Arquidiocese de Braga -
15 maio 2011
PROPOR A VOCAÇÃO COM OUSADIA

Colaborador
Homilia de D. Jorge Ortiga nas Ordenações Diaconais.
PROPOR A VOCAÇÃO COM OUSADIA
Ordenação de Diáconos
O Evangelho de hoje expressa a missão fundamental de Cristo: “Eu vim para que as minhas ovelhas tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 1-10). Jesus revela a sua identidade usando a metáfora da Porta para dizer que Ele é o pastor que conduz a humanidade inteira para o Pai. Ele chama-as pelo seu nome, conhece-as por que se deu a conhecer e faz com que entrem pela porta. Nesta proximidade as ovelhas estabelecem com Ele a confiança que lhes permite reconhecê-lo com o verdadeiro e autêntico Pastor.
A proximidade com o Bom e Belo Pastor é fundamental para a qualidade da nossa fé. Cristo “deixou o exemplo” para que “sigamos os seus passos” (7 Pedro 2, 21). Como Ele, o caminho da Igreja é “viver para a justiça” de modo que todos experimentem a abundância da vida em Deus. Tal como Pedro ergue a sua voz e fala ao povo (Act 2, 15), também a Igreja deve seguir a Cristo em toda a sua profundidade, mediante um testemunho credível de fé e de esperança. Tornar a vida verdadeiramente humana é tarefa de todo o cristão. Ser cristão uma vocação, é um dom recebido de graça que deve ser cuidado e potenciado em prol do serviço ao próximo. A Igreja é “responsável pelo nascimento e pela maturação das vocações sacerdotais e religiosas” (Pastor Dabo Vobis, 41).
Ser responsável pelo crescimento das vocações significa “propor as vocações” com um testemunho alegre e cheio de Deus. A primeira proposta de testemunho vocacional passa pela alegria e realização pessoal. Não é fácil mas é belo ser consagrada/o nos tempos que correm. A alegria do consagrado/a que dá a sua vida para que os outros tenham vida não deixa o mundo insensível. Não foi este o testemunho de vida do Beato João Paulo II? Agora quando a consagração é amorfa e fastidiosa não é capaz de convencer nem de dar esperança de nada.
Que sentido faz hoje ser consagrado (a)? Que propostas a fazer aos jovens de hoje? Se somos proposta interpeladora, a nossa Arquidiocese tem a necessidade urgente de se tornar “mais sensível e atenta à pastoral vocacional” no sentido de fazer da Pastoral vocacional o termómetro de toda a evangelização e de toda a pastoral. É missão de todos, sem excepção, suscitar vocações mediante um testemunho coerente de vida, onde a alegria e a gratuidade da missão sejam o rosto visível da vida cristã.
A missão de suscitar vocações não pode ser vista como um apêndice da pastoral ou esforço exclusivo daqueles que se dedicam de modo específico ao acompanhamento vocacional. Tudo e todos são agentes da pastoral vocacional. Mas, seguindo a mensagem do Santo Padre para esta semana das vocações, quero referir o contributo especial para as vocações que os sacerdotes, as famílias, os catequistas (animadores) e os movimentos podem proporcionar aos jovens de hoje.
Os sacerdotes para além do testemunho de vida como “húmus vital dos novos rebentos de vocações sacerdotais” (Bento VI), não podem negligenciar os variados modos de propor pastoralmente a vocação como fruto visível da fé de uma determinada comunidade cristã.
As famílias devem ser capazes de “ajudar os filhos e as filhas a acolherem, com generosidade, o chamamento ao sacerdócio ou à vida consagrada”. Aí começa a aventura da entrega ao serviço do Reino. É fascinante aquilo que o Beato João Paulo II afirma acerca da sua vocação. Diz que o pai nunca lhe falou explicitamente em ser padre mas que “o seu testemunho foi o seu primeiro Seminário”. A família deve ser o primeiro Seminário enquanto lugar onde se semeia a vontade de optar pelas causas do Reino de Deus.
Os catequistas e animadores devem “cultivar o espírito das crianças, adolescentes e jovens a si confiados” de modo a que “eles possam sentir e seguir de bom grado a vocação divina” (D. T. 2). Não pode existir melhor lugar para colocar questões e respostas que orientem para uma escolha vocacional. Catequizar é colocar perante a história de Cristo que continua a bater à porta esperando que os corações se abram à decisão de o seguir bem de perto.
Os numerosos Movimentos que existem na nossa Igreja de Braga nunca se poderão fechar à procura da santidade pessoal. Só uma crescente integração na vida eclesial os levará a compreender que o anúncio da Boa Nova não pode limitar-se à vivência d carisma pessoal. A sua vitalidade pode e deve medir-se também pelas vocações que oferecem à Igreja Particular.
O papa Bento XVI diz-nos que “a capacidade de cultivar as vocações é sinal característico da vitalidade de uma Igreja local”. Uma vitalidade e dinamicidade que precisa do contributo de todos. É por isso que todos os momentos da vida da comunidade eclesial – a catequese, os encontros de formação, a oração litúrgica, as peregrinações aos santuários – são uma ocasião preciosa para suscitar no povo de Deus, em particular nos mais pequenos e nos jovens, o sentido de pertença à Igreja e a responsabilidade em responder, com uma opção livre e consciente, ao chamamento para o sacerdócio e à vida consagrada.
Os diáconos hoje ordenados inserem-se nesta grande missão da Igreja de testemunhar Cristo Ressuscitado mediante o anúncio da Palavra e uma vida coerente com aquilo que anunciam.
Por isso, caríssimos diáconos, ajudai com a vossa juventude e alegria a Igreja a entrar no mundo dos mais novos testemunhado aí a beleza do acreditar em Cristo; nos caminhos da missão, sede missionários do amor Deus em favor dos mais necessitados; abri os corações e as portas que continuam fechadas à esperança que vem do Alto; fazei do Evangelho, de Cristo, a Beleza que atrai o mundo para Deus seu e o nosso Pai; vivei (d)a palavra como resposta concreta ao projecto de Amor traçado desde toda a eternidade.
Assim todos, particularmente os sacerdotes e diáconos, religiosos e religiosas, façamos da nossa vocação o verdadeiro testemunho da alegria pascal, fazendo ecoar o “Sim” maravilhoso de Maria nos corações de todos os homens e mulheres, para que saibam cantar as maravilhas que Deus opera em cada um dos seus filhos.
Seminário Nossa Senhora da Conceição, 15-5-2011
† Jorge Ortiga, A.P.
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