Arquidiocese de Braga -

23 outubro 2012

DESAFIOS DO ANO DA FÉ

Default Image
Fotografia

Mensagem de D. Jorge Ortiga aos movimentos, sacerdotes, consagrados, famílias e jovens, por ocasião da abertura do Ano da Fé.

\n

Aos Movimentos

 

                Os movimentos na missão da Igreja são uma presença do Espírito que, na pessoa dos fundadores, quer ir respondendo a determinados desafios que o mundo vive. Foram surgindo ao longo da história com metodologias diferentes sempre numa atitude de acolher a fé para a transmitir em lugares e ambientes diferentes. Daí que o Ano da Fé deve tornar-se uma experiência de responsabilidade de todos e cada um dos membros dos movimentos, para redescobrir uma fé viva e devidamente motivada. Viva porque imbuída, antes de qualquer outra atitude, duma grande capacidade de escuta de Cristo para aderir ao Seu amor numa decisão livre mas consciente. Viva, porque integrada em toda a vida e não reservada a alguns momentos rotineiros. Viva, porque alicerçada no interior para resplandecer em gestos e atitudes que tornam visível aquilo que, de sua natureza, é invisível. Motivada porque os tempos hodiernos exigem um reaprender os conteúdos da fé, na sua integralidade e originalidade. Motivada porque a mensagem de Cristo e o magistério da Igreja não tem a sua origem em critérios de mera racionalidade ou aceitação democrática. A sua força vem de outro lado e por isso encerra uma originalidade que nos distingue, embora nos coloque em diálogo com todos, para os respeitar nunca perdendo as oportunidades de anunciar essa diferença.

 

                Que peço aos nossos Movimentos, neste Ano da Fé?

1 - Que as nossas igrejas, através dos movimentos, proporcionem momentos e espaços de adoração serena e tranquila. O silencio ouvinte, onde Alguém fala, deve ser privilegiado e daí que nem sempre sejam necessárias muitas palavras e fórmulas. É imperioso “gostar” de estar com Jesus, ficar com Ele, dar-lhe espaço, permitir que sugira as opções a tomar e que proporcione a tranquilidade aos nossos desabafos.

                Importa colocar aí a Igreja na sua tríplice expressão Paroquial, Arquidiocesana e Universal. Sabemos que a Igreja deve ser fiel aos desafios da modernidade. Só o Espírito faz com que sejamos capazes de discernir e ouvir o que o mesmo Espírito diz ou quer dizer. Levemos à intimidade com Cristo as atividades da comunidade e da Arquidiocese. Pensemos diante de Cristo os assuntos dos Conselhos Pastorais ou Arquidiocesanos. Diria que a Pastoral hodierna deve ser pensada de joelhos. Ela não é mera técnica. Aqui os Movimentos podem – e assim o espero - ser uma verdadeira “lição” para as comunidades.

                2 – A fé “motivada” significa a necessidade do crente apresentar as razões da sua fé. Pode custar muito apresentar-se como crente e, particularmente, católico. Dá mais trabalho querer conhecer o que mostra a nossa identidade cristã como suporte consciente da vida. Sem razões sérias é quase impossível conviver com tanta indiferença, relativismo e expressões religiosas diferentes.

                Aqui os Movimentos podem e devem realizar um duplo trabalho. Em primeiro lugar com os membros do Movimento e a partir do específico da espiritualidade própria alargar o âmbito do estudo e reflexão aos conteúdos do Credo (Catecismo da Igreja Católica, “A Fé: 12 catequeses eclesiais”, Lumen Gentium…). Por outro lado, o Movimento deve olhar para o mundo e promover, organizar e dinamizar grupos de reflexão sobre a fé, onde os membros do Movimento são seus animadores.

