Arquidiocese de Braga -
13 abril 2020
Papa Francisco defende criação de salário básico universal
Vatican News / DACS
Pontífice escreveu carta aos Movimentos Populares e defendeu medida que garantiria o ideal "humano e cristão" de não existirem trabalhadores sem direitos.
Numa carta com data do Domingo de Páscoa, 12 de abril de 2020, em plena pandemia de Covid-19, o Papa Francisco pediu que seja considerada a criação de um salário básico universal “que garantiria e atingisse concretamente o ideal, ao mesmo tempo humano e cristão, de não existirem trabalhadores sem direitos ".
A carta é dirigida aos Movimentos Populares Mundiais, com alguns dos quais o Papa se encontrou na Bolívia, durante uma Visita Apostólica em 2015, e no Vaticano, em 2016.
A mensagem do Papa chega num momento em que a pandemia está a devastar a saúde e a vida de milhões de pessoas, colocando milhões de empregos em risco e minando as economias locais e mundiais. O Pontífice encorajou e demonstrou solidariedade com os movimentos que pretendem trazer mudanças aos sistemas e estruturas globais que excluem inúmeros trabalhadores.
“Vocês são, verdadeiramente, um exército invisível, lutando nas trincheiras mais perigosas; um exército cujas únicas armas são solidariedade, esperança e espírito comunitário, todos a revitalizarem-se num momento em que ninguém se pode salvar sozinho”, afirmou.
O Papa aproveitou a oportunidade para agradecer aos movimentos populares pelo trabalho que realizam. Reconhecendo que o trabalho quase nunca recebe o reconhecimento merecido, observou: “Vocês não se resignam a reclamar: arregaçam as mangas e continuam a trabalhar para as vossas famílias, comunidades e o bem comum. A vossa resiliência ajuda-me, desafia-me e ensina-me muito.”
Uma multidão de pessoas que sofrem longe dos holofotes
Francisco continuou a mencionar todas as pessoas que sofrem longe dos olhos do mundo. “As mulheres, que multiplicam pães em cozinhas de sopa: duas cebolas e um pacote de arroz compõem um delicioso estufado para centenas de crianças. Os doentes e os idosos nunca aparecem nas notícias, nem os pequenos agricultores e as suas famílias que trabalham no duro para produzir alimentos saudáveis sem destruir a natureza, sem acumular, sem explorar as necessidades das pessoas”, apontou.
O Papa sublinhou ainda o quão difícil é “ficar em casa” para quem vive na pobreza e para os sem-abrigo, sem esquecer também os migrantes e aqueles que se encontram em reabilitação de algum vício.
Pessoas, vida e dignidade no centro
Agradecendo aos Movimentos Populares por estarem presentes na vida dessas minorias, tornando as coisas menos difíceis e menos dolorosas, o Papa expressou a sua esperança de que este possa ser um momento de mudança.
“A minha esperança é que os governos entendam que os paradigmas tecnocráticos (centrados no estado ou orientados para o mercado) não são suficientes para enfrentar essa crise, ou outros grandes problemas que afetam a humanidade. Agora, mais do que nunca, pessoas, comunidades e povos devem ser colocados no centro, unidos para curar, cuidar e partilhar”, escreveu.
Francisco lembrou as muitas pessoas que foram excluídas dos benefícios da globalização. Elas, observou, foram atingidas duas vezes mais pelos danos produzidos por uma sociedade marcada pelos "prazeres superficiais que anestesiam tantas consciências".
“Vendedores ambulantes, pequenos agricultores, trabalhadores da construção civil, costureiras, diferentes tipos de prestadores de cuidados: vocês que são informais, trabalham por conta própria ou na economia de base, não têm renda estável para passar por esse momento difícil… E os confinamentos estão a tornar-se insuportáveis. Talvez seja o momento de considerar um salário básico universal que reconheça e dignifique as nobres tarefas essenciais que vocês realizam. Garantiria e concretizaria o ideal, ao mesmo tempo humano e cristão, de nenhum trabalhador sem direitos”, escreveu o Papa Francisco.
Os três "Ts"
O Pontífice lembrou a necessidade de reflectir sobre "a vida após a pandemia”, o que exige um desenvolvimento humano integral, baseado no “papel e iniciativa central das pessoas em toda a sua diversidade, bem como no acesso universal aos três Ts por vós defendidos: Trabajo (trabalho), Techo (moradia) e Terra (terra e comida)”.
O Papa concluiu a missiva com a esperança de que as consciências da sociedade em geral sejam abaladas, dando lugar a uma "conversão humanista e ecológica que ponha fim à idolatria do dinheiro e coloque a vida e a dignidade humanas no centro".
“A nossa civilização – tão competitiva, tão individualista, com os seus ritmos frenéticos de produção e consumo, os seus luxos extravagantes, os seus lucros desproporcionais para apenas alguns – precisa de reduzir a marcha, fazer um balanço e renovar-se”, afirmou.
Vatican News
Tradução e adaptação de DACS
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