Arquidiocese de Braga -

27 outubro 2012

SENTINELA DA PASTORAL

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Discurso de D. Jorge Ortiga na abertura do Conselho Arquidiocesano de Pastoral.

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Sentinela da Pastoral

Discurso de abertura no Conselho Arquidiocesano de Pastoral

               

A vida do cristão e das comunidades pode ser descrita através de imagens diferentes que nos aproximam do verdadeiro dinamismo da sua identidade. Se Cristo é o centro a partir do qual toda a vida gira, é possível sublinhar a ideia da circunferência onde, como base dum compasso, se vão descobrindo sempre os mesmos passos a repetir, dum modo igual e monótono, num caminho de rotinas e tradições. Mas, quando Cristo é, na verdade, o centro teremos de ver a vida pessoal e eclesial como uma espiral cuja trajetória é traçada pelo Espírito santo numa novidade que não se repete e projeta para horizontes desconhecidos.

               

1. Sabendo em quem confiamos, ancorados no Credo como critério da unidade, teremos de ser Igreja comunidade de crentes que se vai abrindo a sermos novos, conjugando a novidade com a fidelidade à doutrina, para apostarmos no essencial e sermos fiéis a uma Igreja conciliar, ou seja, situada no tempo. Quando o percurso estava delineado tudo era mais fácil. Se hoje o temos de discernir, a tarefa é muito mais apaixonante.

                O Conselho Arquidiocesano de Pastoral é a força renovadora da nossa Igreja onde cada um exercita a tarefa insubstituível para que a voz do Espírito seja discernida. Ela só se compreende quando nos encontramos, no amor mútuo, e permitimos que, no trabalho pessoal, o mesmo Espírito fale à Igreja através da corresponsabilidade. Tudo é fundamental mesmo que pareça pequeno ou inútil. Tudo é parte de todos. Nunca pode ser um areópago de alguns mais interventivos. Se tudo é pertinente e todos interpretam uma missão imprescindível, o Conselho deve acontecer sempre em todos os dias. As reuniões permitem o diálogo mas a partilha quotidiana, ou sempre que pareça oportuno, pode ser uma graça para o bem da Arquidiocese.

               

2. Participamos como delegados ou representantes de determinados grupos. Deveríamos trazer o conteúdo dos seus pensamentos. Mas não nos dispensamos do pessoal, como quem pretende desempenhar uma tarefa com empenho. Ter sempre diante de si a Arquidiocese no seu ser e no seu agir, colocar-se em permanente atitude de escuta, dará oportunidade para intuir a trajetória que se deve percorrer. Outros foram nomeados, o encargo é idêntico.

 

                3. Temos um Plano muito concreto para cindo anos. Não podemos fugir dele. A fé professada, celebrada, vivida, anunciada e contemplada. Ter o caminho delineado é uma vantagem desde que nos concentremos nos frutos desejados e concentremos as nossas energias, dum modo colegial e sinodal, nas propostas para os alcançar. Não basta propor ou desejar. A vitalidade das comunidades e da Arquidiocese está confiada à nossa capacidade de intuir, propor e motivar.

 

                4. O Conselho não vale pelo cumprimento das reuniões onde se estuda um determinado assunto. Há uma agenda à qual teremos de ser fiéis. O tempo de “antes da ordem do dia” abre possibilidades duma importância impar que espero e pretendo.

 

                5. A dinâmica da fé pode parecer trabalho para o interior da Igreja. Nada de mais falacioso. Considero uma ideia felicíssima termos colocado a porta da Sé de Braga, a recordar Cristo como a porta por onde entrar com maior consciência, com pessoas a sair para um encontro com a cidade das casas dos homens e mulheres. Se as ruas das cidades manifestam muita coisa para quem vive minimamente atento, o interior das casas onde as pessoas se enfrentam com tremendos problemas e dificuldades é o que devemos aceitar como novidade para esta hora. Encontrar-se com Cristo é entrar na história da salvação e libertação numa opção preferencial por quem sofre. Cristo é compaixão, consolação e percurso de quem gasta a vida fazendo o bem. Redescobrir a fé tem de encontrar uma expressão social muito mais solidária. Necessitamos da profissão e da celebração da fé. Tudo tem significado se se transformar numa caridade organizada que testemunha a fé. Louvemos a Deus e não nos envergonhemos daquilo que fazemos e que o mundo ignora. Mas pensemos no muito que há a fazer.

