Arquidiocese de Braga -
13 junho 2013
NÃO SE SECULARIZEM AS FESTAS DOS SANTOS
Artigo de D. Manuel Linda no jornal da Agencia Ecclesia.
Não se secularizem as festas dos santos
Por esta altura, um pouco por todo o país, surgem, com toda a pujança, as festas patronais. São manifestações cheias de valores: dos artísticos aos conviviais, dos económicos aos espirituais. Mas nem tudo é ouro de lei.
Há tempos, a Ana Luísa, uma adolescente contestatária, mas arguta e empenhada na vida da Paróquia, disparava-me: “Que Igreja é esta que faz festa pelo assassinato dos seus mártires? Não é uma Igreja louca e de loucos?”.
Será, se não compreendermos o sentido da festa cristã. Para muitos, festa significa tão somente exterioridade, folguedo, diversão, quando não leviandade, excitação e ultrapassar o risco da moralidade. É um não pôr limites aos limites habituais. Neste sentido, sim, seria loucura. Loucura pecaminosa! Seria sacrílego que a Afurada celebrasse o martírio de São Pedro, que Barcelos fizesse festa por causa da Cruz e que em Viana se exaltasse a… Agonia. É verdade: bombos, foguetes, farturas, «majorettes», música «pimba» e brejeira para comemorar… a Agonia!
Mas a festa cristã é outra coisa. Etimologicamente, a palavra latina que lhe deu origem significa ritual, reactualização de um acontecimento passado e sua elevação à categoria de simbólico. Como tal, de exemplar. Ou de transformação do tempo prosaico em tempo salvífico, poético, cheio de sentido existencial. Por isso, cristãmente, a festa é a experiência dos acontecimentos nos quais Deus realiza e manifesta a salvação.
Se lhe retirarmos esta dimensão, ficamos com um monstro nos braços. O que está largamente a acontecer. Em grande parte porque autarquias e comissões auto-nomeadas, a quem só interessa o folguedo, operaram uma tal metamorfose que da festa cristã ficou apenas… o nome do santo. Na melhor das hipóteses! E são hoje as “festas do Concelho” ou a “Romaria de qualquer coisa”. Em nome do pluralismo e da tolerância para com os não crentes, caiu-se num tal laicismo cuja fundamental preocupação é evitar, ostensivamente, que nada de religioso apareça. Vejam-se, por exemplo, os cartazes com que se anunciam ou as iluminações nocturnas. Enfim, festa «religiosa» sem santo e, muito mais, sem santidade…
Mas este laicismo rançoso representa, objectivamente, uma grave lacuna de conhecimento das razões pelas quais a comunidade faz isto naquelas datas. Como tal, fica um acto privado de razões ou de fundamentos. E a falta de códigos de reconhecimento gera o vácuo, o sem-sentido e, mais tarde ou mais cedo, a repulsa.
Creio bem que para salvarmos as festas populares, só há uma via: salvarmo-nos deste laicismo provinciano, grosseiro, bacoco e parolo.
+ Manuel Linda
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