                3 - Com esta orientação de tornar os Movimentos verdadeiras Escolas de Fé, sem esquecer a participação em cursos superiores, estamos a garantir a formação devida para que os leigos se tornem verdadeiros agentes de pastoral. A fé conduz à missão e teremos de reconhecer que, se é diminuta a consciência de pertença eclesial por parte de muitos cristãos da Arquidiocese, é ainda menor a consciência missionária.

                4 - O Ano da Fé deve ser uma oportunidade para os Movimentos crescer e manifestar essa presença ativa nas comunidades. O Santo Padre em Fátima disse: “Observando os movimentos, tive a alegria e a graça de ver como, num momento de fadiga da Igreja, num momento em que se falava de “inverso” da Igreja, o Espírito Santo criava uma nova primavera, fazendo despertar nos jovens e adultos a alegria de serem cristãos, de viverem na Igreja que é o Corpo Vivo de Cristo. Graças aos carismas, a radicalidade do Evangelho, o conteúdo objetivo da fé, o fluxo vivo da sua tradição comunicam-se persuasivamente e são acolhidos como experiências pessoal, como adesão da liberdade ao evento presente de Cristo”.

Se os Movimentos forem verdadeiros “Grupos de Fé e Missão” redescobrimos “os conteúdos objectivos da fé” e fazemos com que a Igreja se torne “o Corpo Vivo de Cristo”.

 

 

 

Aos Consagrados

 

Ai iniciar um ano de particular relevo para a Igreja quero dirigir uma palavra de grande estima a todos(as) Consagrados(as), assim como às suas Congregações, Institutos Apostólicos ou Seculares. Sabemos que a fé não é somente uma doutrina ou um conjunto de tradições ou obrigações morais. Ela parte e desenvolve-se através dum encontro pessoal e comprometedor de toda a vida com Cristo e o Seu projecto de Salvação.

No nosso Programa Pastoral quisemos destacar a fé na sua dimensão de confiança absoluta em Cristo, do Credo como referência identitária do cristão e da Igreja (universal e local) e da sua vivência numa comunidade de irmãos. Nestes três itinerários, para redescobrirmos a nossa identidade cristã, quisemos motivar a Arquidiocese para um trabalho sério de acolhimento do dom da fé que, sem o fragmentar, o queremos compreender, com um aspecto para cada ano, através da profissão, da celebração, da vida, do anúncio e da contemplação.

Se o Ano da Fé é para a Igreja Universal, a Igreja Particular de Braga quer contar com o contributo insubstituível da vida consagrada. Muita coisa poderemos realizar. Atrevo-me a solicitar-vos a tarefa de constituir grupos de oração, reflexão e missão.

No silêncio da oração permitiremos que o abandono nas mãos de Deus aconteça como segredo ou tesouro que somos capazes de redescobrir. A vocação é, para todos, este diálogo ininterrupto entre Cristo e quem se disponibiliza para acolher a Sua mensagem. Não somos portadores duma doutrina. Envolvemo-nos numa experiência de amor que enche a vida toda e a Igreja será Boa Nova para os homens de hoje se transmitir aquilo que vive.

Um dos grandes problemas da sociedade hodierna é a fragmentação do saber ou o caminhar num relativismo onde tudo é apresentado e escolhido como se tivesse o mesmo valor. O Credo, como símbolo que une as verdades e nos acompanha desde o baptismo até à morte, é uma manancial do qual poderemos extrair, permanentemente, convicções profundas e identitárias da nossa fé quando estudadas, refletidas e partilhadas. O Catecismo da Igreja Católica e outros subsídios disponíveis nos nossos serviços devem ser aprofundados para que as razões da fé ganhem consistência e não permitamos a rotina ou a simples resignação a uma vida de meras tradições.

