Arquidiocese de Braga -

3 maio 2014

BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES, MODELO PARA RENOVAÇÃO DA IGREJA

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Fotografia

Homilia na eucaristia evocativa dos 500 anos do nascimento do Beato Frei Bartolomeu dos Mártires.

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Bartolomeu dos Mártires modelo para a renovação da Igreja

Há dias John Kerry, Secretário de Estado dos Estados Unidos, no encontro entre os representantes dos Estados Unidos, da União Europeia e Rússia, por causa dos conflitos na Ucrânia, augurava que “os resultados não fossem apenas em palavras de papel”. Esta semana, a Conferência Episcopal Portuguesa aprovou uma Nota Pastoral sobre o Beato Bartolomeu dos Mártires. Em dia da celebração dos seus 500 anos, uma vez que nasceu em 3 de Maio de 1514, gostaria que a Arquidiocese acolhesse dois parágrafos desta Nota Pastoral. Numa mudança epocal necessitamos de reencontrar o encanto de ser Igreja e de acreditar que a sua credibilidade passa pela renovação que ela será capaz de imprimir à sua vida.

Dizem os Bispos Portugueses. “A audácia, o ardor apostólico, o amor ao Evangelho, a generosidade, a simplicidade e a santidade de vida fizeram de Bartolomeu dos Mártires, não apenas um dos protagonistas da luminosa participação portuguesa no Concílio de Trento, mas também um Pastor exemplar, verdadeiramente inesquecível pela solicitude incansável, pela criatividade apostólica e pelo testemunho de vida.”

Numa Arquidiocese situada num tempo do Concílio Vat. II, onde a Igreja se auto-apresenta como comunidade do Povo de Deus com uma consciência missionária que se renova quotidianamente, peço ao Espírito Santo que este quinto centenário nos coloque nas pegadas deste Pastor exemplar que nunca esqueceremos através dum assumir ou intensificar a qualidade de vida eclesial através de três sinais, visíveis em todos os sacerdotes e duma fileira de leigos e religiosas a crescer diariamente.

A solicitude incansável refere-se a um confronto que se torna fonte de novas atitudes em diversas áreas e sectores. O Divino Pastor trabalhava “dia e noite” numa atenção terna e meiga manifestadora dum caminho e solicitude amorosa por todos sem esquecer ninguém. Não contava as horas nem regateava as respostas. O cansaço guardava-o para se retirar a sós com o Pai criando no meio de tantas solicitações de muitos que o procuravam, espaços de silêncio para sintonizar com um projeto que não era Seu. Veio para fazer a vontade do Pai e nunca encontrou desculpas para fugir à responsabilidade.

Como pastores, teremos de rever as razões das nossas motivações pastorais. Somos funcionários dum tempo certo ou dos mínimos ou ousamos, sacerdotes e leigos e religiosas, entrar nesta lógica duma solicitude permanente e constante? Não é com cálculos egoístas que a renovação da Igreja acontece e progride.

A criatividade apostólica pode recordar-nos os sacrifícios e o sofrimento das adversidades experimentadas e planeadas por quem queria percorrer os caminhos certos e seguros em vez duma abertura, serena e colegial, aos novos desafios. A pastoral necessita de criatividade e os intérpretes terão de ser a comunidade sacerdotal de todo o Povo de Deus. Nunca ousaremos discernir os caminhos oportunos se nos deixarmos invadir pelo comodismo ou pelo egoísmo. O Espírito vibra em acontecimentos e pensamentos novos onde se impõe chegar através duma “pastoral em conversão” e em saída descobrindo novos lugares e novas apostas. Não basta gloriar-se do passado e esperar que o futuro não nos incomode. Não é verdade. O presente é um vulcão de apelos a que deveremos responder na confiança no Espírito que nos indicará as prioridades e por onde deveremos andar. Teremos dúvidas que se desfazem num discernimento sinodal e numa atitude de obediência que não filtra o que convém. Não faltam resistências e a inércia ainda nos vai possuindo. Dou graças a Deus por tantos sinais positivos de renova e acredito que o Beato Bartolomeu acelerará o ritmo de renovação naquela insatisfação de quem se fixa no novo do Espírito.

Testemunho de vida é o argumento válido a usar. A nova evangelização situa-nos na modernidade e o Papa Paulo VI recordava que o mundo moderno aceita os mestres se eles testemunharem e mostrarem o valor daquilo que comunicam ou celebram com uma vida com uma marca de água que todos sabem decifrar. Sabemos que este testemunho passa por muita coisa mas só é apreciado quando se torna alegria que não resulta duma mera camaradagem ou duns serviços realizados com maior ou menor perfeição mas da presença de Cristo entre nós através dum amor verdadeiramente efetivo e reconciliador. Somos caminhantes em direção a Emaús e, muitas vezes, ficamos na referência às perdas, esquecendo que o fogo deve arder dentro de nós por causa desta presença que nos funde numa coisa só.

Perante este retrato do Bartolomeu dos Mártires volto à Nota Pastoral para que não fique no papel. “Que os 500 anos que decorrem sobre o seu nascimento sejam uma oportunidade para o conhecer e darmos a conhecer. Há pessoas que são de todos os tempos pelos valores e princípios que pautaram as suas vidas. São modelos de referência. O Beato Bartolomeu, vivendo em tempos de uma crise epocal, deve ser testemunha para acreditarmos que a reforma da Igreja não só é possível como necessária. Conhecendo-o e imitando-o, peçamos a Deus a graça da sua canonização e invoquemos a sua proteção para a Igreja.”

Conhecer e dar a conhecer para que Deus nos conceda a graça da canonização. Eis o propósito, mais do que finalidades duma celebração, que devemos assumir. Com ele nada ficará na mesma e quantos mais se deixarem tocar pelo seu exemplo mais a Arquidiocese saberá concretizar a renovação que todos desejam.

Braga, 3 de maio de 2014

† Jorge Ortiga, A.P.