Arquidiocese de Braga -

9 junho 2013

ACORDAR PARA A CAUSA DA FÉ!

Default Image
Fotografia

Homilia na peregrinação arciprestal à Senhora da Fé, em Vieira do Minho.

\n

Acordar para a causa da fé!

Peregrinação Arciprestal ao Santuário da Senhora da Fé

Nesta peregrinação arciprestal de Vieira do Minho à Senhora da Fé, não podia deixar de expressar a minha alegria por estar aqui presente, graças à alteração do dia da peregrinação, que em anos anteriores coincidia sempre com a peregrinação arquidiocesana à Senhora do Sameiro, e por este Ano celebrarmos precisamente o Ano da Fé, promulgado pelo Papa Bento XVI, como forma de redescobrir o tesouro do Vaticano II. Espero que continuemos a peregrinar neste Domingo, para que se possa participar na peregrinação Arquidiocesana ao Sameiro.

Olhando para este cenário mariano, quantas expressões de amor filial à Mãe Imaculada por aqui passaram! Quantos problemas e dramas aqui foram colocados no coração Imaculado de Maria, quantas conversões de vida aqui se delinearam, quantos gestos de gratidão, material na generosidade e espiritual na oração, aqui acontecerem. Tudo – o que é possível ver e que grande legado os nossos antepassados nos deixaram - é aquilo que só os corações compreendem, como encontro de Fé com Maria a suscitar mais amor a Cristo e à Igreja. Sei que este Santuário continuará a ser o local que une os cristãos do Arciprestado no seu amor a Maria e, por ela, à Igreja.

Situados neste alto, vislumbramos alguns contornos da nossa Vila e sociedade e eu convido-vos a alargar os vossos horizontes sobre as vossas paróquias ou cidades. Com Maria queremos ver o quotidiano dos nossos irmãos numa dimensão de vida humana onde o material escasseia a velocidade galopante e geradora de medo e pânico quanto ao futuro mas focamo-nos na vertente da vida religiosa. Rezamos pelos vieirenses e manifestamos preocupações por tantas situações mas queremos, sobretudo, apostar na redescoberta da nossa identidade cristã, neste Ano da Fé. Se a todos os níveis detetamos mudanças, também, como Igreja não podemos ignorar o crescimento do secularismo, do agnosticismo, indiferentismo e ateísmo. Se muitos dos nossos cristãos perdem o seu fervor e sentido de coerência reconhecemos uma mentalidade que desconsidera o religioso e sabemos da existência de grupos militantes e operativos, tantas vezes agressivos, que tudo fazem para impedir uma vida cristã ainda que publicamente manifestem o contrário.

Nunca nos pertence o direito de condenar, julgar ou marginalizar ninguém. Só que as adversidades devem motivar e provocar comportamentos positivos que testemunhem a alegria de ser cristãos e ser Igreja.

Daí que este momento e hora – no Plano Pastoral de cinco anos sobre a Fé - devam tornar-se oportunidade para descobrir a beleza da fé, a novidade de toda uma doutrina – secular mas sempre cada vez mais atual – e o sentido da verdade que professamos com o testemunho e com a palavra.

Para isto, teremos de reconhecer a necessidade de chegar a uma fé autêntica, purificada de pormenores espúrios que distraem do essencial, liberta de conhecimentos vagos e misturados com crenças que pouco divergem de formas marcadas pela ignorância religiosa e aproveitadas por pessoas que se servem de debilidades psíquicas. Purificar a fé e não se deixar envolver em sinais nada próprios duma sociedade dita evoluída. Empenhar-se, com alegria e orgulho, na compreensão e ter a capacidade de deixar outras coisas, encontrando e dedicando tempo para pensar e refletir com profundidade os conteúdos da nossa fé.

“Ter fé não é um facto que interessa somente à nossa inteligência, à área do saber intelectual, mas é uma mudança que envolve a vida: sentimentos, coração, inteligência, vontade, corporeidade, emoções, relações humanas”. A porta é um ícone sugestiva, tirado dos Actos dos Apóstolos quando Paulo e Barnabé contam à comunidade de Antioquia o modo como Deus tinha aberto a “porta da Fé” aos povos pagãos. Trata-se de entrar num espaço vital, decisivo, no circuito íntimo da vida divina, na dinâmica da vida Trinitária feita de doação e dom recíproco.

Mas também, entrar nesta Porta permite a experiência de Ser família dos Filhos de Deus numa passagem do eu ao “nós”. Se é imperioso entrar na Trindade, é urgentíssimo mergulhar na verdadeira experiência da comunidade. Ninguém é crente sozinho. O nosso ser cristão passa por redescobrir o rosto da Igreja dando-lhe beleza e coerência a fim de se tornar verdadeiro Sacramento de Cristo.

Importa, ainda, dar um passo em frente. Entrar na porta da Igreja exige a serenidade de sair para o mundo, como adverte o cartaz do nosso Ano Pastoral. Não sair para deixar de ser Igreja, esquecendo-se por vergonha, complexo, negligência, mas para ser presença da Igreja no mundo. Esta responsabilidade deve tornar-se inquestionável. Há zonas da sociedade, espaços ou ambientes, onde cresce um paganismo que não queremos descortinar, por culpa nossa. Parece-nos tudo normal. Será verdade?

Para terminar, o Papa Bento XVI, numa das suas catequeses de quarta-feira, sobre o Ano da Fé, reconhecia que tinha proclamado o Ano da Fé para que “a Igreja renove o entusiasmo de acreditar em Jesus Cristo, único Salvador do mundo, reavivar a alegria de caminhar na estrada que ele nos indicou e testemunhar dum modo concreto a força transformante da fé.”

Diante de Nª Srª da Fé, e colocando no regaço da Senhora todas as paróquias e cristãos – sacerdotes e leigos e, porque não afirmar, dum modo muito particular os mais responsáveis, por vocação ou missão, gostaria de formular três grandes perguntas.

- Por onde anda o entusiasmo de acreditar em Cristo, como único Salvador? Estamos interiormente cativados e mostramos vitalidade cristã na vida pessoal ou pastoral?

- Quais são as estradas por onde caminhamos? Andamos pelos caminhos das tradições e costumes? Encontramos um sentido que nos acompanha permanentemente ou tergiversamos entre cedências doutrinais que, em alguns momentos, camuflamos com algumas cerimónias?

- Vê-se a nossa força transformante no meio da sociedade ou somos peças anónimas que se deixam conduzir por comportamentos titubeantes que apenas geram confusão?

Com Maria, a mulher diferente, sejamos verdadeiramente humanos e caminhemos na fé, tornando-a operosa no meio de tantas carências e necessidades e criando em nós e nos outros, um sentido de pertença à mesma Igreja +ara que sejamos no mundo o sinal de uma esperança forte que nunca desanima.

† Jorge Ortiga, A.P.

Santuário da Senhora da Fé (Vieira do Minho), 9 de Junho de 2013.