Arquidiocese de Braga -

17 novembro 2012

O AMANHÃ DO ÁTRIO DOS GENTIOS

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Discurso no almoço oficial do Átrio dos Gentios, no Paço Episcopal.

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O amanhã do Átrio dos Gentios

 

Em ambiente de Átrio dos Gentios, agradeço a oportunidade e prazer que me dão em vos receber neste “Átrio” do Paço Arquiepiscopal. Nesta casa, recordo a ação da Arquidiocese, ao longo da sua quase bimilenária história. Hoje temos uma responsabilidade de preservar a memória, situando-nos nos desígnios da modernidade. Ninguém nos tirou o título de “Senhores de Braga”, fomos nós que nos libertamos dessa responsabilidade, sem esquecer as marcas que os Arcebispos deixaram na cidade. Não queremos abandonar o título de Primaz das Espanhas: não pelos privilégios que possa trazer-nos, mas pela interpelação de colocarmos a primazia em Cristo e, por causa d’Ele e com Ele, no serviço ao povo que muito amamos, querendo ser, em linguagem conciliar, construtores duma Igreja, escrava da humanidade.

O Átrio dos Gentios interpretei-o, desde o início, não como um evento, mas como uma metáfora a deixar rastos no nosso quotidiano. Devemos privilegiar a fidelidade à mensagem que sabemos ser sempre a Boa Nova para todos. Mas peregrinamos, com verdadeiro compromisso, em atitude de unidade com todos, pessoas e pensamentos, culturas e religiões, que nunca significará vontade de uniformidade. O mundo é belo na diversidade desde que as cores sejam capazes de, pela habilidade e engenho de todos os intérpretes, se harmonizarem e projetarem na única atitude de servir.

O Átrio é esta metáfora a celebrar na vida. A Igreja Católica quis, com esta iniciativa e tantas outras, apresentar-se como instância aberta a intuir e descobrir caminhos de felicidade, através dum diálogo convivial, o único capaz de apontar pistas de sucesso para o bem da humanidade. Sabemo-nos numa sociedade multicultural e pluri-religiosa. O modelo da cristandade já se encontra nos registos da História. Queremos tirar consequências para o agir em prol da pessoa humana vista na sua integridade e globalidade: vivemos para todas as pessoas e para toda a pessoa. Não nos fechamos nos mundos dos nossos templos, mas percorremos os caminhos de todos os homens. Nesta peregrinação existencial queremos prestar atenção à pessoa toda, ou seja, na sua dimensão humana e espiritual. Sentimo-nos parceiros com uma identidade própria e agimos em respeito pelo princípio da subsidiariedade, que nos confia alguns encargos, sabendo que muitos outros devem interpretar o encargo que lhes compete.

Se agimos em favor da pessoa humana, sabemos que a melhor atividade está no pensar. A mudança epocal que nos tocou viver, responsabiliza-nos pela difícil tarefa de pensar juntos um modelo de sociedade. É tarefa de todos e de todos os dias.

Querendo agradecer a Sua Eminência, o Senhor Cardeal Gianfranco Ravasi a realização deste Átrio dos Gentios em Guimarães, Capital Europeia da Cultura, e Braga, Capital Europeia da Juventude, com este almoço em sua homenagem e gratidão, na presença dos representantes legitimamente eleitos pelo povo e dos Reitores das Universidades sediadas na nossa Arquidiocese, quero fazer votos para que aceitemos o desafio da metáfora do Átrio dos Gentios.

Os Judeus eram exclusivistas e fechados no seu judaísmo. Mesmo assim, abriam-se ao diálogo dos gentios, daqueles que não viam a vida como eles, numa interpretação mais popular às gentes, ao povo, para que o antagonismo se atenuasse no diálogo e o confronto na convergência. Talvez outrora as preocupações fossem religiosas. Hoje teremos que alargar a tenda da nossa reflexão e ação para que a vida de todos tenham o valor que a identifica.

Obrigado pela presença. Bom convívio num Átrio que acolhe na amizade e unidade!

 

† Jorge Ortiga, A.P.

Paço Arquiepiscopal, 17 de Novembro de 2012