Na oração ouvinte, no estudo responsável, estamos a dar credibilidade a uma Igreja que não se fecha nas nossas comunidades ou Institutos. Ela está na Igreja Particular de Braga e, por esta, numa comunhão plena com a Igreja de Pedro, acolhendo as suas orientações que gostamos de conhecer e viver. Aqui sabemo-nos Comunhão e Missão. Comunhão com as pessoas, abrindo-nos a todos e, particularmente, aos mais pobres; Missão na alegria de testemunhar o dom da fé com o perfume das Vidas e com a coragem de obras que anunciam Deus. Aquele que nos escolheu e a quem procuramos corresponder com muitas infidelidades, num mundo que quer viver como se Ele não existisse. O passado fechou a vida consagrada atrás das grades como expressão dum abandono do mundo. Hoje, com a permanente preocupação de não ser mundanos – e é tão fácil cair nesta tentação – teremos de invadir os caminhos humanos não como curiosidade ou distracção, mas alegre responsabilidade de gastar a vida anunciando o Reino. Trata-se dum ardor missionário que tem de ser estimulado e concretizado, como tarefa de todos.

Que pedirei, neste Ano da Fé, às Congregações e Institutos?

A Igreja, casa dos homens e mulheres de fé, é uma comunidade de comunidades. A partir de pequenos grupos com “alma – Igreja” e nunca fechados no particular dum carisma – conseguiremos ser instrumentos de escolas de fé, aprofundada e missionária. Ainda estamos apegados a um modelo de Igreja e lamentamos a nossa incapacidade para entusiasmar pessoas para este modelo que nos seduziu. Os tempos são diferentes, embora não o pareça, e muitos vivem como se tudo continuasse na mesma. Na fidelidade ao carisma de cada um, demos vida a estes Grupos de Fé e Missão para que cresça a consciência de pertença à única Igreja de Jesus Cristo onde a dimensão missionária é estruturante e ousada chegando a lugares e mentalidades, nossos vizinhos mas alheios à dimensão do Espírito.

É chegada a hora de testemunharmos a alegria de sermos portadores dum carisma, ou seja, duma presença particular do Espírito. O mundo necessita da actualidade das vossas vidas consagradas. Sede anúncio feliz do espírito das bem-aventuranças e proclamai como é belo deixar tudo para seguir Cristo, que hoje nos continua a seduzir!

Para terminar, mais um pedido. Não deixem de partilhar essas iniciativas e a vitalidade desses grupos. A Igreja está para além do intimismo ou privado. Sejamos esta Família de Famílias onde só o testemunho do amor de Cristo nos interessa.

 

 

 

 

Aos Jovens

                Será que a Igreja tem algo a acrescentar às perguntas dos jovens? Não será ela agente de frustração e enganos? Os seus caminhos proporcionam a plenitude humana?

                Numa passagem da sagada Escritura afirma-se o compromisso com a sabedoria, como modo de ver a vida e o mundo, escolhendo-a, preferindo-a a tantas outras coisas, nem sequer a comparando ao valor das pedras preciosas, e amando-a em profundidade para chegar a uma conclusão: “Decidi tê-la como luz”.

                É esta luz para o caminhar da juventude que gostaria de propor aos jovens. Ela dum modo mais claro, chama-se fé. Fé que importa reinterpretar, dando-lhe um rosto, jovem mas verdadeiro, e compreender os seus dinamismos mais íntimos. Saberemos o que é a Fé?

                Como queremos celebrar os 50 anos do Concílio Vaticano II e aprofundar a Constituição dogmática sobre a Igreja, permiti que vos deixe ficar um pensamento que resume o que devemos fazer este ano. “Cada um, segundo os dons e as funções que lhe foram confiadas, deve enveredar, sem hesitação, pelo caminho da fé viva, que gera a esperança e opera pela caridade” (LG 41)

