Arquidiocese de Braga -

12 maio 2016

Diaconisas na Igreja? Possibilidade será estudada por comissão

Fotografia

DACS com Joshua McElwee

Questão foi levantada durante a XX Assembleia Plenária da União das Superioras Gerais (UISG). Francisco anunciou abertura de Comissão para estudar possibilidade de abertura do diaconado às mulheres.

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O Papa Francisco anunciou, durante a XX Assembleia Plenária da União das Superioras Gerais (UISG), que irá criar uma comissão para estudar a possibilidade de ser permitido às mulheres servirem como diaconisas na Igreja Católica.

Durante o encontro existiu uma sessão de perguntas e respostas entre Francisco e as religiosas, tendo aí surgido a pergunta sobre o porquê de a Igreja excluir as mulheres do exercício do diaconado.

Algumas das participantes no encontro disseram a Francisco que as mulheres já tinham exercido o ministério anteriormente na Igreja e perguntaram-lhe se não seria uma boa ideia criar uma comissão oficial que estudasse a questão.

O Papa respondeu afirmativamente, dizendo que tinha até já discutido o assunto há alguns anos com um “bom e sábio professor” que tinha estudado o serviço das diaconisas nos primeiros séculos da Igreja.

“O que eram ao certo estas diaconisas? Eram ordenadas ou não?”, perguntou na altura ao Professor. “Esta questão era e é um pouco obscura”, explicou. 

“Constituir uma comissão oficial para estudar o assunto? Penso que sim. Seria bom para a Igreja clarificar este ponto. Estou em concordância convosco”, prosseguiu.

“Aceito”, disse o pontífice mais tarde. “Parece-me útil existir uma comissão que clarifique este ponto”.

O Papa João Paulo II defendeu em 1995, na carta apostólica Ordinatio Sacerdotalis, não ser admissível para a Igreja a ordenação sacerdotal de mulheres, citando o exemplo de Jesus quando escolheu apenas homens para servirem como apóstolos.

Muitos historiadores já afirmaram que há evidências suficientes a apontar para o serviço de mulheres como diaconisas. O apóstolo Paulo chega mesmo a mencionar uma dessas mulheres, Febe, na sua carta aos Romanos (Rm 16).

Na era moderna, a Igreja Católica voltou a instituir o ministério do diaconado permanente depois das reformas levadas a cabo pelo Concílio Vaticano II.

 

Religiosas na Igreja: que lugar ocupam?

Durante o encontro, as superioras fizeram várias questões ao Papa sobre como integrar de melhor forma as mulheres na vida da Igreja.

Apesar do uso frequente da expressão de Francisco sobre o “génio feminino” para descrever o papel da mulher na Igreja, as religiosas mencionaram que as mulheres ainda são excluídas das tomadas de decisão e não lhes é permitido proferir a homilia durante a eucaristia.

O Pontífice respondeu que a integração das mulheres na Igreja tem sido muito fraca e que é necessário “andar para a frente”.

O Papa recordou que o Conselho Pontifício Justiça e Paz tem uma mulher a servir como subsecretária e que por vontade do Papa já haveria uma outra mulher noutro departamento, mas ela preferiu servir noutro lado. “Para mim, a elaboração de decisões é algo muito importante. Não apenas a sua execução, mas o seu planeamento. Essas mulheres, consagradas ou leigas, estão inseridas nos processos de decisão”, explicou.

Francisco falou ainda entre as diferenças de género e a forma como masculino e feminino podem complementar-se. “Uma mulher olha para a vida com olhos verdadeiros. Nós, homens, não conseguimos olhá-la assim. A forma de ver os problemas, de ver tudo, é completamente diferente dos homens. Tem que haver complementaridade. É importante que as mulheres estejam nas reuniões”, sublinhou.

Sobre o facto de as mulheres não poderem proferir a homilia, o Papa explicou que na base dessa decisão se encontra uma questão “litúrgica/teológica”. Não há problema em as mulheres orientarem reflexões ou homilias em serviços religiosos mas, durante a eucaristia, o padre encontra-se a servir in persona Christi e é, por conseguinte, a pessoa indicada para a proferir.

O pontífice também disse às religiosas que a Igreja tem de tratá-las com mais respeito e que tem visto muitas vezes irmãs serem obrigadas a fazer “trabalho de servidão e não de serviço”, pedindo-lhes que tenham a coragem de dizer “não” nesses casos.

Que perderia a Igreja se não existissem religiosas? Bom, não teríamos Maria no dia de Pentecostes. E não há Igreja sem Maria. Não há Pentecostes sem Maria. A mulher consagrada é um ícone da Igreja, um ícone de Maria. O padre não. Ele é um ícone dos apóstolos, dos discípulos... mas não da Igreja de Maria”, referiu.

Francisco também respondeu a uma questão das religiosas sobre como a hierarquia da Igreja fala muitas vezes delas mas não com elas.

“A hierarquia da Igreja deve falar de vós, mas em primeiro lugar, deve falar convosco. Isto é certo. Falar de religiosas sem falar com elas não é seguir o Evangelho”, prosseguiu.

Algumas das participantes do encontro também disseram a Francisco que as suas congregações abraçam o desafio de trazer “novidades” à vida religiosa, mas que muitas vezes se sentem “bloqueadas” por limitações que lhes são impostas pelo Código de Direito Canónico. Foi perguntado a Francisco se conseguia prever alterações à lei canónica que as pudessem ajudar nesse aspecto.

“Vocês falaram de novidade num sentido positivo”, respondeu o Papa, acrescentando que a Igreja já teve que mudar muita coisa até chegar aos dias de hoje.

Francisco advertiu, no entanto, que as mudanças devem vir depois de um processo de discernimento e discussão com o Espírito Santo, e não apenas depois de pesados os prós e contras de qualquer argumento.

O Papa observou ainda que o Direito Canónico é utilizado para servir como ajuda jurídica à Igreja e observou que o código foi “alterado e totalmente refeito duas vezes no século XX.

O Código é um instrumento, disse. Insisto, nunca façam uma mudança sem realizar um processo de discernimento, concluiu.

As religiosas, oriundas de 80 países, encontram-se em Roma até amanhã em representação de meio milhão de consagradas.