Arquidiocese de Braga -
3 janeiro 2014
BENS PATRIMONIAIS DA IGREJA - 10 ANOS

Artigo do Arq. António Gerardo.
Bens Patrimoniais da Igreja – Dez anos
O Património
O Património da Igreja Arquidiocesana de Braga tem o zelo particular, sensível e dedicado do seu padrinho IHAC – Instituto de História e Arte Cristãs. Padrinho, não porque tenha assistido ao nascimento do património mas, antes, porque o auxilia no acompanhamento, na orientação e proteção, promovendo-o. Quando falamos de património muito está subjacente e, consultado o dicionário, a palavra desdobra-se em “herança, bens, pecúlio e propriedade”. A palavra tem origem no latim – patrimonium e, resulta da formação das palavras patri (“pai”) e monium (“recebido”). Está, também, historicamente ligada à palavra “herança”. Alguns autores definem, ainda, como “herança, propriedade paternal”, de pater, “pai” e, outra designação é a de “bens que vêm do pai ou da mãe: um rico património”, o que ajuda a compreender o patri-mónio como o legado de uma geração ou de um grupo social para outro. Aparece, ainda, a definição de património como “o conjunto de bens e direitos pertencente a uma pessoa ou um conjunto de pessoas”
A Igreja é a mãe de todos nós que nos constituímos como membros do corpo de Cristo, formando uma só igreja. O Património são todos os bens em que a Igreja trabalhou ou herdou, investiu e fomentou com o fermento da fé, capaz de fecundar e gerar património. Desde já se fala do maior património da Igreja: o povo de Deus e a sua formação, como a maior das heranças religioso-teológico-morais, almejando a salvação dos homens.
Mas, Património é, também, a história construída ao longo de dois milénios, rica em vivências e dificuldades; são os escritos e a envangelização; as missões, em lutas para sobreviver e crescer, dedicando-se com a esperança de conquistar o mundo e o amor na construção da Igreja de Cristo. Património é tudo o que envolve bens materiais (móveis e imóveis) e, imateriais (tradições, romarias, festividades, história, arte, cultura em geral). Por último e sempre em aberto, Património é tudo o que adquiriu tal estatuto, mercê da obra em si, do registo ou valor cultural artístico e idoneidade alcançada ao longo dos anos, nomeadamente, a denominação de instrumentos ou canais transmissores de mensagens, de saberes, de culturas e caraterísticas de um tempo, de uma sociedade, de um pais ou de uma arte específica. Tal reconhecimento foi conferido e selado pelos anos, respeito dos povos, segundo outras culturas e sociedades que o confirmam como tal Património. Na Igreja, o património é a escrita de Deus pelos homens da fé e, ao mesmo tempo, o transmissor da evangelização.
O IHAC - Objetivos
Como dizíamos o Instituto de História e Arte Cristãs é o padrinho do património e, nessa medida, procura proteger, vigiar e promover todo o património. Os estatutos do IHAC traçam como seu “objetivo fundamental a preservação, conservação, restauro, estudo e promoção dos valores históricos, arqueológicos e artísticos, dando preferência aos que estão ligados ao Cristianismo, na área da Arquidiocese de Braga ou com ela relacionados”.
A Comissão para os Bens Patrimoniais
Para dar resposta aos sintetizados objetivos, o IHAC – Instituto de História e Arte Cristãs é composto de diversas Comissões que semana a semana se deram a conhecer, ao longo de doze artigos, publicados para trás, às sextas-feiras, na página do IHAC, criada para o efeito, onde também se exprimiu a Comissão Arquidiocesana para os Bens Patrimoniais, em aniversário.
Como referimos a Comissão para os Bens Patrimoniais está integrada no IHAC e, sendo uma das Comissões que o constitui, interagindo e criando sinergias com todas as outras, produzem trabalhos cooperados e enriquecidos pela abrangência das Comissões e Membros integrados. Trata-se de um trabalho de conjunto, a missão do IHAC, que desenvolve uma materialização especializada em cada área específica. Daí resulta a unidade e articulação entre as Comissões, para um trabalho que se deseja em espírito e ao serviço da igreja, orientado segundo diretrizes definidas pelo referido Instituto, embora cada Comissão desenvolva a sua aplicação prática com autonomia e independência.
O aniversário
A Comissão Arquidiocesana para os Bens Patrimoniais é uma das afilhadas do IHAC que fez dez anos no passado dia 8 de Fevereiro, resolvendo convidar as outras Comissões, para se juntarem à festa, cada uma com as suas características, oferecendo os seus contributos, dando-se a conhecer um pouco melhor entre si e à igreja arquidiocesana.
