Arquidiocese de Braga -

8 dezembro 2008

A ternura do amor

Default Image
Fotografia

D. Jorge Ortiga

\nA festa da Imaculada fixa-nos em Maria para reconhecermos nela um coração puro pois repleto do amor a Deus e aos outros.
Recordo a conclusão da Carta Encíclica do Papa Bento XVI, Deus é amor. “Maria tornou-se realmente Mãe de todos os crentes. À sua bondade maternal, e bem assim à sua pureza e beleza virginal, recorrem as pessoas de todos os tempos e lugares do mundo, nas suas necessidades e esperanças, nas suas alegrias e sofrimentos, nos seus momentos de solidão e também na partilha comunitária; e sempre experimentam o benefício da sua bondade, o amor inesgotável que ela exala do fundo do seu coração. Os testemunhos de gratidão, tributados a ela em todos os continentes e culturas, são o reconhecimento daquele amor puro que não se busca a si próprio, mas que apenas quer o bem. A devoção dos fiéis mostra, ao mesmo tempo, a infalível intuição de que um tal amor é possível: é-o graças à mais íntima união com Deus, em virtude da qual se fica totalmente permeado por Ele – condição esta que permite, a quem bebeu na fonte do amor de Deus, tornar-se ele próprio uma fonte “da qual jorram rios de água viva” (Jo 7, 38). Maria, Virgem e Mãe, mostra-nos o que é o amor e onde este tem a sua origem e recebe incessantemente a sua força.” (nº 42).
Como crentes acreditamos no amor. Maria pode ensinar-nos o que é o amor, como síntese do cristianismo, e dizer-nos qual a dimensão que importa viver com particular atenção nos tempos que correm.
Amar significa não procurar-se mas querer, só e apenas, o bem dos outros. Para isso teremos de ousar estar na “fonte”, ou seja, Deus e também aqui adquirir forças para ser fiel a todas as exigências.
Se isto é o Amor, o mundo moderno está a solicitar-nos que reconheçamos a bondade como a característica capaz de responder a muitas expectativas. Ninguém ignora quanto as pessoas vivem sobrecarregadas com os problemas reais e com a imaginação dum dramatismo que torna a vida demasiado escura. Daí que a Igreja, nos seus fiéis e nas comunidades, não possa deixar de testemunhar a ternura e o carinho, como sinais exteriores da esperança que professa. Necessitamos de humanizar a vida sublinhando um optimismo que nasce da fé num Deus que não abandona o seu povo.
Urge, por isso, ultrapassar as linguagens pessimistas e ameaçadoras duma catástrofe iminente e sublinhar, com atitudes concretas, uma vida dominada pela Boa Nova de Cristo, Deus feito homem por amor, que sempre e a todos soube oferecer razões para esperar. Não podemos prosseguir uma pastoral – por parte dos padres e leigos – dominada pela insensibilidade. Teremos de dar espaço ao coração para mostrar que, não só apesar de tudo mas em tudo, vale a pena viver. É uma grande tentação refugiar-se no amor-próprio e resignar-se à triste sorte dum mundo que parece não ter futuro. A história confirma que o passado foi marcado por momentos dramáticos. A Igreja foi capaz de não se deter a contemplar passivamente. Agiu apontando horizontes de verdadeira e autêntica esperança.
A Imaculada equaciona a solução de todo este pessimismo angustiante. Maria soube ancorar-se em Deus e partir oferecendo afecto, solicitude, carinho, ternura. Deixou-se comover com o mal dos outros, gerador de perplexidade e angústia e respondeu por si elevou os outros a comprometer-se na solidariedade. As Bodas de Canã deveriam ser uma lição permanente. Maria viu, quis evitar grandes preocupações e mostrou a sua sensibilidade envolvendo Cristo e quantos serviam à mesa.
Maria é Mãe da Igreja. Acolhemos a ela para ultrapassar problemas. A sua bondade maternal tem de ser imitado e os gestos que a caracterizam multiplicados.
Sempre foi importante esta exigência. Hoje mais do que nunca. Não bastam as palavras frias e as atitudes protocolares ou burocráticas. Se a frieza e a distância estam estampadas nas nossas relações, hoje teremos de inverter o caminho e regressar à proximidade num amor sensível e concreto, o único capaz de encher a vida e de destruir o anonimato que torna o mundo triste e distante.
Maria nos faça descobrir os conteúdos duma Mãe que sabe amar não só com aquilo que dá mas sobretudo com aquilo que é.
Imaculada Conceição - Sameiro
8.12.08

† D. Jorge Ortiga, A.P.