Arquidiocese de Braga -

18 janeiro 2018

"Aprendemos que o outro não é um fato feito à medida do nosso querer e da nossa vontade, é necessário dar espaço e saber esperar"

Fotografia

Testemunho do casal responsável pela Pastoral Familiar, Rosa Maria e Amândio Cruz.

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“A grande preparação para o matrimónio é a preparação remota que os noivos receberam em casa. Uma verdadeira educação dos filhos, que gere processos de amadurecimento da sua liberdade, de crescimento integral, de cultivo da autêntica autonomia” (A Alegria do Amor, n.º 261)

A nossa história começa nas nossas famílias de origem, onde bebemos os valores da gratuidade do amor, do perdão, do saber esperar, do respeito mútuo, da misericórdia, do compromisso, da fidelidade e da felicidade. Dos nossos pais colhemos o grande testemunho de que o sacramento do matrimónio é para sempre. O amor não pode ser a prazo ou descartável, mas exige o empenho e o esforço de cada um.

Conhecemo-nos em 1985, num grupo de jovens que era acompanhado por um sacerdote que vivia a espiritualidade do Movimento dos Focolares. Neste grupo, apesar de sermos muito jovens, fizemos a descoberta individual de Deus, um Deus Amor que amava cada um como era, com as virtudes e os defeitos, com a irreverência própria da juventude, e que nos deixava a liberdade de O seguir. Começar a viver as palavras do Evangelho revolucionou as nossas vidas. Amar cada próximo nas pequenas coisas de cada dia, por exemplo, em casa colaborar mais nas tarefas ajudando os pais, ou então ser o primeiro a pedir perdão numa situação de conflito. Esta nova vivência foi construindo em cada um de nós uma nova consciência e atitude de ser cristão.

Algum tempo depois começámos a namorar. Um período muito bonito, a primeira paixão de dois jovens em que tudo corria bem, no entanto, no coração sentíamos a questão: Será que é esta a estrada certa? Será esta a vontade de Deus sobre mim, sobre nós? Continuávamos a participar nos encontros do grupo de jovens e individualmente confidenciávamos estas dúvidas e procurávamos ajuda junto do sacerdote. Um dia, decidimos terminar o namoro. Seguiu-se um período de vinte e nove meses em que com grande liberdade pudemos perceber melhor qual seria a nossa vocação, o caminho a seguir. Com o passar do tempo fomos percebendo que o casamento era a nossa estrada e, se era assim, era lógico ser um com o outro. Recomeçámos o namoro, procurámos conhecer-nos bem, gostos, diferenças, pontos de vista acerca de assuntos importantes. Começámos assim a construir as bases da família que pretendíamos constituir. Recordamos que nesta fase do namoro começaram a vir ao de cima algumas diferenças, os defeitos, começaram as oportunidades de pedir perdão e perdoar. Aprendemos que o outro não é um fato feito à medida do nosso querer e da nossa vontade, é necessário dar espaço e saber esperar. Este é um treino que se faz ao longo de toda a vida. Saber esperar é caminhar contra a corrente e nós quisemos fazer essa caminhada. Como nos diz o nosso Arcebispo D. Jorge Ortiga, na Carta Pastoral “Construir a Casa sobre a Rocha”: “Muitas vezes, a preparação imediata dos noivos para o matrimónio é manifestamente incompleta ou muito condicionada pelas circunstâncias próprias de toda a preparação para o dia do casamento. Este factor vem alertar para a necessidade de um empenho sério numa pastoral do namoro, em que todos, catequistas, líderes de grupos de jovens, promotores vocacionais e demais agentes pastorais unam esforços e trabalhem juntos de forma a mais cedo começar a preparação e o discernimento dos jovens para o namoro, noivado e matrimónio”. Foi precisamente isso que fizemos. Procurámos formação específica e participámos em encontros para namorados que na altura eram realizados por casais do Movimento dos Focolares. Eram encontros muito simples e familiares mas muito ricos de vida, os casais partilhavam com aqueles jovens namorados como tinham vivido o namoro, o noivado e como estavam a viver o casamento. Percebemos desde logo a importância de não saltar etapas e que cada fase da relação a dois tem os seus encantos e as suas dores.

Namorámos três anos, foram tempos de grandes conversas, sobre o futuro, sobre quantos filhos gostávamos de ter. E se não conseguíssemos ter filhos biológicos, estaríamos disponíveis para a adopção? Ora estávamos de acordo, ora em desacordo, no entanto, nos pontos ou valores essenciais tínhamos o mesmo pensamento.

Em 1991 ficámos noivos, começámos com alguma antecedência a preparar o nosso casamento, não propriamente a boda, mas a preparação de nós mesmos, e decidimos participar no Centro de Preparação para o Matrimónio (CPM) com um ano de antecedência. Ainda hoje mantemos relação e temos como referência um casal que nos acompanhou naquela formação.

Foi um período intenso, acompanhado pelas nossas famílias e pelos nossos amigos, sentíamos que a nossa caminhada não era feita sozinhos, mas estava amparada por uma comunidade, por isso convidámos para a celebração do nosso casamento todas as pessoas que de alguma forma nos tinham ajudado a chegar até ali. Tínhamos consciência que o sim do nosso matrimónio não era só nosso mas fruto da ajuda e oração de muitos.

Procuramos viver o nosso casamento sob o signo do “para sempre”. Procuramos que a nossa casa e, sobretudo, as nossas vidas estejam abertas a todos. Passaram 25 anos que foram vividos intensamente com alguns momentos de provação e sofrimento que serviram de impulso para seguir em frente. Da nossa experiência, os momentos mais difíceis são os que mais solidificam a relação. A verdade é que fomos tomando consciência que a celebração do matrimónio não é uma meta, mas um ponto de partida. Com razão, o nosso querido Papa Francisco, na Exortação Apostólica “A alegria do Amor”,  adverte os noivos para não considerarem “o matrimónio como o fim do caminho, mas o assumam como uma vocação que os lança para diante, com a decisão firme e realista de atravessarem juntos todas as provações e momentos difíceis” (n.º 211).

Deus deu-nos a hipótese de podermos concretizar alguns dos sonhos do nosso namoro, ter uma família grande, com quatro filhos, em que um é filho do coração. 

Em jeito de conclusão, queremos afirmar que um casamento feliz é sobretudo a capacidade de amar com todas as forças, com toda a vontade, e estar disposto a dar a vida um pelo outro e acreditar na graça do sacramento, na graça de Deus. Somos felizes, por vezes no meio de lágrimas. Mas a verdadeira alegria da família nasce do Amor que dia a dia dá a vida pelos seus.