Em todas as idades, segundo uma pedagogia diversificada e adaptada às capacidades, a fé deve tornar-se uma experiência que, no nosso Programa, sintetizamos como abandono confiante em Cristo que vem ao nosso encontro oferecendo-nos o dom maravilhoso que teremos de acolher. Sois jovens. Mesmo assim, criai espaços para a leitura e meditação pessoal onde o silêncio acompanha a reflexão. O vosso amor à natureza é sugestivo como possibilidade de se isolar para estar com alguém a quem se quer ouvir. Este encontro com o amigo conduz a uma mensagem que Ele ensinou e que a Igreja continua a proclamar. A sua sabedoria elaborou um “símbolo” ou “credo” como resumo de quanto acreditamos. O estudo e a reflexão sobre o Credo, seguindo o Catecismo e as catequeses que preparamos, faz com que aprendamos as razões do nosso crer para não hesitar nem ter medo de o proclamar em qualquer lugar, particularmente nos ambientes juvenis. A Fé vive-se numa comunidade e aí devemos ser membros ativos e participativos.

                Quando a nossa fé é viva, não adormecida, acorrentada em hábitos e tradições, ela gera a esperança e a Igreja será um espaço de tranquilidade a oferecer a tantos desorientados, particularmente aos jovens iludidos com experiências que só conduzem ao vazio existencial.

                A fé opera pela caridade. A juventude é sempre um movimento que gosta de intervir. Também deparamos com jovens resignados numa expectativa que aconteça uma resolução dos problemas. A juventude cristã sabe que acreditar é um dinamismo permanente, que nos lança nos caminhos incómodos onde poucos ousam andar. Não devemos ser nós a marcar o ritmo das nossas vidas. Estamos onde se encontram as questões humanas e nunca numa mera atitude de resignação. Queremos ser solução e aceitamos o caminho do voluntariado e da gratuidade como o sentido único das vidas. Damos continuidade a projetos de caridade que outros iniciaram e ousamos criar outros para responder a novas situações de indignidade humana, de degradação, de marginalização.

                Que espero dos jovens neste Ano da Fé?

                Ano de fé, momento para redescobrirmos a nossa identidade cristã e para rejuvenescermos a Igreja Arquidiocesana, fazendo com que as comunidades se apaixonem pelos jovens e estes aceitem ser capital para uma transformação do mundo. Daí que peça a todos os grupos de jovens: procurai aprofundar as razões da vossa fé e fazei com que esta esteja nas praças públicas, nas discussões académicas, nos convívios juvenis e em todos os ambientes sociais. Sede intérpretes duma renovação da sociedade, deixando-vos conduzir pela luz da fé e colocando-a no coração de todas as dimensões da vida humana. Sereis felizes se elevardes o mundo. Sede, por isso, audazes e descortinai aventuras marcadas pela fé, animadas pela esperança e motivadas por uma caridade que sabe reconhecer os males para os destruir. Trabalhai em grupo, multiplicai os grupos existentes e crescei como homens e mulheres abertos ao infinito e comprometidos com a vida quotidiana das nossas populações.

 

 

 

 

Aos sacerdotes

 

                A celebração dos 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II coincide com a Abertura do Ano da Fé. A Igreja Universal, numa responsabilização de cada Igreja Particular, quer celebrar o passado numa atitude de abertura das Suas Portas à centralidade do Seu ministério. A partir da redescoberta desta realidade compreenderemos o sentido da missão através duma ministerialidade universal com responsabilidades específicas para todos, particularmente para os sacerdotes.

                O Ano da Fé que, em certo sentido, alargaremos a um quinquénio, não para fragmentar o dom, mas para o compreendermos mais profundamente, contemplando-o em diversas perspectivas, oferece-nos de novo o manancial legado do Concílio Vaticano II para o reinterpretarmos progressivamente ano após ano, documento após documento.

                A resposta à receção do Concílio deve ser dada pela Igreja, pela nossa Arquidiocese e isto quer dizer todo o Povo de Deus. Este dinamismo deve ser criado e estimulado. A doutrina conciliar não está ultrapassada. Os tempos atuais exigem a sua reinterpretação permanente na fidelidade ao Espírito.