Assim, em 8 de Fevereiro de 2013, escrevemos um artigo no Diário do Minho, intitulado “Bens Patrimoniais - Dez anos”, com o propósito de assinalar a data e a efeméride dos dez anos, completos naquele dia, evocando a primeira reunião da Comissão Arquidiocesana para os Bens Patrimoniais, da Diocese de Braga, num sábado, no mesmo dia e mês de 2003. O encontro foi promovido pelo Senhor Arcebispo Primaz, Dom Jorge Ferreira da Costa Ortiga.
O referido artigo redundou na afirmação da data e no trabalho desenvolvido, assinalando a sua existência, pensada para cuidar do “imenso e generoso Património da Igreja”, zelando, protegendo, orientando em ordem à valorização, “procurando sempre aconselhar acerca da idoneidade das intervenções desejadas e necessárias, para defesa, conservação e restauro do existente”, regrar as intervenções com acrescentos ou ampliações, assim como, avaliar as novas edificações.
Sublinhamos, ainda, a importância da participação por parte das Paróquias, da intenção das desejadas intervenções e das vantagens de submeter à apreciação, bem como a autorização necessária do Senhor Arcebispo Primaz, garantindo a Comissão Arquidiocesana para os Bens Patrimoniais um serviço imparcial, com as linhas gerais de atuação remetidas para a brochura de 2005, na qual se baseia a análise e emissão de Pareceres, considerando as observações pertinentes, de modo a salvaguardar o necessário, propondo o (in)deferimento conclusivo e fundamentado. A formação de cada membro da Comissão é pautada pelo espírito de Igreja e missão, alicerçada na sinceridade, no compromisso e trabalho árduo, como escudo de defesa da herança cultural e patrimonial da Igreja.
Por último, é nesse artigo referido o muito que ainda há para fazer, informando-se da vontade e do programa do evento a estudar, na altura a ser gizado, com vista a assinalar a efeméride dos 10 anos da Comissão, em atividade e com frutos visíveis que se verificam com significativa expressão nas atitudes, na programação e preparação das intervenções cada vez mais amadurecidas.
O nascimento da ideia
Surgiu da vontade de aproveitar a data para dar a conhecer a existência deste serviço da Igreja para a Igreja; dar a conhecer o trabalho desenvolvido; recordar as preocupações mais prementes; sensibilizar para a necessidade de pensar o património; dar conta da vontade de encarar o futuro com projetos novos e dinâmicos, numa realidade onde há sempre algo para descobrir.
De início, pensávamos em assinalar a efeméride com um ciclo de conferências (de informação e formação), terminando com uma visita a algum do património intervencionado, programa de um dia, a acontecer a 18 de Outubro passado, dia dos Bens Culturais da Igreja.
Sendo a partilha uma forma de enriquecimento, surgiu, entretanto, a ideia de uma série de artigos a publicar no Diário do Minho, com os mesmos objetivos: Formar e informar. As primeiras datas apontavam a iniciação das publicações no princípio de Agosto, para culminar no dia dos Bens Culturais da Igreja. Contudo, esta data afigurou-se difícil na concretização e conciliação desse objetivo, com os compromissos pessoais de cada membro, durante o período de férias.
Mas, a ideia não deixou de vingar e amadurecer, ainda mais forte de conceitos e convicções, revestida de simbologia quanta baste, para dar força aos momentos mais importantes: o primeiro e o fim das publicações, encontrando o seu ponto alto nas comemorações dos dez anos da Comissão para os Bens Patrimoniais. Ficou assim: início a 18 de Outubro com o artigo do Senhor Arcebispo, assinalando a Comissão em dia dos Bens Culturais da Igreja, terminando com o artigo da referida Comissão em 5 de Dezembro, dia de S. Geraldo, padroeiro da Arquidiocese e cidade de Braga. Este foi o plano aprovado em reunião do IHAC, tendo sido, já durante as publicações, aumentado com mais dois artigos, sendo designados como “projetos de futuro”.
O programa do aniversário
Do programa constava que o responsável de cada Comissão escreveria um artigo, com ilustrações sujeitas ao espaço previsto, que se traduzia no momento para nos dar a conhecer e desmitificar o trabalho desenvolvido, assuntos de cada Comissão, relativos ao tipo de processos e aspetos gerais relacionadas com os mesmos. Quais as preocupações; os métodos de inventariação e musealização das peças; a organização, depósito ou arquivamento de documentos e posterior acesso à informação. Competências e áreas de intervenção de cada Comissão; objetivos a alcançar e a propor; atividades culturais programadas e desenvolvidas; balanços, inquietações, perspetivas e sinergias para o futuro.
Os artigos
O primeiro artigo iniciado pela mão do Senhor Arcebispo - “Bens Patrimoniais para a Evangelização”, afirma a primeira missão do Património, como linguagem silenciosa e doutrinal. No segundo e terceiro artigos intitulados “Pela arte, pela história, pelos homens e pela Igreja” e “Uma herança preciosa: os Museus Pio XII e Medina”, pelo cunho do Sr. Cónego José Paulo Abreu, dão testemunho da missão assumida pela Igreja e da sua consciência na receção e preservação do legado dos antepassados.
