Arquidiocese de Braga -
5 junho 2013
PEDOFILIA vs COADOÇÃO
Artigo de opinião de Francisco Ribeiro no Suplemento Igreja Viva.
Pedofilia vs Coadoção
Uma pergunta ao Presidente da República e um pedido à deputada Isabel Moreira
Como católico de Guimarães, não consegui ficar indiferente à explosão social da notícia do Sr. Arcebispo nos media, por causa do tema da coadoção, que abordou em mais uma brilhante homilia: breve, teológica, fundamentada na palavra de Deus, a tocar nas feridas da sociedade e com uma intercessão belíssima à Senhora do Sameiro por todas as nossas mães. Enquanto que o episcopado português se entretém a preparar as batinas para a tomada de posse de D. Manuel Clemente em Lisboa, a 7 de Julho, o Sr. Arcebispo mostrou, mais uma vez, a sua categoria e assertividade pastoral neste grande acto de coragem!
Obviamente que muitos cidadãos (ateus e agnósticos), perante esta tomada de posição da Igreja contra a adopção de crianças por parte de casais homossexuais, atiraram-lhe de imediato a pedra da pedofilia. A esses, gostaria de recuperar uma frase do poeta latino, Cícero: “Todos os homens podem cair num erro, mas só os idiotas perseveram nele.”
De facto, a Igreja, embora tenha uma origem divina (uma vez fundada pelo próprio Jesus), ela é constituída por homens, que em virtude da sua natureza e liberdade, são capazes de cometer os piores crimes. Porém, há uma atitude do Papa Bento XVI que marcará certamente a história da Igreja Católica: o condenar e ajudar as autoridades civis na investigação de clérigos que cometeram o crime da pedofilia. Com isto, o Papa exibiu ao mundo uma Igreja que não quer ser idiota, por preservar no mesmo erro, mas que se quer levantar e continuar a caminhar rumo à perfeição da Igreja Celeste (LG 48-51). Qual a consequência deste gesto?
Numa Igreja que não teve medo de enfrentar a pedofilia, começando por fazer uma “limpeza interior”, ao contrário de tantas outras instituições civis noticiadas pela comunicação social, é a prova da coerência na luta contra os que atentam contra os frágeis, nomeadamente as crianças, mesmo que esses sejam clérigos ou ligados a instituições católicas. Aliás, por atacar esta sua fraqueza, paradoxalmente, isso tornou a Igreja ainda mais forte, fazendo jus Às palavras de S. Paulo: “porque quando sou fraco, então é que sou forte” (2Cor 12,10). Como tal, diante desta honestidade, frontalidade e coerência da Igreja, advém-lhe assim toda a moral e legitimidade para denunciar (agora no exterior) outros atentados humanos, como a mais recente lei da coadoção.
Os argumentos prós e contras desta lei são inúmeros, como o demonstrou o programa da Fátima Campos Ferreira. Mas neste momento, gostaria apenas de deixar uma pergunta ao Sr. Presidente da República e um pedido à Sra. Deputada Isabel Moreira:
1. Sr. Presidente da República, visto que gosta de exibir o título de católico, pergunto se irá novamente aprovar uma lei que atenta contra as crianças e a família, primordial instituição e célula da sociedade, tal como defende a Igreja Católica, sob o pretexto de não perdermos tempo com coisas secundárias, tal como se justificou quando aprovou a lei do casamento entre seres do mesmo género? Já que ignorou as 92 mil assinaturas a pedir um referendo ao casamento homossexual, terá a coragem de, em nome da defesa das crianças, possibilitar um referendo (uma das vantagens da democracia) sobre este assunto tão delicado, de modo a dar voz ao povo português, que nem sempre é bem representado na sua vontade pelos deputados da Assembleia da República?
2. Sra. Deputada Isabel Moreira, dado que “lidera” o grupo pró-coadoção, porque afirma que com esta lei só pretende defender o interesse das crianças institucionalizadas (salvar crianças), quando ainda há bem pouco tempo defendia também a lei do aborto (matar crianças), facto que ajudou o nosso país a ocupar actualmente o último lugar da taxa de natalidade em todo o mundo? Já reparou que defende apenas os direitos dos adoptares homossexuais e das mães, e as crianças não têm direitos? Dado que adora argumentar-se com as missivas do Tribunal Europeu, eu recordo-lhe apenas o número 4 da Declaração Universal dos Direitos das Crianças, aprovada pela Assembleia Geral da ONU em 1959: todas as crianças têm direito à alimentação e assistência médica antes e depois do nascimento. Posto isto, a única coisa que lhe peço é menos aproveitamento político, mais coerência argumentativa e um ultra respeito pelo povo português.
Por fim, obrigado mais uma vez Sr. Arcebispo pela sua frontalidade! A Igreja está num bom caminho!
Francisco Ribeiro, arciprestado de Guimarães/Vizela
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