Arquidiocese de Braga -

8 maio 2014

51ª SEMANA DAS VOCAÇÕES: FAMÍLIA E VOCAÇÃO

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Quando nos casámos, o Niall e eu tínhamos um grande sonho: pôr em prática as palavras de Jesus “Procurai primeiro o Reino de Deus, e tudo o mais vos será acrescentado.” (Mt 6, 30) Empenhados em viver este sonho, consagrámo-nos a Nossa Senhora, Aquela que

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Quando nos casámos, o Niall e eu tínhamos um grande sonho: pôr em prática as palavras de Jesus “Procurai primeiro o Reino de Deus, e tudo o mais vos será acrescentado.” (Mt 6, 30) Empenhados em viver este sonho, consagrámo-nos a Nossa Senhora, Aquela que se pôs à escuta da Palavra e a praticou na perfeição. E com Ela como Mãe e Rainha, iniciámos a nossa aventura. Hoje, dezassete anos e sete filhos mais tarde, verificamos com emoção e gratidão que Jesus não nos mentiu. Enfrentámos muitas tempestades na nossa barca, testemunhámos a doença e a morte de um filho. 

Mas dando a Deus o primeiro lugar na nossa vida, tudo nos foi acrescentado, e vivemos hoje uma felicidade que nunca julgáramos possível experimentar. Quando começámos a namorar, começámos também a ir juntos à missa. Casámos, os filhos foram nascendo, e nós apressávamo-nos a baptizá-los e a levá-los à missa todos os domingos, segundo a palavra de Jesus: “Deixai vir a Mim as criancinhas, não as impeçais” (Lc 18, 16). Às vezes, os mais novos estão tão irrequietos, que quase não conseguimos prestar atenção a Jesus. Mas não desistimos, pois Deus também não desiste de nós! E se estamos distraídos, Ele não está, derramando sobre a nossa família o seu amor. A missa é o centro da semana, onde tudo culmina e onde tudo começa.

Na nossa casa, temos um Canto de Oração, simples e belo, preparado com carinho e criatividade, onde todos os dias nos reunimos em família para rezar. De joelhos ou ao colo, grandes e pequenos, naquele momento todos nos sentimos irmãos em Jesus. Quando o António, de dois anos e meio, foi visitar a Sara recém-nascida, a nossa filha mais nova, olhou para ela muito aflito e perguntou-me: “Quando a Sara for para casa, como é que ela vai rezar? Ainda não sabe falar!” Demos uma gargalhada, e depois descansámos o António: a oração, tal como a língua materna, aprende-se ao colo!

A nossa oração familiar cresceu com a família e está longe de ser perfeita, mas não passamos dia algum sem a fazer. É

esta oração – e não o telejornal - que ocupa o “horário nobre” da nossa vida familiar, depois de jantar. Temos assim a certeza de dar a Deus o primeiro lugar, mesmo que por vezes, a agitação das crianças, as birras e o sono façam com que este momento pareça tudo menos oração! Rezamos o terço, louvamos, intercedemos pelo mundo inteiro, pedimos perdão. E também rimos, cantamos, dançamos e tocamos guitarra, pois junto de Deus é fácil estar alegre! 

Um dia, abrindo a Bíblia no Livro do Deuteronómio, encontrámos este mandamento de Deus a Israel: “Trarás no teu coração todas estas palavras que hoje te ordeno. Tu as repetirás muitas vezes a teus filhos e delas falarás quando estiveres sentado em casa ou andando pelos caminhos, quando te deitares ou te levantares.” (Deut 6, 5-8) A Bíblia é uma longa história das maravilhas do Senhor, contada ao redor da mesa familiar, de pais para filhos, geração em geração, até hoje. Decidimos então participar nesta grande aventura bíblica com a nossa família. Como? Meditando nas leituras da missa de cada dia; e contando as histórias da Bíblia, da Arca de Noé ao chamamento de Abraão, de Moisés a Elias, de Sara a Ester e, claro, todas as histórias de Jesus. É um momento central da nossa oração! Os três volumes do meu livro Os Mistérios da Fé (o terceiro ainda não está publicado) são o registo escrito da forma como meditamos e trabalhamos a Bíblia em família.

Depois, naturalmente, é preciso viver estas histórias. Confrontando a vida com a Palavra, procuramos testemunhar o amor de Jesus na escola, na paróquia, no trabalho, junto dos amigos e dos vizinhos. Os nossos filhos mais velhos, de quinze e treze anos, mostram-nos como podemos seguir Jesus enquanto dançamos, ou andamos de bicicleta, ou estudamos, ou estamos com os amigos. As dificuldades próprias da adolescência transformam-se em desafios de santidade quando Jesus é o nosso ideal! Seguindo assim o Caminho que Jesus abriu com o seu Sangue, vamos caminhando, em família, rumo a casa.

A Lúcia tinha quatro anos, o António três. Foi no verão passado. Brincavam os dois no jardim e eu estendia roupa. De repente, a Lúcia foi ter com o António e disse-lhe: “Sabes, António, um dia vamos brincar no céu com o Tomás e a Kitty, como brincamos agora aqui!” A Kitty era uma linda gatinha preta, que morreu atropelada. O Tomás era o nosso terceiro filho, irmão mais velho da Lúcia, e morreu de cancro com um ano e meio. Ela ainda não o conhece, mas está ansiosa pelo dia em que irá finalmente brincar com ele. Pois a Lúcia sabe que a nossa verdadeira Casa familiar não é em Mogofores, mas no céu.

Há cerca de um ano, com a orientação do nosso pároco, salesiano, decidimos responder ao apelo do Senhor e propor a nossa espiritualidade familiar a outras famílias, com muita humildade e verdade. Nasceram assim as Famílias de Caná, que já começam a dar frutos de oração e de testemunho de vida um pouco por todo o país. Em Novembro passado, criámos um blogue para partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica e a imensa felicidade que descobrimos em Deus. Aí divulgamos também os retiros para Famílias de Caná. Visitem-nos em http://umafamiliacatolica.blogs.sapo.pt/ !