Arquidiocese de Braga -

9 setembro 2009

Serviço multicultural para redescobrir a nossa identidade colectiva

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D. Jorge Ortiga

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Quero sublinhar alguns considerandos do Protocolo de cedência de utilização de espaços no Mosteiro de S. Martinho de Tibães que assinaremos.
1. "Objectivos de salvaguardar, de reutilizar e dinamizar".
- Não é fácil salvaguardar;
- Reutilizar pode ser confortável e de interesse.
- Dinamizar é uma responsabilidade permanente e complexa porque deve abranger e considerar todos os dinamismos (redundância) que o património encerrou e que hoje devem ser revitalizados.
2. Um espaço destinado à instalação duma Comunidade Monástica (gostaríamos que tivesse sido possível) ou Religiosa (o que irá acontecer), insere-se no contexto do que poderemos considerar a “alma” do Mosteiro de Tibães. A Ordem Beneditina tinha por apanágio acolher quem a procurasse por qualquer razão. Havia sempre um local aberto à sociedade e aí entravam todos.
Hoje, muitos poderão procurar estes espaços por razões variadas. Alguns seduzidos por razões espirituais, outros por interesses intelectuais e muitos outros por descanso, celebração de momentos sociais da vida, etc.
3. Tibães continuará a ter um coração que acolhe e uma solicitude que conforta. O Restaurante e Hospedaria integram-se neste projecto global. Numa autonomia administrativa, a Comunidade, como representante da Arquidiocese que assina este Protocolo e com a qual sempre se articularão contando com a sua colaboração e serviços, não permitirá que seja mais um restaurante ou uma simples hospedaria. Muitas outras iniciativas poderão acontecer no âmbito espiritual e religioso sem excluir ninguém. Crentes e não crentes serão servidos com igual dedicação, nunca renunciando a um ambiente característico que fará compreender uma autêntica reutilização deste Mosteiro.
Ninguém poderá sentir-se obrigado a rezar, mas a oração acontecerá como proposta.
4. Assim entendo o “testemunho” que este património quer oferecer reconhecendo que ele tem “importância civilizacional, histórica, cultural, artística e estética” e que, precisamente por estas razões, “assume particular relevância para a afirmação da identidade colectiva". Temos uma identidade nascida duma longa história. Esta identidade pode, para alguns, não contemplar a vertente religiosa e transcendental. Mas, o passado não pode ser esquecido e, sem constranger ninguém, permitirá um sentido para a história actual.
Por tudo isto afirmo: Não estamos a proceder à assinatura dum protocolo de cedência, por parte da Direcção Regional de Cultura do Norte, dum Restaurante e duma Hospedaria à Arquidiocese de Braga. Devemos reconhecer que, assim como em toda a história deste Mosteiro houve lugar para acolher, a partir de hoje aqui residirá uma Comunidade Religiosa para servir e acolher quem pretender, crentes e não-crentes, fazendo-o duma maneira característica que eu considero original.
5. A Comunicação Social anunciou que hoje estaríamos a inaugurar a Hospedaria e o Restaurante. Isto acontecerá mais tarde. Depois de equiparmos o espaço reservado para as Irmãs, virão viver no espaço comunitário que lhes está reservado. Integrar-se-ão na comunidade local e trabalharão para dotar a Hospedaria e o Restaurante do necessário para um serviço de qualidade e referência. Esperamos que possamos proceder à bênção e abertura ao público, em dia a marcar nas proximidades da festa de S. Martinho, padroeiro desta Comunidade de Mire de Tibães. (A festa litúrgica é no dia 11 de Novembro. Talvez no fim de semana mais próximo).
A Comunidade Religiosa, que aqui servirá, pertence à Família Internacional Domun Dei. Agradeço à Superiora Geral, com o seu Conselho, a adesão a este projecto. Sabem que não será fácil corresponder aos desafios, mas podem contar com a nossa ajuda. O pároco e a comunidade paroquial saberão encontrar o modo de testemunhar um acolhimento fraterno. A partir de agora pertencem a esta família paroquial que se enriquece com a presença deste novo carisma.
Como família Internacional, a Comunidade vai ajudar-nos a vivenciar a inter-culturalidade, característica desta sociedade global e plural em que vivemos. Vão adaptar-se à nossa maneira de viver, mas nunca renunciarão à sua identidade cultural originária.
Não haverá outro espaço idêntico a este. A gastronomia pode abrir-se a experiências que ainda não experimentamos e o diálogo enriquecer-nos-á com horizontes novos que desconhecemos.
Pertencendo à Família “Domun Dei” – Dom de Deus – estarão a testemunhar que é maravilhoso “conhecer” algo que não se experimentou ou reconhecer aquilo que ainda pode estar oculto. A fé não aparecerá como condição para entrar num espaço com “direitos reservados”. Todos e cada um terão a mesma simpatia e amor. Tudo será manifestação dum dom de Deus. Quem o quiser acolher, sentir-se-á retemperado, assim o espero, para prosseguir a caminhada da vida em qualquer lugar onde ela se desenvolva.
 

Mire de Tibães, 09 de Setembro de 2009
† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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