                Sendo o Ano da Fé para todos, os sacerdotes devem ser, através do seu entusiasmo, uma atitude de referência.

A Exortação Final do Presbiterorum Ordinis diz: “Todas estas coisas, porque estão escondidas com Cristo em Deus (cf. Cl. 3, 3), podem ser entendidas sobretudo pela fé. É, com efeito, necessário que os chefes do povo de Deus caminhem na fé, seguindo o exemplo do fiel Abraão que, pela fé, ao ser chamado, obedeceu e partiu para um lugar que havia de receber como herança e partiu sem saber para onde ia” (Heb 11, 8). (P.O. 22)

                As coisas novas – para a Igreja e para o mundo – estão escondidas “com Cristo em Deus”. Os compêndios de teologia ou de pastoral são uma obrigação da Formação Permanente. Só a fé nos conduzirá a um encontro que nos proporciona muita confiança e serenidade para estes momentos históricos.

                Somos homens duma aventura misteriosa, marcada por opções pessoais em contra corrente, que cativará outros se no quotidiano apenas resplandecer quem nos seduz. Encontramos a nossa identidade se caminharmos na fé. O caminho do sacerdote é duro, muitas vezes enigmático. Regressando ao centro que nos identifica nunca nos sentiremos perdidos. É uma identidade que encerra muitas virtudes e valores que o nosso povo perdeu mas espera encontrar na coerência das nossas vidas.

                A vida entendida como confiança, sinal de uma identidade inequívoca, leva-nos a seguir o exemplo fiel de tantos, como Abrão, que obedeceram e partiram para os mundos desconhecidos na certeza de receber – no encontro definitivo e só aí – a herança como recompensa. Obedecendo ao projeto do Pai e partindo para caminhos novos através do nosso ministério (serviço) e não pela autoridade edificamos uma Igreja, verdadeira comunidade de Cristãos.

No discurso de abertura do Concílio Vaticano II, o Bondoso Papa João XXIII, no dia 11 de Outubro de 1962, disse: “O Concílio que agora começa, surge na Igreja como dia que promete a luz mais brilhante… Contemplemos as estrelas, que aumentam com o brilho a majestade deste templo; sim, as estrelas segundo o testemunho do Apóstolo João, sois vós mesmos; e convosco vemos brilhar aqueles candelabros dourados à volta do sepulcro do Príncipe dos Apóstolos, isto é, as igrejas a vós confiadas.”

Que pedirei aos sacerdotes para este Ano da Fé?

Que cada um seja essa estrela polar que pelo brilho silencioso orienta os passos do Povo de Deus e se empenhe para que a Arquidiocese, qual candelabro em comunhão com o Príncipe dos Apóstolos, brilhe com a força da luz duma comunidade de cristãos, com o Credo como sinal da sua identidade e interiorizando a fé como confiança pessoal num Cristo que nos amou primeiro. E, para que isso aconteça, sejam constituídos “grupos de fé e missão” em todas as comunidades. Que todos se deixem interpelar, como nos foi sugerido no último Simpósio, pela questão: “Ser padre para quê?”

Queres tu ser estrela ondem brilham os conteúdos do Evangelho? Serão as nossas comunidades, Diocesana e Paroquiais, candelabros onde resplandece a luz do amor de Deus?

 

 

 

 

Às Famílias

 

O Ano da Fé tem algo de muito concreto a pedir às famílias. Daí que queira colocar nas mãos dos nossos pais e mães algumas indicações de modo a responsabiliza-los numa tarefa que nunca será substituída por mais ninguém.

A família, como comunidade humana primordial e basilar, está aberta à vida como sua natureza constitutiva. Dito de outro modo, se uma família não está aberta à vida, falha na sua identidade de “família” (cf. FC 17)!

