Arquidiocese de Braga -

15 abril 2014

PAIXÃO QUE SE RENOVA: 95 ANOS DO DIÁRIO DO MINHO

Fotografia

A vida é marcada pela lei inexorável do suceder-se dos anos. Estes passam na monotonia dos dias. Daí que o envelhecimento pode acentuar-se no rosto das pessoas e nos rostos das instituições nascidas a pensar em determinados sonhos e projetos. Ao celebrar

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A vida é marcada pela lei inexorável do suceder-se dos anos. Estes passam na monotonia dos dias. Daí que o envelhecimento pode acentuar-se no rosto das pessoas e nos rostos das instituições nascidas a pensar em determinados sonhos e projetos.

Ao celebrar 95 anos de vida não podemos permitir que o Diário do Minho envelheça. O aniversário é momento para reafirmar a responsabilidade que o motivou e a confiança nas pessoas que foram gastando a vida, e continuam a fazê-lo, pela mesma.

Sendo um Jornal de “inspiração cristã” gostaria que a mesma inspiração não se desvirtuasse na sociedade que o papa Francisco caracterizou como marcada pela “globalização da indiferença”. Ele vive para um projeto e este está sempre inacabado e exige uma adaptação às exigências do tempo.

Para evitar este risco, atrevo-me a deixar umas palavras do mesmo Papa Francisco, que ajudam a recentralizar para evitar o tal possível envelhecimento ou o mero enquadramento num estatuto que pauta a vida de tantos outros jornais. A diferença deve, porém, notar-se e evidenciar-se.

“Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem que não nos incumbe. A cultura do bem-estar anestesia-nos, a ponto de perdermos a serenidade se o mercado opera algo que ainda não comprámos, enquanto todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espetáculo que não nos incomoda de forma alguma” (E.G. 54)

Creio ser este o mundo em que vivemos. Não nos damos conta, vivemos anestesiados e assistimos passivamente ao espetáculo onde as vidas humanas são ceifadas na dignidade e gritamos solicitando que os dramas e os clamores alheios sejam ouvidos por outros a quem compete encontrar respostas. Cada um tem a sua história com os seus acontecimentos e cai-se na curiosidade de os conhecer para entreter e passar tempo em conversas desprovidas de compromisso.

Sei que um jornal se pauta pelo critério de informar a verdade dos factos. Deve, também ter sem desvirtuar a verdade, outra atitude perante a vida de todos e particularmente dos mais frágeis. Urge criar uma mentalidade de solidariedade humana e inculcar valores capazes de motivarem para gestos novos, capazes de gerar uma nova cultura e civilização. A “inspiração” cristã está aqui e importa desenvolvê-la.

Trata-se duma tarefa de quem escreve e de quem lê. As notícias podem criar uma interatividade que garante que o Diário do Minho estará sempre no “hoje” sem envelhecer. O que interessa é um verdadeiro humanismo, na dimensão do bem-comum, que passa por aqui e, se já é tarefa de muitos, deve ser de muitos mais.

Noventa e cinco anos de vida orgulham-nos e não podemos deixar de testemunhar gratidão a quem labutou ou labuta nesta causa. Se nos podemos orgulhar – e eu agradecer - sejamos capazes de nos darmos conta do que torna a vida inumana e provoquemos a sociedade para um compromisso coletivo de modernização mas na fidelidade aos valores que não perecem.

† D. Jorge Ortiga (in DM, 15 de Abril de 2014)