Arquidiocese de Braga -
15 setembro 2019
Uma Igreja jovem com os jovens
Homilia do Arcebispo Primaz na Peregrinação Arciprestal a N. Sra. do Alívio
De um modo sinodal, que tem envolvido todas as instâncias arquidiocesanas, chegamos ao compromisso de renovar a Igreja. As circunstâncias actuais reclamam uma fidelidade ao projecto originário que Cristo delineou, tal como o Espírito Santo nos impele a uma atenção particular às novas exigências. A Igreja nunca se adaptou ao mundo mas sentiu sempre a responsabilidade de o escutar para que a sua mensagem não fosse uma simples doutrina abstrata. Encerra um dinamismo que a leva a encontrar-se permanentemente em confronto de diálogo com as diferentes aspirações da Humanidade e elaborar novas propostas que sejam compreensivas perante novas caracterizações sociológicas. O Espírito foi sempre renovando e criando coisas novas para as novas problemáticas.
O Papa Francisco na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Cristo Vive, dirigida aos jovens e a todo o Povo de Deus, afirma: “Peçamos ao Senhor que liberte a Igreja daqueles que a querem envelhecer, encerrar no passado, detê-la, imobilizá-la”. São muitos aqueles que, de um modo pessoal ou colectivo, se empenham em mostrar as rugas e manifestar as sombras para gerar a convicção de que o cristianismo é acontecimento histórico sem incidência no quotidiano. Descobrem e propagandeiam as possíveis mazelas para deturpar a sua imagem e fixar-se em pormenores que hoje ninguém bem intencionado aceita.
Por outro lado, o Santo Padre recorda que se muitos pretendem envelhecer a Igreja outros afirmam que ela será jovem se ceder àquilo que o mundo lhe oferece, escondendo a sua mensagem e resignando-se a mimetizar tendências e correntes de vida.
Não estamos amarrados a esquemas antigos mas também não sacrificamos a identidade eclesial. Sabemos que a nossa novidade vem do Evangelho, da presença de Cristo. A renovação da Igreja acontece quando nos abrimos à presença do Espírito Santo que nos faz compreender os sinais dos tempos e encontrar os caminhos novos que devemos percorrer. Não somos uma mera sociedade democrática, sujeita e dependente do parecer das maiorias. Escutamos o Espírito e agimos em Seu nome com atitudes marcadas pela perenidade. Queremos ser a Igreja de Deus que conta com a acção e compromisso de todos os homens de boa vontade. Quanto mais somos fiéis ao Espírito, maior modernidade trazemos à vida eclesial.
Esta procura de caminhos novos é uma tarefa comum, jovens e adultos protagonizam a renovação que pretendemos e esperamos. Mas o Santo Padre recorda uma outra verdade que terá de estar sempre presente no agir pastoral. “São precisamente os jovens que a podem ajudar a manter-se jovem, a não cair na corrupção, a não desistir, a não se orgulhar, a não se converter em seita, a ser mais pobre e testemunhal, a estar próximo dos últimos e dos descartados, a lutar pela justiça, a deixar-se interpelar com a humildade”.
É nesta certeza e por causa dela que, este ano, prosseguindo a aventura de semear a esperança na Igreja e no mundo, iremos privilegiar uma atenção particular aos jovens. Sabemos que temos muito para lhes dar. Estamos conscientes que muito mais iremos receber. Não instrumentalizamos os jovens mas queremos que se tornem protagonistas do novo ser e viver em Igreja. Se queremos sair em missão com alegria, como nos exige o Programa Pastoral, não nos podemos entrincheirar nos nossos espaços e esquemas de uma pastoral concebida por adultos. Urge inventar modos e maneiras para que os jovens se sintam em casa e manifestem alegria de serem Igreja. Muitos andam à deriva e perdidos em experiências erróneas ou superficiais. Nunca os poderemos julgar ou condenar. Estando do seu lado, queremos que a sua voz ressoe e nos conduza a testemunhar-lhes que o amor de Cristo, experimentado em profundidade, é a única resposta às interrogações. Nunca podemos esquecer que “para muitos jovens, Deus, a religião e a Igreja são palavras vazias, no entanto, eles são sensíveis à figura de Jesus, quando esta é apresentada de modo atraente e eficaz”.
