Arquidiocese de Braga -

10 julho 2014

OPINIÃO: OS FRÁGEIS, DESAFIO À REVOLUÇÃO DA TERNURA DE DEUS

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Domingo, no Sameiro, muitos homens e mulheres fortemente atingidos pela fragilidade, quer da idade ou da doença, quer da deficiência ou da solidão e do desamparo, entre eles 6 sacerdotes, eram a expressão da resposta ao convite de Jesus no Evangelho desse

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Domingo, no Sameiro, muitos homens e mulheres fortemente atingidos pela fragilidade, quer da idade ou da doença, quer da deficiência ou da solidão e do desamparo, entre eles 6 sacerdotes, eram a expressão da resposta ao convite de Jesus no Evangelho desse dia: «Vinde a mim, todos vós que andais cansados e oprimidos, que eu vos aliviarei».

O alívio foi sair de casa e quiçá da cama, e ter a ousadia de viajar, levados por outros, até ao alto, junto da Senhora do Sameiro, graças à disponibilidade de tantas mãos amigas. Foi sobretudo sentir-se irmanado na recitação do terço, com os cânticos apropriados; participar na eucaristia presidida pelo arcebispo dom Jorge e solenizada pelo grupo coral de São Vítor, sentindo a ternura dos acompanhantes no momento do abraço da paz; deslumbrar-se com a procissão com a imagem da Senhora do Sameiro, levada por 4 senhoras, percorrendo o interior da Cripta e passando bem perto de todos os presentes, acenando com os lenços alusivos ao encontro e entoando cânticos que se entranham no mais íntimo de nós mesmos. Foi sobretudo ver e sentir que não são as limitações físicas as que mais doem. Elas doem e tornam-se até insuportáveis quando nos sentimos sós e tratados mais por obrigação do ofício do que com ternura e carinho. Muitos dos que ainda ficaram em casa foi porque a família não se envolveu como é chamada a envolver-se.

Jesus veio precisamente, como nos diz o Papa Francisco, para nos contar e mostrar a revolução da ternura de Deus, que é o núcleo originário e a frescura perene do Evangelho.

Esta revolução da ternura, que é Deus ao lado dos pequeninos e frágeis, é a verdadeira língua universal, a única língua comum a toda a pessoa, em qualquer época e lugar, em toda a terra. Um pequenino, um frágil compreende imediatamente o essencial: se lhe queremos bem ou não. No fundo, é este o segredo simples da vida. Não há outro que seja mais profundo. Os pequeninos, os pecadores, os últimos da fila, as periferias do mundo compreenderam que nesta revolução da ternura está o segredo de Deus.

Jesus veio dizer-nos e mostrar-nos que, com Ele, é possível uma melhor vida para todos. O Evangelho é o sonho de tornar mais humana e mais bela a vida. A humanização é o grande sinal da espiritualidade autêntica. Invocar Cristo, falar de Evangelho, celebrar Missa, deve equivaler a confortar a vida afadigada de tantos nossos irmãos, porque, de outra maneira, são palavras e gestos  que não vêm dele. As homilias, os encontros, as instituições devem tornar-se histórias vivas de amor, porque ir a Jesus é frequentar a escola da vida. Ele mesmo nos convida a aprendermos dele que é manso e humilde de coração. Convida-nos a aprender dele, do seu modo de ser, sem imposições e sem arrogância. Aprendei do meu modo de amar, delicado e indómito. O mestre é o coração. Deus não é um conceito: é o coração doce e forte da vida. «O meu jugo é suave e o meu peso é ligeiro».Aqui temos uma doce música, uma Boa Notícia. O jugo é a Lei do Amor. Tomai sobre vós o Amor, diz-nos Ele. Tomai cuidado, com ternura e humildade, de vós mesmos, dos outros e da criação. Difundi a combativa ternura de Deus, começando pelos mais pequeninos e indefesos, pois são eles as colunas secretas da história, as colunas escondidas do mundo. E tomar cuidado dos pequeninos, como faz Deus, é tomar conta de mundo inteiro.

Pe. Carlos Nuno Vaz