Arquidiocese de Braga -
24 julho 2016
A alegria do amor – 14
Carlos Nuno Salgado Vaz
Reforçar o amor e ajudar a curar as feridas.
A «Alegria do amor» não passa por cima das dificuldades e crises a que está sujeita uma união matrimonial, seja qual for a origem das mesmas. E todas essas crises, «mais do que um atentado contra o amor, são oportunidades que convidam a recriá-lo uma vez mais» (número 237).
«Novo sim»
Há que encarar cada crise como um «novo sim» que torna «possível o amor renascer reforçado, transfigurado, amadurecido, iluminado».
Com uma atitude de «constante abertura podem-se enfrentar muitas situações difíceis», pelo que se torna cada vez mais evidente a necessidade de pensar num ministério dedicado «àqueles cuja relação matrimonial se rompeu» (238).
Muitos carregam consigo velhas feridas que nunca curaram verdadeiramente: infância e adolescência mal vividas, pelo que, aos 40 anos precisam de realizar um amadurecimento atrasado que deveria ter sido alcançado no fim da adolescência.
Outras vezes, «ama-se com um amor egocêntrico, próprio da criança, fixado numa etapa onde a realidade é distorcida e se vive o capricho de que tudo deva girar à volta do próprio eu. É um amor insaciável que gira e chora quando não obtém aquilo que deseja. Outras vezes ama-se com um amor fixado na adolescência, caracterizado pelo confronto, a crítica ácida, o hábito de culpar os outros, a lógica do sentimento e da fantasia, onde os outros devem preencher os nossos vazios ou apoiar os nossos caprichos» (239).
Há ainda os que tiveram uma relação mal vivida com os pais e irmãos, que nunca foi curada, e que reaparece e danifica a vida conjugal. Em tais casos, «é preciso fazer um percurso de libertação, que nunca se enfrentou».
E quando a relação entre os cônjuges não funciona bem convém que, antes de tomar decisões importantes, cada um se assegure se de facto fez tal caminho de cura da própria história. Para que tal aconteça, é preciso reconhecer a necessidade de ser curado, e pedir insistentemente a graça de perdoar-se e de perdoar, aceitar ajuda e procurar motivações positivas, tentando sempre de novo recompor a relação ameaçada de rutura.
É fundamental que cada um seja muito sincero consigo mesmo, para reconhecer que «o seu modo de viver o amor tem estas imaturidades. Por mais evidente que possa parecer que toda a culpa seja do outro, nunca é possível superar uma crise esperando apenas que o outro mude. É preciso também questionar-se a si mesmo sobre as coisas que poderia pessoalmente amadurecer ou curar para favorecer a superação do conflito» (240).
A separação
Há casos em que a separação é inevitável, mas deve ser considerada sempre um remédio extremo, depois de todas as tentativas razoáveis de cura se terem demonstrado vãs (241).
Os separados, divorciados e abandonados devem ser acompanhados pastoralmente. Para as pessoas divorciadas que não voltaram a casar, é bom encorajá-las a encontrar na eucaristia o alimento que as sustente no seu estado de vida.
O acompanhamento pela comunidade deve ser real e efetivo, sobretudo quando há filhos ou há grave situação de pobreza (242).
Os divorciados recasados
A situação dos divorciados recasados exige um atento discernimento «e um acompanhamento com grande respeito, evitando qualquer linguagem e atitude que os faça sentir discriminados e promovendo a sua participação na vida da comunidade. Cuidar deles não é, para a comunidade, um enfraquecimento da sua fé e do seu testemunho sobre a indissolubilidade do matrimónio; antes, ela exprime precisamente neste cuidado a sua caridade» (243).
E a Igreja deve preocupar-se em garantir todas as condições para que os processos de declaração de nulidade do matrimónio sejam mais acessíveis para todos, para que a justiça lhes possa ser feita sem longas demoras e grandes dispêndios de dinheiro e energias. A Mitis Judex do Papa Francisco procurou agilizar os processos de declaração de nulidade (244 e 245).
Os filhos
Os filhos dos casais separados e divorciados não devem ser usados como reféns contra o outro cônjuge, como tantas vezes acontece.
«As comunidades cristãs não devem deixar sozinhos os pais divorciados que vivem numa nova união. Pelo contrário, devem integrá-los e acompanhá-los na sua função educativa» (246).
«O divórcio é um mal... a nossa tarefa pastoral mais importante relativamente às famílias é reforçar o amor e ajudar a curar as feridas, para podermos impedir o avanço deste drama do nosso tempo» (246).
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