Arquidiocese de Braga -

11 novembro 2012

UMA VIDA COM VALOR

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Homilia nas visitas pastorais às comunidades de Palmeira, Cabeçudos e Esmeriz, arciprestado de V. N. de Famalicão.

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Nunca esquecendo que o Programa Pastoral nos conduz à obrigatoriedade de Professar a Fé, no conhecimento dos seus conteúdos e no anúncio das suas propostas, a liturgia de hoje exige que tornemos a fé visível pela caridade. O evangelho refere o exemplo da pobre viúva que ofereceu “tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver” deitando mais do que todos os outros que apenas partilharam “ o que lhes sobrava”. Na primeira leitura encontramos a viúva de Sarepta que obedece a Elias a quem preparou o punhado de farinha e o pouco azeite na certeza de que não se “esgotará a panela da farinha nem se esvaziará a almotolia do azeite”.

Estes testemunhos são-nos apresentados no dia em que iniciamos a Semana dos Seminários, como oportunidade para que todos aprofundem o mistério do sacerdote, assim como o modo como realizar o seu ministério. O ministério que se vê e que, naturalmente deve ser aprofundado no modo de o exercer, compreende-se a partir do maravilhoso mistério que o envolve.

São muitas as perspectivas sobre as quais poderemos olhar para o sacerdote. Este ano vamos reconhecer o ministério do padre, no facto de ser irmão na fé, homem de fé profunda e interiorizada, para exercer o seu ministério como “servidor da fé”.

As comunidades devem olhar para os Seminários como verdadeiras arenas, onde se experimenta o dom da fé para entregar a vida, para que a mesma fé se consolide. Aí se preparam para ser sacerdotes, irmãos na fé e servidores da fé dos irmãos. Para que os Seminaristas se apercebam da maravilha do chamamento e não temam nem hesitem colocar a vida ao serviço da fé, as comunidades devem corresponsabilizar-se tornando-se espaço de chamamento, solidarizando-se com a partilha generosa e comprometendo-se com a oração quotidiana. São três atitudes que nunca podem ser esquecidas.

Como crentes, sabemos que a vida tem valor verdadeiro no encontro com a fé. O homem contemporâneo por si só não conseguirá resistir à voragem globalizada da economia do ter. A fé apela a uma economia do ser nos valores que permanecem, tornando o mundo uma casa onde todos podem habitar condignamente. A vida encontra o seu valor na comunidade, que coloca a pessoa no centro das práticas quotidianas, assim como das reflexões que se vão formulando. Sabemos que o ser humano não vive em si e para si mesmo, no seu condomínio egoisticamente construído e fechado. O desejo de infinito acompanha-o e a vontade de amar e ser amado, de conhecer e ser conhecido, de perdoar e ser perdoado, coloca-o sempre perante o outro e mais profundamente diante d’Aquele que o faz ser pessoa na sua singularidade irrepetível, ou seja, Deus.

Sabemos e cremos que a vida tem este significado e valor. Mas reconhecemos que existem outras interpretações da vida. A história é a coexistência de crentes com não crentes, ou numa linguagem mais explícita, convivemos com a necessidade de reconhecer a “incredulidade que habita o crente e a credulidade presente no não-crente” (J.B. Metz). Necessitamos, por isso, de abrir um espaço para a compreensibilidade de mundivisões, aparentemente distantes, que temos necessidade de encontrar e de fazer com que se encontrem. Há sempre uma pluralidade interpretativa da vida e uma grande profundidade de saber acumulado em experiências vividas, mas de parâmetros que parecem contraditórios e que necessitam do diálogo para nos enriquecermos com as diferenças.

Esta semana, a Igreja em Braga viverá uma experiência inédita e desafiante: o Átrio dos Gentios! Este evento vai congregar pensamentos diferentes perante a realidade do valor da vida. Sabemos, crentes ou não crentes, artistas ou cientistas, teólogos ou filósofos, procuradores dum sentido e significado durante a longa ou curta existência. Saber conviver com o diferente e caminhar numa aposta comum de dar a toda e qualquer pessoa a importância que ela tem, é uma exigência da atualidade à qual não podemos fugir. Os confrontos não conduzem a resultados com um sentido profundo de amor ao bem comum. Quando a crise se agudiza, torna-se urgente fugir da dimensão meramente económica e ir ao fundo das questões. No interior encontramos uma luz, talvez ténue, que apontará caminhos dum novo humanismo que reconhece a prioridade dos valores e não deixa do os propor.

Deste lugar, gostaria de convidar e marcar encontro com todos quantos se preocupam com as questões humanas. Não tenho direito nem autoridade para motivar a presença. Só me considero um apaixonado pela vida e gostaria que muitos outros aceitassem esta experiência que a Arquidiocese lhes proporciona. Não se exige que percam a identidade cultural, nem se pretende cativar seja quem for!

Num átrio há lugar para todos. Sem o pretender, talvez consigamos que os decisores e os fazedores de opinião verifiquem que só a unidade, que nunca supõe a uniformidade, permite compreender os dinamismos duma sociedade melhor!

 

+ Jorge Ortiga, A. P.

10 e 11 de Novembro de 2012.