Arquidiocese de Braga -

11 agosto 2011

PARTIR EM PEREGRINAÇÃO

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Colaborador

Meditação de D. Jorge Ortiga na Celebração do Envio dos jovens para as Jornadas Mundiais da Juventude.

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Partir em Peregrinação

Celebração de Envio

 

Partindo do lema da Mensagem do Santo Padre para estas Jornadas Mundiais – “Enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé” (Col 2, 7) –, quero desafiar-vos a encarar estas Jornadas numa verdadeira Peregrinação. Se a atitude interior for esta, as variadas iniciativas programadas produzirão frutos consistentes. Caso contrário, tudo será um acontecimento efémero que não deixará raízes firmadas na fé em Cristo. Peço-vos, por isso, que não banalizeis esta experiência, que deverá ser marcante para vós, para a Igreja e para a sociedade.

Entendidas como peregrinação, as Jornadas Mundiais são um verdadeiro e sereno trabalho do Espírito a conduzir-vos ao Templo do Senhor, “à Casa do Deus Vivo”, para aí permanecer durante a vida toda. As obras do Espírito Santo podem e devem experimentar-se como autêntica graça que seduz, fascina e interpela a fixar os horizontes da vida pessoal. É fácil apegar-se ao fascínio das coisas que se conhecem. O ser humano sacia-se plenamente quando é capaz de sair do seu egocentrismo para permanecer numa relação autêntica de enamoramento com Deus. Como diz Santo Agostinho: “Fizeste-nos para Vós e o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Vós.

A graça acolhida é exigente. Nem sempre ela entra nos parâmetros dos ideais juvenis. Tudo o que é belo é exigente. A exigência nunca é sinónimo de impossibilidade. Ela é sempre um critério para um maior empenhamento nas causas humanas e divinas. Ser igual aos outros, deixar-se comandar por referências da moda ou da fama fácil, leva à perda da liberdade pessoal e da responsabilidade colectiva de gerar uma sociedade mais fraterna e mais humana.

Não acrediteis em promessas fáceis. A peregrinação supõe coragem para ultrapassar as coisas impossíveis, as dúvidas e os medos em relação ao presente e ao futuro. É fundamental que, acreditando nos dons que Deus vos dá gratuitamente, reconheçais o quão fascinante é sentir-vos enraizados em Cristo. Certamente que vos lembrais do célebre grito de libertação de João Paulo II: “Não tenhais medo”. Ele nada tira, tudo dá”. Assumi-o como convicção e não apenas com emoção!

O momento que ides viver será uma experiência de fé inédita, que conduz à disponibilidade e ao compromisso; à relação amiga e a encontros novos. O peregrino, sobretudo o antigo, acolhia o dom, descortinava caminhos novos e correspondia com alegria ao comprometer a sua vida com Cristo, com a Igreja e com a sociedade. Vinha, normalmente, de diferentes pontos, e estava aberto para encontrar novo sentido para a vida.

Hoje, e vós sois peritos nisso, fazei das redes sociais e das novas tecnologias um meio precioso para comunicar as vossas experiências de fé pessoais e comunitárias. Revelai que ides em peregrinação, cantando e rezando, convivendo e partilhando, com alegria e entusiasmo a mesma fé em Cristo. Mostrai aos vossos amigos que ainda não conhecem Cristo que Ele é a beleza que salva o Homem dos seus medos e angústias. Testemunhai com entusiasmo que é Ele que dá a verdadeira alegria e esperança ao coração do Homem.

Comprometer a vida em Cristo é chegar ao ponto mais alto da liberdade e da paz. A Sua missão continua a precisar de cada um de nós para gerarmos uma corrente de esperança que atravesse o mundo inteiro. Uma corrente de amor a partir de vós jovens, a partir dos vossos rostos de juventude e alegria, para revestir o mundo com as cores da beleza da diferença e da multiculturalidade. Uma corrente de fé onde cada um de vós possa testemunhar ao mundo que a juventude de hoje sabe onde coloca a sua confiança, que tem valores riquíssimos para partilhar e para gerar esperança nas gerações presentes e vindouras.

Este compromisso incondicional com Cristo, razão da caminhada do peregrino, faz-nos encontrar com a Sua missão e anunciá-Lo como o Salvador da humanidade. Uma Igreja empenhada na causa do Evangelho nunca deixará de semear sementes de fraternidade e de justiça no coração da humanidade. Quando se é de Cristo, sente-se Igreja em missão na sociedade. O peregrino sabe ver a sociedade. Não passa por ela marginalmente. Reconhece as suas belezas e os seus atentados. Não assiste passivamente mas assimila as suas lágrimas e as suas dores. O peregrino consciencializa-se para agir em corpo, numa Igreja que cresce no “serviço”, na qual a vocação sacerdotal surge como entrega gratuita a uma causa sublime.

Caro jovem, parte como peregrino e procura meditar, momento após momento, nestas três realidades que são uma só: Cristo, Igreja, sociedade. Escuta serenamente e com confiança aquele apelo do anjo a Elias: “Levanta-te e come, pois ainda tens um longo caminho a percorrer” (1Re 19,7). O caminho de Madrid é o caminho da peregrinação ao encontro da raiz da nossa fé, Cristo o Bom e Belo Pastor.

Na peregrinação tudo é dom que vem do Alto. A peregrinação tem uma partida e uma meta. Partimos deste encontro com Cristo e ganharemos a missão de ser seus missionários em cada lugar que Deus nos coloca. Não se trata dum passatempo com princípio, meio e fim. Algo de novo tem de acontecer para ficar. A Arquidiocese confia-vos, nesta Igreja-Mãe, a tarefa de colocar a Palavra de Deus no coração da sociedade. Sei que isso irá acontecer. Ireis receber muito para poder oferecer muito à Igreja e ao mundo de hoje.

 

Sé Catedral, 10 de Agosto de 2011

 

Jorge ortiga, A.P.