No quarto, o “O Centro Cultural Sénior”, redigido pela Sra. Doutora Irene Montenegro, revela-se como um dos últimos projetos promovidos pelo IHAC, precisamente, para valorizar e impulsionar um humano envelhecimento ativo, como forma de se tornar lugar de encontro e “participação continuada nos aspetos social, económico, cultural e espiritual”.
O “Gabinete de Conservação e Restauro” é o quinto artigo com redação pelo Sr. Padre Correia. Através dele conhecemos o seu funcionamento, ajudando-nos a compreender o serviço que a igreja diocesana disponibiliza sem “fins lucrativos, norteando-se pela preocupação exclusiva da preservação e requalificação do património Arquidiocesano”, desafiando-nos a refletir sobre intervenções em obras de arte e em legados da fé.
No sexto artigo, o Doutor Paulo Abreu esboça um rosto velado dos bastidores, de nome “Gabinete de Atividades Culturais: um serviço à memória”, cujo trabalho passa pela promoção de eventos, trazendo grandes momentos do passado, a celebrar na história atual, como “alimento à memória”.
Com “Um Arquivo Diocesano”, o sétimo artigo, do Sr. Padre Miguel Teixeira, tomamos conhecimento da preocupação da Igreja Universal em preservar a memória, a partir dos documentos, sublinhando a importância que “os arquivos têm na vida da Igreja, sua função e contributo para a pastoral”, além do registo da “vida temporal da Igreja”.
No oitavo, nono e décimos artigos, nós Comissão Arquidiocesana para os Bens Patrimoniais desdobramos e explicamos duas Secções distintas e articuladas, de modo a garantir apoio às intervenções nos diversos domínios. Respeitar a história e acrescentar história, sublinhando e salvaguardando quanto nos recorda São Tomás de Aquino dizendo “que a beleza é um nome próprio de Deus”. O primeiro artigo a sair desta secção (oitavo do conjunto), acontece precisamente no dia da Diocese, com o propósito de ligar e enfatizar e importância da data do início das publicações, em paralelo com o dia dos “Bens Culturais da Igreja”.
O décimo primeiro e décimo segundo artigos, surgem como projetos de futuro, que se desejam do presente, também apadrinhados pelo Instituto de História e Arte Cristãs. São, respetivamente, a publicação dos “Relatórios das visitas ad limina da Arquidiocese de Braga (1585-1900)”, da autoria do Sr. Doutor Franquelim Neiva Soares e a “Reedição do Liber Fidei” da autoria do Sr. Doutor José Marques. De facto, cada uma das duas obras, resultado do estudo de documentos riquíssimos, de suma importância para a Diocese, cuja publicação é uma das preocupações do IHAC, dado a grandeza, testemunho e contributo para a história da Igreja Arquidiocesana, só possível com o apoio do mecenato.
Ainda, na forja e sem artigo escrito, encontra-se em estudo a reedição e atualização, fac-similada e revista dos Fastos Episcopais, obra da maior importância para a vida e toda a narrativa da nossa Igreja Arquidiocesana.
Avaliação e agradecimentos
Consideramos que os objetivos propostos foram alcançados, ainda que limitados pela dimensão do artigo, condicionado a uma página, até para não se tornar maçudo. Esperamos que o leitor concorde connosco, na certeza, porém, de que há sempre muito a acrescentar e mais a desenvolver nestas áreas tão sensíveis a vários níveis. Sabemos que “há mais alegria em dar do que em receber” mas, é esse um dos lemas da Igreja à luz das mensagens do Evangelho, que no dia-a-dia procuramos por em prática com o serviço prestado.
Por fim, porque coordenamos o projeto, os artigos e publicações, porque findamos um ano e iniciamos outro, resta-nos agradecer a quantos nos ajudaram a pô-lo em prática e a celebrar connosco a década de trabalho desenvolvido. Ao Senhor Arcebispo que apadrinhou a ideia e iniciou o voo, mantido por cada um dos diretores das Comissões e Membros da família do IHAC. Ao Diário do Minho na pessoa do Sr. Diretor Damião Pereira, pela abertura e interesse na sua publicação.
E, porque ser grato é um dever de consciência e entendimento, particularmente em Igreja, pelo que subscrevemos, também, a gratidão para com os transmissores da herança recebida; gratidão a quem soube cuidar e doar património; gratidão a quem ajuda a proteger e promove-lo; gratidão a quem dá o seu tempo e saber em favor do Património da Igreja, de um Deus que não o esquecerá.
António Gerardo Monteiro Esteves
Diretor da Comissão Arquidiocesana para os Bens Patrimoniais
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