Arquidiocese de Braga -

6 setembro 2019

Festa da gratidão

Fotografia

Discurso do Arcebispo Primaz na conclusão das obras de restauro do Bom Jesus

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Nesta cerimónia simples de encerramento do último percurso do “Requalificar o Bom Jesus” queremos, conscientemente, testemunhar gratidão.

Sabemos que a Igreja, e nomeadamente a Arquidiocese de Braga, é detentora de um património invejável. Herdámo-lo e temos o dever quase sagrado de o conservar. Não é fácil. Pretendemos a qualidade e esta tem muitas exigências. Sentimo-nos felizes e recompensados neste projecto de exigência connosco.

A Igreja faz e recupera e está a exercitar um teste à sua identidade. Muitas vezes, e de um modo unilateral, entendemo-la como responsabilidade dos Bispos ou dos sacerdotes. A história confirma que nada é mais errado. Por todos os lados foram surgindo Associações de Fiéis, Confrarias ou Irmandades que protagonizaram obras de que hoje nos orgulhamos. Foram homens e mulheres, pouco conhecidos e muitos anónimos, que, voluntariamente, e consequentemente gratuitamente, deram o seu tempo, o seu dinheiro, as suas capacidades e qualidades. Nada pretendiam a não ser realizar obras que proclamassem a importância de determinados mistérios. A Deus, a Nossa Senhora, aos Santos, tudo se oferecia com alegria sem esperar aplausos ou reconhecimentos públicos.

Não obstante o altruísmo, a Igreja nunca se esqueceu de ser grata, não se contentando em reconhecer que Deus ama a quem dá com alegria mas mostrando que o Povo de Deus não se esquece de agradecer. Pessoalmente, tenho sempre diante de mim uma plêiade de homens e mulheres que quotidianamente, nos mais variados âmbitos, constroem a Igreja mostrando a vitalidade da mensagem evangélica. Nem sempre existem oportunidades para publicamente afirmar que não esquecemos os obreiros de tantas obras. Hoje, nesta circunstância feliz, abro o meu coração e alargo os horizontes da minha imaginação para pensar em quem trabalha em Confrarias grandes assim como naquelas que apenas podem organizar uma simples festa em honra do Santo ou de Nossa Senhora e quero aplaudir essa generosidade despretensiosa mas construtora da história das nossas comunidades. Somos grandes no que temos e fazemos por causa do trabalho de milhares de pessoas.

No caso concreto do Bom Jesus, não é fácil elencar todos os obreiros. Muitos trabalharam pela causa do Santuário do Bom Jesus. Alguns empenharam-se de um modo convicto pela classificação da estância e santuário como Património da Humanidade. Todos deixam marcas indeléveis de serviço comunitário.

Peço desculpa por não elencar nomes. Sabem que a Arquidiocese de Braga nunca esquecerá quanto fizeram. Se, porém, é de justiça sublinhar o papel daqueles que labutaram nesta etapa final, são conhecidos e a todos abraço com sincera gratidão, permitam-me, no nome de três pessoas, recordar os que, com os seus colegas da Confraria da época, iniciaram esta aventura. Recordo o Cónego José Marques, o Cónegos Cândido Pedrosa e o Eng. João Varanda. Por causa deles estamos hoje aqui. Os artífices da conclusão do Processo sabem como foi maravilhoso e compensador a notícia chegada de Baku.

Muitos poderão pensar que o trabalho está concluído. É grande, porém, a responsabilidade que assumimos perante a Humanidade. Não vamos adormecer à sombra das metas alcançados. Sabemos que vencemos uma batalha mas ser Património da Humanidade será uma responsabilidade para o futuro. 

Muitos trabalharam, há muitos ou poucos anos; hoje continuaremos a enobrecer este espaço único. Braga não pode esquecer que o Bom Jesus, como Património, exige uma atenção e carinho especiais. Há coisas muito pequenas que devem ser feitas. Somos os guardiões destes espaços e a eles deveremos oferecer o que nos for possível. É fácil delegar na Arquidiocese ou na Confraria. Não nos demitimos da nossa responsabilidade mas queremos que muitos, todos os bracarenses, nos acompanhem. Merecem uma referência particular por aquilo que fizeram e continuarão a fazer os trabalhadores. Todos exigem muita coisa. Há muito suor no meio dos jardins que ninguém vê. Para eles a gratidão e o pedido de que nunca se cansem e que ofereçam o melhor de si todos os dias. Apeguem-se à perfeição das pequenas coisas e tornem o Bom Jesus sempre mais belo.

Se hoje é o dia da gratidão pública, Senhor Presidente da República, não esquecemos como nos acompanhou desde a primeira hora. Foi o primeiro, nas Conferências do Bom Jesus e muito antes de ser Presidente da República, a subscrever a plena concordância com o processo que iniciamos, dando-nos força e coragem. Outras presenças, noutros momentos, mostraram que assumiu a causa como sua. Bem haja!

Termino testemunhando, publicamente, e mais uma vez, a gratidão a todos quantos permitiram esta festa e esperando que continuem a dar um contributo positivo para que sempre nos orgulhemos desta honra de sermos Património da Humanidade.

 † Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz