Arquidiocese de Braga -

28 janeiro 2006

Tibães “completa-se”

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Fotografia

D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga

\nO dia de hoje pode ser interpretado como momento de profunda dimensão cultural. Caminhamos para o final da recuperação dum espaço emblemático e abrimos uma época nova através de proporcionar condições para uma experiência que se enquadra no contexto dos parâmetros monacais, dando a este local um sentido de globalidade O projecto a apresentar pode manifestar uma disfunção que é aparente. Pisamos terrenos beneditinos a gerar a simbiose entre o “ora” – dimensão contemplativa – e o “labora” - encargo laboral para a prossecução duma humanidade feliz. Saímos dum contexto beneditino e iremos iniciar um esquema de vida carmelita mas a apontar para a conciliação das mesmas realidades. Nascerá um convento que será habitado pelas Trabalhadoras Missionárias da Imaculada, constituída por mulheres leigas, oriundas de todas as raças e culturas, que, como a mulher Maria de Nazaré, acolhem “o dom de Deus” para O comunicarem ao mundo. Iniciaram a sua vida em 1950 e ousaram servir-se dos restaurantes para anunciar o belo de Deus sem medo de aliar o seu trabalho ao convite à oração. Na verdade, desde o dia 11 de Fevereiro de 1976, completam-se 30 anos dentro de dias, em Lujan, Argentina, tornaram os seus espaços de trabalhos – chamados “Eau Vive”, “Água Viva” - um local procurado pelas especialidades gastronómicas mas onde se saboreia uma presença, uma alegria espiritual, um conforto, uma amizade sentida e sincera. Quem são as Irmãs Trabalhadoras Missionárias da Imaculada? São mulheres leigas que animadas pelo espírito de Santa Teresa do Menino Jesus e espiritualidade carmelita, vivem no mundo, em comunidades a testemunharem fraternidade universal, e estão sempre disponíveis para partirem, num sentido de pobreza e obediência, radicando a sua vida no amor de Cristo no e por meio do trabalho para que aí sejam anunciadoras do mesmo amor. Na complexidade do mundo do trabalho, naquilo que ele é, querem viver a alegria de testemunhar o primado de Deus perante um materialismo reinante e oferecer à comunidade humana a redescoberta da maravilhosa aventura de, com Deus, transformar o mundo através do mesmo, sempre acompanhado pela oração. Daí que a presença das religiosas em Tibães, como mulheres trabalhadoras, continuará o espírito beneditino de trabalhar e ensinar a trabalhar para um desenvolvimento harmónico de todas as capacidades e criação dum mundo mais fraterno. Os beneditinos não se refugiaram na oração dos templos, chegaram aos campos, às artes como sinal duma cultura, ao domínio da natureza sem a destruir. Tornaram-se focos irradiadores dum humanismo que progride através duma insatisfação que estimula a ser mais tendo o indispensável. Dos conventos partia a inovação, o recurso à técnica, a vontade de conquistar os segredos da natureza. Tudo em nome do homem reconhecido como irmão, filho do mesmo Pai. Ao nascer este espaço, num recanto deste museu, teremos a oportunidade de aceitar o desafio lançado pelo P. Roussel, fundador das Trabalhadoras Missionárias: “restabelecer e continuar o diálogo entre Deus e a humanidade, eis o apostolado missionário”. Deus quer continuar a dirigir a Sua Palavra. Sempre o fez ao longe da história do cristianismo e dos tempos que O antecederam. A humanidade soube ouvir e as grandes catástrofes foram sinal de recusa em querer escutar a voz do Espírito. A sociedade moderna pode querer ser agnóstica ou indiferente. Estes locais pronunciarão o discurso dum Deus que caminha com a humanidade no trabalho. Dou graças a Deus por este momento. Vejo-o de alcance humanitário e, no nosso contexto, de dimensão bracarense e nacional. O religioso acontecerá para quem quiser. A liberdade estará aqui. As portas abrem-se à cidade, ao povo e à cultura. Não defraudamos o espírito do projecto de restauros. Os gastos não são para uma obra inerte a recordar velharias. Tibães, na sua originalidade histórica, completa-se com esta oferta à comunidade dum local de repouso e tranquilidade, enriquecido pela arte de bem servir e pelo apelo a descobrir a mesa como encontro de irmãos que cantam os louvores de Deus, através de Maria. + Jorge Ferreira da Costa Ortiga, Arcebispo Primaz