Quando falamos em abertura à vida, temos em mente a geração dos filhos, mas também a promoção e contribuição para a vida entendida em sentido pleno! E hoje, as famílias têm diante de si – como em toda a sociedade – o grande  atentado a uma vida plena que acontece no fenómeno denominado “relativismo” segundo o qual não existe nenhuma certeza sobre o que é o homem, sobre a vida e seu valor, em suma sobre a verdade.

Este relativismo afirma que Deus não existe e – se existisse - não seria possível conhecê-lo. Também não existem valores permanentes e perenes: o único que interessa é aquilo que a maioria tem, num determinado momento, como verdadeiro e bom!

Para além de outras consequências, gostava de sublinhar que este ambiente tem consequências educativas muito graves. Perde-se a capacidade de educar o ser humano para uma vida com sentido, perene e firme, capaz de configurar a vida e toda a vida.

Por isso, à família como principal instituição educadora impõe-se a reflexão sobre o modo como deve encarar a educação cristã dos seus filhos. Esta educação não é do âmbito estritamente religioso, mas também, e sobretudo, da realização humana.

Atendendo a que os pais querem, essencialmente, o bem dos seus filhos, não podem permitir que a sua vida fique vazia de sentido. É aqui que consideramos que os pais podem dar algo de muito bom e imprescindível aos seus filhos: um ambiente educativo familiar onde se possa descobrir o verdadeiro valor da vida, e esta possa ser vista e saboreada como dom a acolher de Deus.

Deste modo compreendemos o significado da educação cristã no seio familiar. A família, como primeira e basilar célula de vida social, tem os melhores recursos, sobretudo afetivos, para uma educação plena dos indivíduos. O amor que têm pelos seus filhos, leva as famílias a querer o melhor para eles: proporcionar aos seus filhos uma vida plena, isto é, concentrada na oferta duma satisfação das necessidades humanas essenciais mas aberta, dum modo permanente, ao transcendente. Para quem acredita, os filhos também são filhos de Deus e sem a integração nesta paternidade divina a felicidade nunca acontecerá plenamente.

Esta vida plena acontece pela inserção no Mistério de Cristo, que os pais pediram à Igreja aquando a celebração do Batismo dos seus filhos. Mas a celebração do Batismo na infância exige que os pais, padrinhos e demais membros da comunidade cristã percebam a família como local de evangelização e que tem um modo específico de evangelizar. Em primeiro lugar com o amor quotidiano, a simplicidade evangélica, a experiência constante de Cristo na oração e o testemunho diário e sereno dos adultos. Mas, em simultâneo, com a transmissão dos valores do Evangelho, de uma forma tão forte que marque a vida. Os pais não podem contentar-se com discursos ou lições teóricas, como não podem fugir à responsabilidade de fazer com que a sua família seja uma comunidade evangelizadora, fazendo, para isso, que ela acolha o Evangelho sendo o primeiro local de amadurecimento da fé. Por isso, deve apostar e trabalhar na sua própria evangelização onde o Evangelho é vivido se, antes, o acolherem para depois o transmitirem.

Que pedirei às famílias neste Ano da Fé?

O caminho mais adequado para atingir este objetivo consiste em criar grupos de casais capazes de refletirem a sua fé para assumirem a missão de a transmitir. Importa que sejam grupos abertos, constituídos por casais com experiência e conhecimento, cristãos e outros que estejam à procura ou se tenham afastado da Igreja. Com a experiência de grupo da fé pessoal e conjugal tornar-se-á mais consistente e capaz de assumir a tarefa duma educação cristã dos filhos, de modo que lhes proporcionem uma formação integral para que experimentem o sentido e a beleza de viver.

A família cristã faz-se comunidade evangelizadora na medida em que acolhe o Evangelho e o amadurece na fé. Daí que espere e peça que o ano da Fé e o quinquénio destinado à Pastoral da Fé seja um momento para concretizar o que poderá ser a catequese do futuro. Há caminhos novos que devemos preparar!

 

 

 

 

+ Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

11 de Outubro de 2012, Abertura do Ano da Fé.