Arquidiocese de Braga -

11 março 2021

Irmã Comboniana nomeada “Mulher de Coragem 2021” por trabalho no Médio Oriente

Fotografia © Imã Alicia Moro

DACS

Num ambiente moldado pelo conflito israelo-palestiniano, a Irmã Alicia Moro, uma missionária espanhola, ajudou refugiados traumatizados e requerentes de asilo.

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A Irmã Comboniana Alicia Moro, uma missionária espanhola cujo ministério se concentrou nas necessidades humanitárias no Médio Oriente, é uma das 14 mulheres que receberam este ano o prémio “International Women of Courage”, uma homenagem anual do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América. 

Alicia, com 49 anos, enfermeira e coordenadora regional das Irmãs Missionárias Combonianas no Médio Oriente, foi homenageada por um trabalho que inclui o estabelecimento de uma clínica médica no Egipto para pacientes com baixos rendimentos e pelo trabalho que realiza com uma comunidade Beduína empobrecida na Cisjordânia ocupada por Israel. Ela e as outras vencedoras do prémio foram homenageadas no dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, numa cerimónia virtual transmitida ao vivo pelo Departamento de Estado em Washington, com a presença da Primeira-Dama Jill Biden, o Secretário de Estado Antony Blinken e Linda Thomas-Greenfield, Embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas. 

A citação pública sobre Alicia afirma que a Irmã estabeleceu um programa de treino para mulheres Beduínas que abriu novas oportunidades económicas para aquelas mulheres e também desenvolveu programas de jardim de infância em campos Beduínos que forneceram “uma base educacional para as crianças”. 
 

“Seria insuportável se eu não tivesse esperança. A esperança significa que a vida é mais forte do que a morte, estamos convencidas disso”


“Num ambiente moldado pelo conflito israelo-palestiniano, a irmã Alicia também ajudou refugiados traumatizados e requerentes de asilo, um trabalho que continua a desempenhar em larga escala no seu papel actual como coordenadora regional das Irmãs Combonianas no Médio Oriente”. A citação também observou que quando a pandemia global de coronavírus atingiu o norte da Itália no início de 2020, Alicia “voou para a Itália para ajudar e tratar outras irmãs, não se intimidando com o perigo extremo que esta acção representaria para si mesma”.

Numa entrevista anterior à cerimónia de entrega dos prémios, Alicia disse que o reconhecimento “é um tanto ou quanto surpreendente porque haver tantas mulheres por aí a fazerem coisas maravilhosas”.

A Irmã afirmou, por exemplo, que as Irmãs Combonianas no Sudão do Sul poderiam ser mais merecedoras desta honra devido ao seu desafiante trabalho na ajuda aos deslocados causados pela guerra civil em curso naquele país. Alicia disse também que vê o prémio como uma homenagem colectiva a ela e às outras cinco Irmãs Combonianas que trabalham na Cisjordânia, enquanto tentam honrar os valores do Evangelho num ambiente que descreveu como “invulgarmente difícil”. 

“Às vezes, um prémio é realmente sobre uma comunidade maior, por isso partilho-o com outras pessoas”, afirmou. Alicia trabalhou no Egipto entre 1999 e 2007, e trabalhou em Israel / Palestina desde 2008, excepto por um período de dois anos, de 2015 a 2017, em Verona, Itália, quando coordenou uma enfermaria para Irmãs mais velhas. Foi eleita coordenadora regional do Médio Oriente em 2017. A comunidade Comboniana está sediada num convento na comunidade de Betânia, na Cisjordânia, nos arredores de Jerusalém, mas está em parte cercada por um muro de separação construído por Israel. “É um lugar desconfortável para se estar, mas é um lugar onde acreditamos precisar de estar”, disse Alicia.

 

É melhor ter esperança do que ser optimista

A trabalhar com as pessoas “dos dois lados do muro” – desde palestinianos a rabinos empenhados na paz e no diálogo – a comunidade Comboniana procura construir pontes e “fazer a diferença”. “Este é o nosso lugar, na fronteira”, afirmou a Irmã Alicia. 

Questionada sobre a hipótese de o muro um dia desaparecer, Alicia disse que “ao longo de toda a História, já houve muitos muros e, mais cedo ou mais tarde, todos caem”.

“A História é mais sábia do que nós. A História tem paciência”, declarou. Reflectindo sobre o seu ministério voluntário de três meses em Bérgamo, Itália – local do convento da Congregação e lar de muitas Irmãs idosas – Alicia disse que sentiu não ter outra escolha a não ser ajudar a cuidar das Irmãs enfermas. Doze Irmãs morreram de Covid-19 nos primeiros meses da pandemia. Alicia chegou a 16 de Março e deixou a Itália três meses depois. 

“Sou enfermeira, por isso é que me ofereci. Perguntei: «O que posso fazer?»”, lembrou, explicando que a situação era muito confusa, dado o pouco se sabia sobre o vírus e respectivo tratamento. A Irmã disse que a pandemia é agora uma preocupação constante na Cisjordânia, embora Israel seja elogiado por controlar a pandemia através das fronteiras e já ter vacinado cerca de 40% da sua população. 

“A pandemia está sob controlo em Israel, mas está fora de controlo na Cisjordânia. As pessoas estão a lutar pela sobrevivência”, apontou, observando o acesso irregular aos cuidados de saúde nos territórios palestinianos. 
 

“Ao longo de toda a História, já houve muitos muros e, mais cedo ou mais tarde, todos caem.”

“As famílias palestinianas simplesmente não têm nenhum tipo de apoio social de momento”, disse Alicia, apesar de sentir alguma esperança por ver algumas movimentações no que diz respeito à vacinação dos Palestinianos. Organizações internacionais e israelenses de direitos humanos pediram vacinas generalizadas nas áreas palestinianas controladas por Israel e, no mês passado, Israel concordou em vacinar Palestinianos que cruzem a fronteira para trabalhar.

A Irmã Alicia afirmou que ela e a sua comunidade continuarão o trabalho em circunstâncias difíceis, até porque tão cedo não esperam paz entre Israelitas e Palestinianos. Tem uma visão a longo prazo, dizendo que é melhor ter esperança do que ser otimista. 

“Seria insuportável se eu não tivesse esperança. A esperança significa que a vida é mais forte do que a morte, estamos convencidas disso”, adiantou.

Muitas das 14 mulheres homenageadas são activistas dos direitos humanos, e aquelas que representam a África, Ásia, Europa e América Latina foram nomeadas “Mulheres de Coragem”. Além destas, sete mulheres afegãs assassinadas em 2020 devido ao seu activismo de direitos humanos também foram homenageadas. 

Este foi o 15º ano do prémio que o Departamento de Estado diz “reconhece mulheres de todo o mundo que demonstraram coragem e liderança excepcionais na defesa da paz, justiça, direitos humanos, igualdade de género e empoderamento das mulheres - muitas vezes com grande risco pessoal e sacrifício”.
 

Artigo de Chris Herlinger, publicado no La Croix International