Arquidiocese de Braga -
23 outubro 2007
A Universidade Católica e a cultura do indivíduo
D. Jorge Ortiga
Resumo da Homilia na abertura das aulas
Actualmente presenciamos uma cultura predominantemente centralizada no indivíduo. Esta cultura encerra valores como a liberdade e o sonho da justiça e da paz. Mas somos forçados a reconhecer a construção dum humanismo não integral – atrofiado – e que está a subjugar a pessoa humana às leis da produtividade, do lucro, do prazer, da satisfação através dos bens materiais. Consequência natural é que o homem fecha-se em si e não se abre à comunidade e muito menos a Deus. Esta cultura do indivíduo é, por isso, a «culpada» de muitos males da sociedade hodierna: fome, miséria, injustiças sociais, corrupção.
A Universidade Católica tem de situar-se neste contexto e gerar a responsabilidade de existências que são, simultaneamente, um dom e um compromisso recebidos de Deus. (O Programa da Arquidiocese, é: Família: dom e compromisso). O cristão crê, ama e espera de harmonia com a cultura que o rodeia, ou seja, a partir da compreensão que tem de si, da vida, da sociedade. Isto traz consigo uma dupla exigência.
1 – A Igreja deve conhecer esta situação cultural para usar uma linguagem compreensível, de modo que se torne um sinal pertinente e significativo.
2 – Entrar na cultura é deparar com valores e anti-valores, factores de vida e de morte, elementos de solidariedade e de egoísmo. Importa, por isso, colocar a razão em confronto com o Evangelho para que este trabalho, árduo e persistente, desmascare os factores desumanizantes e evidencie os testemunhos de esperança e de vida.
Importa por isso, «assumir», «purificar», «elevar» a cultura aproximando-a de Cristo e do Evangelho. Cristo que é pedra angular duma sociedade que a está a rejeitar e o Evangelho que é luz que está a ser ofuscada – não só por campanhas exteriores à Igreja mas por medo e receio por parte dos cristãos. Sabemos que a nossa missão é estar dum modo crítico, propositivo e não meramente reactivo.
A Universidade Católica tem aqui um papel importante: O Evangelho deve incarnar-se profundamente no contexto social que nos rodeia. Como Arquidiocese, gostaria de interpelar para a coragem de olhar para a família. Aí se colocam as sementes duma nova cultura que, sabemo- -lo muito bem, tem futuro se se abre a realidades transcendentais. A Arquidiocese de Braga necessita deste contributo da Universidade Católica através de propostas concretas e empenho para que esta maneira de encarar a vida se resulte.
Não basta criticar as deficiências da cultura contemporânea e sua interferência nefasta na família. A fé deve promover uma nova criatividade cultural para que, como Igreja, contribuamos com algo muito concreto para bem da sociedade.
Poderia referir-me a outros aspectos da vida humana. Restrinjo-me à família e acredito que é possível apresentar a nossa identidade, não só como referência histórica, mas como força actuante no presente e no futuro deste canto do país e de Portugal inteiro. Necessitamos duma visão cristã da sociedade e para isso, da família e nesta visão cristã, através dum pensamento actualizado, encontraremos orientações e práticas duma vida em Cristo.
Um novo ano… momento de paragem e de integração de valores que nos caracterizam e distinguem. São muitos os desafios colocados à Academia Universitária. Este não pode ser desconsiderado. Ontem celebramos S. Martinho de Dume, Padroeiro da Diocese. Soube evangelizar uma cultura. E nós?
Capela da Faculdade de Teologia, 23-10-07
+ D. Jorge Ortiga, A. P.
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