Arquidiocese de Braga -
9 abril 2014
OPINIÃO: RITO BRACARENSE EM S. BENTO DA PORTA ABERTA
O Santuário de São Bento da Porta Aberta que, em 2015, celebra 400 anos de existência, quis começar este grandioso Ano Jubilar já em 2014, assinalando a proclamação feita pelo papa Paulo VI, em 1964, de São Bento como Padroeiro da Europa. Assim, em 21 de
O Santuário de São Bento da Porta Aberta que, em 2015, celebra 400 anos de existência, quis começar este grandioso Ano Jubilar já em 2014, assinalando a proclamação feita pelo papa Paulo VI, em 1964, de São Bento como Padroeiro da Europa. Assim, em 21 de março, dia da morte do Santo nascido em Núrsia, ao lado de Cássia, em Itália, celebrou-se solene pontifical em Rito Bracarense. Presidiu o arcebispo D. Jorge Ortiga, tendo concelebrado o bispo de Bragança, D. José Cordeiro, reconhecido liturgista, o auxiliar de Braga, D. António Moiteiro, e mais 15 sacerdotes.
Nesta celebração solene, a eucaristia foi segundo o Rito Bracarense, atualizado de acordo com o protocolo 1857/71 de 18 de novembro de 1971, da Sagrada Congregação para o Culto Divino. O cónego Joaquim Félix, com uma importante tese de doutoramento sobre o Rito Bracarense, verteu para vernáculo os textos e a explicitação das várias indicações gestuais que devem acompanhar o decorrer dos vários momentos da celebração. Todos pudemos seguir a celebração e nela participar, graças ao livro de apoio fornecido, com 55 páginas.
Embora com alguma hesitação perante tanta nova indicação gestual a que não estamos acostumados, e as peculiaridades da própria celebração, dado que só nos minutos prévios ao início da mesma tomamos contacto com o texto, a celebração impactou todos os celebrantes e povo reunido. A riqueza gestual é incomparável, além de várias peculiaridades, mormente no referente ao que poderíamos denominar de Ritos iniciais e penitenciais. E também os ritos finais. Não se pode avançar para a liturgia da palavra com tão diminuta preparação, como acontece com a celebração em rito romano. E depois é toda a catequese que, através dos gestos, se inculca nos fiéis.
Que bom será que se passe a celebrar em Rito Bracarense, pelo menos na Sé Catedral, todos os domingos, e noutros santuários e locais da diocese, em dias próprios, a fim de não se deixar perder algo de muito nosso, com mais de 7 séculos certos de existência e vigência, se atendermos à defesa que dele já fez o Beato Frei Bartolomeu dos Mártires, no Concílio de Trento.
Hoje, de tão acostumados, nem nos damos conta da evolução da liturgia nos últimos 45 anos. O Rito Bracarense precisa de incorporar os elementos mais dinâmicos da reforma litúrgica entretanto levada a cabo no mundo inteiro, quer na liturgia universal, quer nas particulares mais dinâmicas, como a ambrosiana.
Termos um rito próprio pode dizer muito da nossa identidade como povo cristão e da nossa maneira muito própria de ser e de estar. Nenhum futuro verdadeiramente sustentável se constrói sem conhecimento profundo do passado e sem aproveitar o património cultural e espiritual que ele nos oferece.
Vi que o cónego Joaquim Félix ficou agradavelmente surpreendido com o que pôde verificar ao traduzir para vernáculo os textos para a missa de São Bento. D. José Cordeiro, também eminente liturgista, confidenciou-me a grata surpresa que para ele foi ter participado na concelebração.
Com os dados dos nossos dias e com a melhor compreensão que temos da riqueza de uma celebração que seja também a maneira ordinária de evangelizar um povo muito concreto e com memória ancestral, certamente que valerá a pena avançar mais e facultar que todos os sacerdotes possam celebrar no seu rito matricial. Esperemos que em 2015 a Semana Santa já possa ser celebrada no nosso rito. E não apenas na sé Catedral, mas noutras igrejas da cidade e da arquidiocese.
Agradeci a Deus e a São Bento, em cuja igreja paroquial de Fiães, meu tio cónego António Luís Vaz foi batizado, a graça de ele ter lutado durante mais de 40 anos para que esta riqueza patrimonial, cultural e espiritual, que é o Rito Bracarense, não fosse esquecida e perdida. Valeu bem todo o esforço e denodo que colocou nesta causa. Sobre ele tanto e bem escreveu que, quem quiser compreender em profundidade toda a beleza e riqueza do Rito Bracarense, terá de socorrer-se dos vários livros que sobre o assunto publicou. Seria um óptimo fruto deste ano pastoral dedicado especialmente à fé celebrada.
Na liturgia celeste onde se encontra – assim o creio firmemente – juntamente com os dois irmãos sacerdotes, Carlos e Júlio, e meu pai João, é em Deus ainda mais feliz por poder acompanhar-nos nesta caminhada que há-de ter certamente outros passos de implementação do Rito Bracarense.
Para mim, o ponto alto deste congresso tão rico foi a celebração do dia 21, em Rito Bracarense.
Carlos Nuno Vaz, in DM 9 de Abril de 2014
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