Arquidiocese de Braga -

9 maio 2009

Centralidade da Palavras para gerar comunidades evangélicas e missionárias

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D. Jorge Ortiga

Conselho Pastoral Diocesano " 09-05-2009

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O regime plurissecular da cristandade passou. Daí que a coincidência entre Igreja e Sociedade pertença à história de tal modo que se torna impossível voltar atrás. A mudança sócio-cultural é patente e deve penetrar nos dinamismos pastorais.
Este contexto novo deve provocar uma atitude de quem reconhece que vivemos em terra de missão e daí que qualquer eclesiologia tenha de apresentar uma consciência missionária dando à missão uma centralidade que torna a pastoral dinâmica, ou seja, nunca instalada num modo de agir mas sempre aberta a formulações novas.
Nesta certeza duma pastoral missionária, a Igreja deve efectuar uma verdadeira conversão pastoral colocando a Palavra no centro do tempo que nos toca viver. Urge tornar nova a pastoral e não é possível contentar-se com pequenas adaptações. Não é suficiente conservar como se continuássemos no tempo da cristandade onde a transmissão da fé acontecia de geração em geração através duma cultura religiosa tradicional. A sociedade contemporânea tem coordenadas culturais diferentes e, por isso, deve a Igreja proporcionar-lhe uma pastoral nova capaz de responder às novas expectativas e de manifestar uma auto-consciência eclesial renovada.
Convertidos à Palavra, teremos de aceitar que é a mesma Palavra que edifica a comunidade e que a verdadeira comunidade é a Palavra existente num determinado espaço. A Igreja nas suas várias dimensões – Diocese, Paróquias, Movimentos - manifesta a sua consistência pela Palavra - acolhida, celebrada e vivida - que ela é capaz de manifestar. Não tem outro estatuto ou cartão de identidade. É Palavra e está situada num ambiente concreto com interpelações permanentes que não permitem uma acção pastoral estática mas permanentemente desafiada a respostas que valem se carregadas do dinamismo da conversão que a mesma Palavra provoca.
Ao reconhecer que a Palavra edifica a comunidade, quero afirmar, completando este pensamento, que deve ser a comunidade a assumir a mesma Palavra. Constituída por indivíduos, só o comunitário consegue especificar o verdadeiro conteúdo da mensagem. Há tarefas e ministérios diferentes. Só a integração num testemunho unitário explicará todas as dimensões da doutrina nova que anunciamos. Daí que a Palavra edifica a comunidade, mas é a comunidade que anuncia com coerência o que a Palavra quer dizer.
Ao colocar a Palavra no centro da pastoral, sublinho um outro aspecto que está a exigir uma mudança na vida das comunidades. O centro da Palavra passa pela centralidade dada ao primeiro anúncio, mesmo nos nossos contextos onde parece que todos já a ouviram falar, só que não efectuaram o encontro com o Ressuscitado capaz de mudar as vidas e suscitar um dinamismo missionário de quem interpreta a responsabilidade de colocar a mesma Palavra no “coração” do homem moderno. Para isso, somos desafiados a saber conjugar a primeira evangelização com a evangelização permanente, nunca partindo do pressuposto que aquela já está realizada. A indiferença religiosa está presente em muitos contemporâneos, mas também caracteriza a vida de muitos praticantes que não conseguiram celebrar um verdadeiro encontro com a pessoa de Jesus.
A centralidade do primeiro anúncio, numa pastoral marcada pela Palavra, terá de encontrar formas e prioridades muito concretas. Algo já foi descoberto. Muito mais teremos de descortinar.
Sabendo que a Igreja está no mundo com o qual estabelece uma relação de serviço, tornando-se Sacramento de Salvação, a Igreja nunca poderá esquecer-se que a Palavra é para todos.
Existe a laicidade e respeitamos todos os contextos. Só que não podemos aceitar um “neutralismo” pois acreditamos na universalidade da Boa Nova. O cristianismo tem um papel público que não pode ser ignorado e os cristãos, conscientes duma laicidade inclusiva, sabem propor, em modelos modernos, uma originalidade de vida que sendo diferente não é algo de residual e arcaico, quase uma espécie em vias de extinção, mas segredo dum verdadeiro humanismo. Não temos um tesouro a conservar. Recebemos um dom a oferecer a todos. A mensagem cristã manifesta uma universalidade original que encerra uma energia a levar a todos os ambientes e culturas.
Neste Conselho, para concluir, teremos de ser capazes de criar condições para que a Palavra adquira a centralidade na Pastoral e nas comunidades, concretizando esta centralidade na atenção ao primeiro anúncio para encontrar-se com todos sem desconsiderar o dever duma evangelização permanente capaz de provocar a conversão dos corações através duma verdadeira conversão pastoral.
Seremos capazes de o efectuar? O Espírito do Ressuscitado fará com que compreendamos a mensagem da Boa Nova e com que encontremos caminhos novos para a colocar no coração da modernidade que nos rodeia, marcada por muito laicismo e indiferença.
Braga, 09-05-09
† Jorge Ortiga, A.P.