Não podemos ter medo de reconhecer que muitos “não pedem nada à Igreja porque não a consideram significativa para a sua existência”. Alguns exigem que os deixem em paz porque a presença da Igreja é “incómoda e até irritante”. Perante esta realidade, “uma Igreja na defensiva, que perde a humildade, que deixa de escutar, que não permite que a ponham em questão perde a juventude e converter-se em museu”. Perde a juventude enquanto característica testemunhal e perdem os jovens que não se deixam encantar e seduzir por melodias de outras épocas.
Neste Santuário de Nossa Senhora do Alívio queria colocar no regaço de Nossa Senhora a pastoral juvenil na nossa Arquidiocese. Não ignoramos que também em Braga os jovens se afastaram da órbita da Igreja. O Evangelho de hoje solicita-nos a atitude de deixar as noventa e nove ovelhas e ir ao encontro da ovelha perdida. Também a mulher que perde uma dracma quase que esquece a posse das outras e investe na procura para experimentar e comunicar aos seus vizinhos a alegria de a ter encontrado. Ir ao encontro dos jovens é a nossa opção pastoral. Sabemos que necessitam de encontrar referências de vida pessoais e comunidades envolvidas pelo ideal evangélico. Não são teóricos e não vão atrás de simples teorias. Necessitam de ver para acreditar e as paróquias muitas vezes negam a autenticidade do Evangelho.
Com comunidades evangelizadas podemos partir para os grupos de jovens fazendo com que experimentem o amor de Deus, sintam que no meio de tantas outras propostas só Cristo é o verdadeiro Salvador. Para isso, a palavra e o testemunho deve comprovar que Cristo Vive, não é história do passado.
Ao mostrar o rosto belo de Cristo teremos de lhes dizer que o seu seguimento não é destruidor de sonhos e projectos. O cristianismos nunca poderá ser um simples código de conduta com normas e preceitos que obstaculizam a verdadeira felicidade. Não seguimos um receituário de comportamentos, temos comportamentos novos porque nos deixamos envolver no projecto de Cristo que caminha connosco e connosco quer oferecer felicidade. É o amor a Cristo que nos sacia, é o estar com Ele que nos realiza. Quando Ele se torna o amigo concreto, real, estamos a fazer uma verdadeira experiência cristã. Depois, com Ele e como Ele, seremos capazes de optar por princípios e valores que nos diferenciam de tantos outros. Não a felicidade de passatempos ou de momentos festivos, mas a alegria que nunca se perde. No encontro com Cristo teremos um estilo de vida diferente, mas não anormal, talvez contra-corrente, mas sempre a testemunhar alguma coisa que muitos compreenderão. É este modo novo de ser homem em tempos de modernidade que devemos ousar propor aos jovens.
Nem sempre é fácil. A pressão é muito grande. Não nos deixemos vender nem que nos roubem a alegria. Sermos cristãos sem complexos nem medos de afirmar uma vida com valores e princípios. Dante, na Divina Comédia, dizia uma coisa actual naquela época mas actualíssima hoje. “Os lugares mais tenebrosos do Inferno estão reservados àqueles que mantêm a neutralidade em tempo de crise moral”.
De um modo muito concreto, poderemos encontrar duas palavras que sintetizem o nosso agir pastoral com os jovens?
Em primeiro lugar, deveremos ser ousados na convocação, no chamamento, ir onde eles se encontram. Depois, com eles, teremos de desenvolver caminhos de amadurecimento da experiência cristã, centrando-nos sempre na felicidade de experimentar uma amizade crescente com Cristo, que, posteriormente, dará sentido a todas as outras opções.
Coragem de convocar, indo ao encontro, e estratégia de amadurecimento de uma experiência vital. Eis o caminho a percorrer.
Que a Senhora do Alívio faça com que todas as paróquias, deste arciprestado e dos outros, se entusiasmem pela descoberta de caminhos novos para o trabalho com jovens. Ousemos convocar e digamos que Cristo está vivo e que quer que todos, particularmente os jovens, vivam a vida em plenitude. Que nos conceda a graça de sacerdotes e leigos pegarem a sério no Programa Pastoral, levantando-se para semear esperança.
† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz
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