Arquidiocese de Braga -

22 maio 2014

BISPOS PORTUGUESES TESTEMUNHAM PERSONALIDADE DE D. EURICO

Fotografia

Reunidos na Sé Catedral de Braga para a despedida a D. Eurico Dias Nogueira, os Bispos portugueses realçam a personalidade e o papel do Arcebispo Emérito de Braga, através de diversos testemunhos.

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«D. Eurico foi sempre um homem de muita personalidade, sempre capaz de dizer o que pensava, dentro do que era justo e verdadeiro. Ajudou-nos muito no tempo em que foi Bispo em Sá da Bandeira, naquele tempo, agora Lubango, tendo assistido à nossa independência. 

Naquela hora, era preciso quem nos animasse e ele soube estar ao nosso lado. A nossa primeira pastoral em Angola aconteceu na sede dele, no Lubango, até com alguma celeuma inicial de quem não estava habituado a ouvir as verdades. Foi um homem que nos soube sempre acompanhar, visitando todas as nossas dioceses quando foi para se despedir, num gesto lindíssimo, que apreciamos muito. Esteve na minha ordenação episcopal, visitou-nos várias vezes já quando estava como Arcebispo de Braga e ficou sempre muito ligado a nós. É um homem que ficou a marcar Angola».

D. Óscar Braga, Bispo Emérito de Benguela

«Conhecia já o D. Eurico Dias Nogueira como Bispo Emérito, mesmo sem conhecimento pessoal. 

Nas assembleias dos bispos, quando era presidente dos religiosos em Portugal, a presença dele era sempre muito serena, muito cordata, muito humana e a sua personalidade chamava sempre a atenção por esta proximidade, por ter uma palavra sempre muito a propósito. Era alguém que cativava sem fazer muito alarde da sua presença. 

Para mim, foi uma figura com impacto, tanto pela serenidade como quando intervinha em alguma situação. Era uma palavra sempre muito apreciada e equilibrada, com relações humanas muito fortes. Sempre tive por D. Eurico um grande respeito no convívio que mantive com ele. 

Uma das razões que me levou também imediatamente a dizer que teria que vir ao funeral de D. Eurico, foi a relação que ele teve nas nossas igrejas de África, tanto em Moçambique, como em Angola, fazendo parte da Conferência Episcopal de Angola. Em Angola, sempre que se fala de D. Eurico Dias Nogueira, fala-se com muita saudade, com carinho e muito reconhecimento por alguém que, quando esteve lá como bispo, desenvolveu um serviço muito importante em prol daquelas populações. Afirmou sempre uma presença de grande pastor e de grande atenção à sua igreja»

D. Manuel António, Bispo de S. Tomé e Príncipe

«Destacaria na figura de D. Eurico Dias Nogueira, antes de mais, a presença. 

Ele ganhou, dos tempos de Coimbra, como estudante e como padre, na Faculdade de Direito e na Diocese, depois em África e em Portugal, uma personalidade de muita presença nas coisas, nos acontecimentos, muito dialogante, com muito convívio e tertúlia. Isto fez-lhe muito bem a ele e à Igreja, porque também no âmbito da Conferencia Episcopal, era um homem de diálogo muito fácil, de muita acutilância também quando era preciso, de muita presença, espontâneo. Creio que este “espírito coimbrão”, no melhor sentido do termo, é o que melhor o define e fez dele uma pessoa com muita presença. 

Os livros que escreveu já quando Bispo Emérito, relatando as suas experiências e vivências episcopais, são preciosos e têm essa nota coimbrã. 

O legado e estimulo dele para todos nós é esta presença nos acontecimentos, a de refletirmos evangelicamente as coisas e tentarmos acertar; tentar sempre, não desistir, ir até ao fim e estar sempre presente». 

D. Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa

«D. Eurico Dias Nogueira foi um homem que soube passar do século XX para o século XXI, em Portugal, de uma forma muito elevada. Soube passar do antigo regime para a democracia de uma forma elevadíssima. Foi um homem que percebeu quando era válida a sua presença em Angola e quando passava a ser útil que deixasse o lugar que ocupava como bispo e soube fazer uma leitura muito superior da realidade portuguesa, logo após o 25 de Abril, situando-se para colocar a Igreja ao serviço desta sociedade renovada que estávamos a desejar.

Um homem também muito amigo da sua terra, Dornelas, no Zêzere, onde termina a diocese de Coimbra e começa a diocese da Guarda, tendo sempre muito amor pelas pessoas que ali viviam. Algumas vezes o encontrei nesse seu lugar preferido, Dornelas, a sua terra, com o desejo de dar futuro a essas terras que as circunstâncias empurram para terras sem destino, mas nas quais ele sempre acreditou. Era uma presença que entusiasmava os amigos e contribuiu muito para que as terras do interior pudessem também ter e sonhar com o seu futuro. 

Era igualmente uma pessoa onde encontrávamos sempre um conselho certo na hora certa, com palavras e indicações muito assertivas». 

D. Manuel Felício, Bispo da Guarda

«D. Eurico Dias Nogueira é uma figura da história da Igreja em Portugal, concretamente do século XX. É também uma figura da cultura, da cultura de Coimbra, com uma relação muito forte à Universidade, à Diocese, a Africa e a Portugal.

D. Eurico foi um homem de cultura, um homem de ideais fortes, de convicções e ao mesmo tempo de diálogo com o mundo e com as outras religiões. É uma figura muito marcante.

Comecei a ouvir falar dele na minha juventude e sempre com uma paixão imensa por parte das pessoas que o referiam, sobretudo devido à sua ação, à novidade, à capacidade de acolher o mundo e estar presente nas diferentes realidades. Acabei por conhecê-lo e privar com ele, sendo, sem dúvida, uma figura marcante, arrojada e clarividente». 

D. Virgílio Antunes, Bispo de Coimbra

«O senhor D. Eurico foi uma figura destacada do nosso episcopado português, com uma vertente missionária que gostaria de realçar, com uma capacidade de diálogo, concretamente com a sociedade civil, e intereligioso, com os muçulmanos, em Vila Cabral, que percorreu dois continentes e três dioceses como bispo. Ao mesmo tempo, destacaria nele um grande zelo pastoral, uma capacidade de mobilização e unidade da Arquidiocese de Braga, com um sentido de atenção particular aos emigrantes. 

Conheci-o como presidente da Comissão Episcopal das Migrações e foi das pessoas que melhor percebeu o fenómeno migratório português, nos anos 60, 70 e sucessivamente. 

Paralelamente, destacaria nele um grande amigo. Tenho uma profunda estima e admiração pelo senhor D. Eurico e por isso mesmo lhe pedi que fosse um dos bispos ordenantes na minha ordenação episcopal. No tempo que privei mais de perto com ele, aqui em Braga, encontrei nele um grande mestre, um testemunho exemplar, um servidor discreto, que amou o seu povo e que se integrou perfeitamente como bispo nesta experiência de serviço pastoral no Minho. 

Na Conferência Episcopal, era para todos nós um testemunho clarividente, na sua argúcia, na capacidade de entender os sinais dos tempos, na sua amizade e proximidade. Para mim, é um grande amigo que parte ao encontro de Deus e continuará a ser, junto de Deus, também uma grande bênção para a minha vida e o meu ministério». 

D. António dos Santos, Bispo de Porto

DM, 22 de Maio de 2014