividade pastoral pode e deve inventar maneira de envolver e comprometer os pais nesta tarefa. Eles nunca deveriam delegar ou entregar a formação cristã. Se o fazem, teremos de os questionar e interpelar.
Terminando gostaria de me dirigir a todos os catequistas da Arquidiocese para recordar o que aqui vos comuniquei.
1 – Sem renovação dos catequistas as outras renovações nunca atingirão os seus resultados.
2 – Os catequistas devem tornar-se promotores de comunidade para que esta seja o verdadeiro sujeito a transmitir a fé.
3 – Partir ao encontro das famílias para que recuperem a responsabilidade de educadores.
São muitos objectivos? Comecemos e avancemos um pouco em cada dimensão. Sem planos pessoais audaciosos nunca atingiremos as metas desejadas. E, se muito depende de factores externos, o importante na catequese sois vós os catequistas e, por isso, obrigado e coragem.
+ Jorge Ferreira da Costa Ortiga,
Arcebispo Primaz
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