Arquidiocese de Braga -
4 dezembro 2020
Eurodeputados pedem resposta urgente à crise em Cabo Delgado
DACS com Fundação AIS
Bispo de Pemba falou do impacto da guerra no norte de Moçambique
Os deputados do Parlamento Europeu apelaram esta quinta-feira a uma resposta “urgente” da comunidade internacional perante a situação de crise em Cabo Delgado, no norte de Moçambique.
Na sessão conjunta das comissões de Negócios Estrangeiros e de Desenvolvimento foi ouvido o bispo de Pemba, D. Luiz Fernando Lisboa, que denunciou uma “tragédia humana” e explicou que “há 3 anos começou uma guerra com homens armados e desde então já temos mais de 2 mil mortos e mais de 500 mil deslocados. Mais de meio milhão de pessoas deslocadas”.
De acordo com a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, o prelado advertiu que “a maioria das pessoas saiu [de suas casas] deixando tudo para trás. Saiu das suas aldeias e deixou tudo para trás. Muitas tiveram as suas casas e os seus bens queimados, muitos perderam ente-queridos, familiares, tem também meninas raptadas… Alguns pais reclamam que há muito tempo não vêem as suas filhas, porque muitas meninas foram raptadas.”
“As necessidades são muitas. Não param de chegar pessoas em vários distritos e nós estamos a tentar atender nas necessidades mais básicas, que é a alimentação, água, roupas, esteiras, cobertores, arranjar um lugar para ficar”, declarou D. Luiz Fernando Lisboa.
O bispo de Pemba agradeceu a ajuda solidária que tem sido oferecida por países como e Portugal, Espanha e Brasil, mas alertou para a insuficiência de meios face ao número de deslocados, face à dimensão da tragédia.
“As nossas cidades estão superlotadas e inclusive começam a sair da província, estão já em outras províncias vizinhas e há informação de que já chegaram ao centro do país e até na cidade capital. Então, nós precisamos de apoio, de ajuda, para que essas famílias sejam atendidas condignamente”, advertiu o responsável católico.
A embaixadora Rita Laranjinha, nova responsável pelo serviço de Acção Externa em África, mostrou-se “chocada e horrorizada perante as atrocidades” cometidas em Cabo Delgado e assumiu o compromisso de mobilização de esforços junto dos vários parceiros de Moçambique que têm de incluir não só a União Europeia, mas também “os estados-membros”
Paulo Rangel, vice-presidente do Partido Popular Europeu, e o principal impulsionador da audição de D. Luiz Lisboa no Parlamento Europeu, usou também da palavra, tal como dois outros deputados portugueses, para sublinhar a importância da urgência no apoio humanitário para Cabo Delgado. “O que nós ouvimos do bispo de Pemba é que há ONG’s, há organizações da sociedade civil, mas nós não vemos no terreno a força da União Europeia e até de países como Portugal”, disse Rangel.
Na sua intervenção, o eurodeputado português fez questão de acusar o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Lisboa de estar “totalmente inativo nesta matéria”. “Tem feito muito pouco”, afirmou Rangel, acrescentando que, “em Portugal, esta não é uma questão premente”.
A eurodeputada Isabel Santos, eleita pelo Partido Socialista, contestou estas críticas à ausência de acção do governo português mas sublinhou também a necessidade de adopção de medidas urgentes pela União Europeia. “Nós não podemos esperar, porque o povo de Moçambique não pode esperar mais.”
Por ssua vez, Carlos Zorrinho, também da bancada do PS, agradeceu as palavras de D. Luiz Lisboa e pediu uma intervenção mais forte por parte não só da União Europeia mas também “das potências regionais e do próprio Governo moçambicano”.
Zorrinho explicou que esta crise humanitária decorre da violência de grupos terroristas, que apelidou de “insurrectos”. Na sua descrição, estes grupos armados estão “cada vez mais organizados, estão a actuar também noutras províncias, como Nampula, Niassa, e começam a entrar [em Moçambique] sobretudo a partir da Tanzânia.”
A reunião contou ainda com a participação da chefe de unidade para África da Direcção-Geral de Desenvolvimento e Cooperação Internacional da Comissão Europeia, Francesca di Mauro. Esta responsável reafirmou que “Cabo Delgado é uma prioridade das acções humanitárias da União Europeia”, mas concordou com o facto de se dever dar “mais atenção a esta questão a nível internacional”.
Comissão Justiça e Paz apelou a solidariedade dos portugueses
Entretanto, também esta quinta-feira, a Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) lançou um apelo “aos governos de Moçambique e de Portugal, à União Europeia e às Nações Unidas” para encontrarem as formas mais adequadas de “defesa das populações vítimas dos ataques” em Cabo Delgado.
A CNJP apela também à solidariedade dos portugueses para enviarem “ajuda humanitária” com carácter de urgência para estas populações, lembrando as campanhas que já estão a ser promovidas pela Fundação AIS e também pela Cáritas Portuguesa.
A Comissão lamentou também a falta de atenção mediática para um “drama desta amplitude”, criticando a disparidade na reacção entre os atentados na Europa e os que atingem a região de Cabo Delgado, que são “de uma gravidade extrema, equivalente à dos atentados terroristas que têm atingido a Europa multiplicada por cem ou por mil”, indica o organismo católico.
Partilhar