 

                6. Professar a fé supõe reconhecer as forças adversas e ganhar coragem para denunciar atitudes e atividades de associações que, camuflando-se na sua mentalidade, estão a minar a sociedade com ideias e projetos que contradizem a fé e sua vivência em sociedade. Não podemos condenar ninguém. Basta propor o contrário e nunca apoiar mesmo que pareçam coisas inofensivas, há muita confusão e no reino dos valores há quem se sirva de tudo para crescer na vida. A fé reconhece e sabe como deve agir.

               

                Concluindo, direi que o Conselho Arquidiocesano de Pastoral é a sentinela do nosso viver eclesial. Sentinela colocada no alto dos castelos, das cidades ou dos montes para intuir os problemas e a eles responder. A pastoral deve tornar-se pro-ativa e não meramente reativa. Chegar antes ou estar no meio dos problemas e aí tornar-se inteligência amadurecida pela fé e caridade fortalecida pelo amor concreto à humanidade.

                O centro da Vida é claro. Saibamos não fugir dele e corramos o quotidiano em itinerários de quem vai evoluindo dando respostas e causando a surpresa que o amor de Cristo pela humanidade suscita. Seremos capazes? O Espírito não é de timidez. Com Ele sabemos ser para fazer o que o mundo necessita na fidelidade a Cristo.

 

                7. Se a fé parte dum encontro de confiança, o centro, à volta do qual gira a vida do crente não em circunferência repetitiva mas em espiral que cresce e se alarga, tem um duplo movimento que lhe dá consistência: a interioridade trabalhada quotidianamente, tornando o amor a Cristo mais consciente e a exterioridade como expressão duma missionaridade interpretada como nova evangelização. Todos necessitam de regressar ao centro e de partir para o anúncio explícito e testemunhal ou para um trabalho organizado a partir dos serviços comunitários. Há uma necessidade muito concreta na Arquidiocese. Os movimentos eclesiais que, como já foi referido no Sínodo, são “um verdadeiro dom de Deus. Teremos, por isso, de dar nova consistência e fazer com que cresçam os movimentos existentes na Arquidiocese e acolher os dons que o Espírito poderá suscitar fazendo com que no “Inverno” da Igreja eles se tornem expressões duma verdadeira “Primavera eclesial”.

                Resumindo e concluindo apontando pistas para este Conselho: A Fé Professada (preocupação deste Ano da Fé), celebrada, vivida, anunciada e contemplada.

                a) Centralizar em Cristo e desenvolver-se num ritmo crescente;

                b) Aprofundar a fé

c) Cuidar dos Grupos Fé e Missão ou Laboratórios da Fé

                d) Descobrir caminhos novos de evangelização

e) Dar consistência e nova articulação aos Movimentos

                f) Reconhecer que temos tesouros de Santidade na história da Arquidiocese.

g) Conhecer os nossos Santos e outros que ainda não foram declarados mas que teremos de ter bem presente na história de hoje, como Igreja vocacionada à Santidade.

 

É um pano de fundo que deverá acompanhar os trabalhos. O cristão que não tende à santidade torna-se amorfo. Não estou a impor o ritmo do Conselho. São ideias para aprofundar a confiança em Cristo e partir para o mundo. Este é o nosso verdadeiro templo. E, neste momento, trabalhemos a fé que se expressa na solidariedade cristã.

 

+ Jorge Ortiga, A. P.

Braga, 27 de Outubro de 2012.