Arquidiocese de Braga -

3 junho 2007

Sameiro, proposta evangelizadora

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D. Jorge Ortiga

\nA vida dos cristãos da nossa Arquidiocese está marcada por um amor grande aos Santuários. Aqui deixam os seus lamentos e desabafos, solicitam a intervenção divina e agradecem graças recebidas.
Se isto acontece todos os dias, as peregrinações revestem-se dum significado particular. Quem, como eu, pode presenciar o ambiente vivido em todos os Santuários, necessariamente deve reconhecer a beleza da fé em tantos crentes. Daí que a minha primeira intenção, nas peregrinações, é agradecer a Deus tanto amor dos nossos cristãos. Nem todos querem reconhecer esta realidade. Alguns chegam, mesmo, a deturpar. Eu acredito e agradeço a Deus.
No Sameiro, como peregrinação Arquidiocesana, o meu fervor é especial. Sem deixar de reconhecer que o carácter Arquidiocesano poderia ser mais evidente e que todos nos devemos comprometer para que isso aconteça, este Santuário é aquele que merece uma atenção particular. Sem desconsiderar os outros a quem dedico o mesmo amor e solicitude pastoral, o Sameiro está mais intensamente ligado à Diocese e, como tal, é sempre o farol a apontar os caminhos de renovação eclesial que pretendemos interpretar.
Neste dia em que celebramos a Festa da SS.ma Trindade, gostaria que todos reflectissem sobre a responsabilidade de manifestar Deus ao mundo. O Mistério que se torna transparência pela comunicação da palavra e pela Sua concretização. Isto mesmo queremos significar com o «lema» que escolhemos, em Arquidiocese, para a Pastoral nos Santuários e que os peregrinos podem ver ou adquirir através de cartazes e panfletos presentes em todos os Santuários da Arquidiocese. «Família Solidária: peregrina, escuta e partilha». Peregrinamos para escutar a mensagem de Deus, por Maria, e queremos que ela seja partilhada, comunicada, anunciada a todos.
Num mundo culturalmente novo não é permitido permanecer em atitudes pastorais idênticas ao que sempre se realizou. Só uma conversão capaz de colocar o acento numa proposta autenticamente evangélica dará a resposta que todos nós procuramos nos Santuários. Maria dá-nos a força para anunciar com valentia a Palavra, de modo que seja possível acreditar na esperança. Importa, por isso, que os Santuários, correspondendo à invocação de Maria Estrela da Evangelização, mostrem que é possível acolher e fazer seu o Projecto de Deus.
Tive a graça de participar na V Conferência Geral do Episcopado Latino Americano, no Santuário de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. Aí os Bispos de 22 Conferências Episcopais dialogaram sobre o prioritário para a América Latina. O tema condutor e conclusivo foi os cristãos como «Discípulos e missionários para que os povos encontrem a Vida em Cristo». Ser Discípulo missionário deveria ser, também, para nós, individualmente e comunitariamente, a opção que secundariza tudo o resto. Há muita coisa que parece importante. Se conduz a esta proposta de seguir Cristo, num quotidiano de seduções e contradições, para, em seguida, partir para a responsabilidade de o comunicar, estamos correspondendo aos apelos de Deus e a ser fiéis às exigências históricas. Caso contrário, são realidades passageiras e sem repercussão efectiva na vida das pessoas.
O ser discípulo missionário aprende-se, ou deveria aprender-se, na família. Este Património da humanidade está a perder a sua identidade e nós vamos assistindo passivamente ao seu desmoronamento. Maria foi discípula de Cristo, acolhendo a Sua palavra e foi missionária, anunciando- -Lhe, pela Palavra e Vida, o que enchia o Seu coração. Muitos podem dizer que é difícil transmitir a fé na família. Sabemos que é verdade. Penso, porém, que se as Comunidades Paroquiais e os Santuários tiverem esta opção de formar famílias dentro duma identidade cristã, elas serão o primeiro lugar evangelizador.
Estamos a trabalhar, em Programa Pastoral, a família. Os Santuários não deveriam responsabilizar-se, em colaboração com as comunidades paroquiais, por esta tarefa de evangelizar os lares cristãos? As oportunidades são muitas. Basta uma capacidade grande de acolher as famílias que procuram os santuários para qualquer tipo de celebração e possuir propostas concretas, bem elaboradas e com um cariz de resposta a perguntas, para que adiram e partam daqui para um compromisso paroquial. Bastará, só e apenas, celebrar os Sacramentos solicitados? É muito pouco ou quase nada.
Peço à Senhora do Sameiro que nos ajude a fazer com que os Santuários invistam nesta área de formação com as devidas condições características da nova evangelização que entrariam no domínio das exigências habituais.
O Evangelho da Família e a promoção da cultura da vida sugerem uma pastoral que, condenando o relativismo, a confusão de modelos, de deso-rientações, favoreçam a centralidade da pessoa humana e da sua dignidade e particularmente o valor da família baseada no matrimónio, entre um homem e sua mulher e para toda a vida. Uma educação integral do amor e da sexualidade e um apoio permanente, com orientações doutrinárias e meios materiais, à comunidade familiar para que a partir daqui surja uma nova mentalidade perante a vida e os desafios do mundo. Ela deve ser local de amor, de paz, de bondade, de fé, de sabedoria, de respeito pela mulhers, de entrega ao bem comum e às causas da solidariedade. E isto só se consegue com estratégias e propostas permanentes numa variedade imensa como são variadíssimos os problemas.
Parece-me que este âmbito de atenção à família, de apoio à sua preparação remota e próxima, de acompanhamento permanente poderia entrar em planos pastorais concretos que não desvalorizam a paróquia mas que a complementam e lhe proporcionam famílias evangelizadas para que evangelizem. O mundo da família tudo merece e a ele deveremos entregar as nossas capacidades e talentos.
A Senhora do Sameiro, como evocação da Sua Imaculada Conceição, se torne alento e causa para a caminhada que a Arquidiocese apenas iniciou. O alto do Sameiro seja farol norteador de propostas e fornecedor de meios para que marquemos o presente histórico nesta mudança de época que espera atitudes novas. Olhar para a História significa que a Igreja descobriu caminhos novos em todas as mudanças de época. Os tempos passados estavam apoiados nas paróquias. Os Santuários por aquilo que significam e pelos lugares onde estão situados, vão desempenhar um papel importantissimo no futuro. Comecemos desde já. A Mãe do Céu está connosco.
Esta responsabilidade é confiada aos Santuários. Só que importa que os cristãos queiram acolher esta proposta e não pretendam um sacramentalismo sem o mínimo de preparação e uma devoção que não esteja marcada por este desejo de caminhar num itinerário de discipulado que se compraz com o encontro permanente com o Mestre.
Maria, Nossa Senhora do Sameiro, faz com que as nossas famílias apostem na sua evangelização para que se tornem instrumentos comunicadores de Deus-Amor Trinitário aos seus membros. Que os pais se assumam como os primeiros educadores e que, para isso dediquem, tempo e ener-gias, à maravilha do conhecimento do mesmo Deus e da sua doutrina.

Sameiro, 03-06-07

+ D. Jorge Ortiga, A. P.