Arquidiocese de Braga -

18 agosto 2011

A ACTUALIDADE DE DEUS

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Colaborador

Reflexão de D. Jorge Ortiga na celebração do envio dos jovens da Arquidiocese de Braga que participam nas Jornadas Mundiais de Juventude.

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JORNADAS MUNDIAIS DA JUVENTUDE 2011

 

A ACTUALIDADE DE DEUS

 

Envio dos 750 jovens para as JMJ

 

O ser humano define-se como homo viator. Ser peregrino, é a sua condição mais natural. O seu desenvolvimento físico ou psíquico orienta-se e pretende atingir a maturidade na dupla dimensão de ser pessoa e de se relacionar em sociedade. Crescemos pessoal e socialmente. Vamos evoluindo.

Este crescimento, norteado por uma meta a atingir, acontece essencialmente no interior, torna-se ávido de conhecimentos, procurador insistente de bens, imbuido duma curiosidade nem sempre sadia. Sabemos que esta nascente situada no interior humano começa a encontrar concorrentes que estão a viciar o que é identificativo do ser humano: um eterno procurador de verdade. A insatisfação hodierna está a denunciar o erro em que o Homem caiu ao acreditar no relativismo dos valores e ao esquecer-se que é um peregrino do Absoluto. Como nunca entramos nos segredos da ciência, deixamo-nos embriagar pela tecnologia.

Mas, entrando no segredo das vossas consciências, o que está a acontecer? Deparamo-nos com soluções parciais e não conseguimos entrelaçar o puzzle das respostas aos tremendos enigmas da quotidianidade. Não faltam soluções. A infelicidade e a amargura das pessoas que pensam começam a desacreditar a possibilidade de ser feliz. Fala-se da liberdade e aposta-se em modelos individuais. Reclamam-se convergências e teremos de nos contentar com planos de emergência. Todos se considerem detentores da verdadeira solução para encontrar a felicidade e um modelo de sociedade.

A história cristã fala-nos dum “Deus desconhecido”. A filosofia sublinha a “nostalgia” de Deus. Como crentes, sentimo-nos criados “à imagem e semelhança de Deus” (Gn.1,27). Mas será que hoje não estamos diante de um verdadeiro “desejo de Deus”? Que promessas ofuscam esse desejo? O que nos separa do Amor de Deus? Alguns pensadores proclamaram publicamente a “morte de Deus” (F. Nietzsche) e consideraram a religião como o «ópio do povo» (K. Marx). Esta mentalidade está presente em muitas sociedades só que não há a coragem de o afirmar e prefere-se falar de neutralidade, laicidade, secularismo...

Não teremos nós uma certa responsabilidade pela situação histórica que vivemos? Como testemunhamos a nossa fé? Pessoalmente, assumo a responsabilidade de alguém que foi incapaz de fazer uma experiência profunda de Deus e de a oferecer com autenticidade ao mundo.

 Perante o grande acontecimento das Jornadas Mundiais da Juventude, gostaria de vos citar uma expressão do Concílio Vaticano II: “Quem segue Cristo, o homem perfeito, torna-se ele mesmo mais humano” (S.S. 41). Cristo não nos impede de ser humanos. Ajuda e dá forças.        

Acreditando nesta doutrina e tendo presente o Programa destas Jornadas, também eu, tal como o Santo Padre que iniciou estas Jornadas, vos grito: “Não   tenhais medo de Cristo. Abri-lhes as portas do vosso coração”. Importa querer conhecer o que Ele é. Isto significa dar-lhe uma oportunidade para o deixar entrar na nossa vida. É no interior que se conhece Deus. “Deus nunca ninguém o viu: quem nos revela Deus foi o Filho único que está junto do Pai” (Jo 1,18).

Ao partir, importa consciencializarmo-nos da importância das Jornadas. Muitas coisas maravilhosas vão ser propostas. Os dias vão ser cansativos e cheios de muitas sugestões e propostas. Fundamental é entrar no interior, abrir a porta da vossa casa e deixar entrar o Mestre. Só Cristo é o verdadeiro Mestre e pedagogo. É fundamental acolher sem resistências a aliança de amor que Ele – e só Ele – quer estabelecer connosco. No meio de tantas coisas que experimentais no interior dos vossos grupos, procurai fazer a experiência dos primeiros cristãos. “Nos tempos antigos, muitas vezes e de muitos modos, Deus falou aos antepassados por meio dos profetas. Agora fala-nos por meio do Seu Filho” (Heb 1,1).

Talvez tenhais algumas ideias, mais ou menos consistentes, sobre Deus e a Igreja. Que estes dias sejam de conforto, talvez a procurar a conversão, com aquilo que Cristo quer dizer a cada um. Há muita novidade. Nada se repete. Importa não perder este encontro dialogante. Ouvi-O criando, para isso, as condições e disposições interiores necessárias.

A vossa atitude está em seguir Cristo sob a acção do Espírito que vos vai configurando lentamente a Ele. O Espírito Santo faz-vos mergulhar no “mistério pascal para que a vida se torne caminho de ressurreição”. Vivemos para morrer para que todos os homens se encontrem com a vida. Quando rezamos “venha o teu Reino” sabemos que o Reino de Deus “já esta no meio de nós” (Lc. 17,21) mas ainda não se manifestou plenamente. A Igreja é um sacramento onde o Reino de Deus já chegou mas ainda não se concretizou. A Igreja peregrina em direcção à plena realização, gerando o desejo sincero e o compromisso responsável dos “novos céus e da terra nova” que hão-de vir.

São maravilhosas as palavras do último livro da Sagrada Escritura. “Vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade Santa, uma Jerusalém nova, pronta como esposa que se enfeitou para o seu marido. Nisto, ouvi uma voz forte que saía do trono e dizia: “Esta é a tenda de Deus entre os homens. Ele vai morar com eles. Eles serão o Seu povo e Ele, o Deus-com-eles, será o Seu Deus. Ele enxugará as lágrimas dos seus olhos pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem gritos, nem dor. Sim! As coisas antigas desapareceram”. Aquele que está sentado no trono declarou: “Eis que faço novas todas as coisas” (Apoc. 21,2.6).

Deus quer fazer novas todas as coisas. Para isso a Igreja dever ser a tenda de Deus montada no meio da cidade, empenhada numa nova consciência missionária para que a dor se atenue, o luto não entristeça, as lágrimas se encaminhem para o sorriso, a fome toque com as suas mãos o pão partilhado, o trabalho seja alegria de construir um mundo mais justo e fraterno.

Carríssimo jovem, aceita as Jornadas como peregrinação interior, não temas colocar-te em questão, deixa que o projecto de Cristo te fascine. Por ti, depois e sempre, muitos saberão que a história humana sem Deus não tem futuro. Deus não é mera nostalgia do sagrado. É presença na vida de cada um. Que estas Jornadas Mundiais façam história na Igreja Universal e na sociedade portuguesa.

Para isso, em nome de Cristo e da Igreja, vos envio para Madrid.

 

Sameiro, 14 de Agosto de 2011

                      

Jorge ortiga, A.P.